Vitor Cunha
Desde as eleições europeias,
não há dia que passe sem alguém a procurar as virtudes do PAN para as copiar
para o seu próprio clube. Vai ser difícil encontrar algo repartível por todos
os partidos interessados: não só estes já possuem abundância de generalidades
como nenhuma das propostas sobrevive aos requisitos mínimos da lógica,
propósito e sentido de proporção. Todavia, dada a nova mania por profecias de
apocalipse por garotas expostas em instituições tornadas tendas de circo, o
mais certo é que toda a gente termine a declarar o amor incondicional a plantas
e ódio visceral ao dióxido de carbono que estas usam para oxigenar pessoas e
bichos (passe a redundância).
Não é que o ambiente não
necessite de cuidados: até precisa. Por exemplo, a Organização Mundial de Saúde
afirma que só em 2015 morreram 429.000 pessoas com malária, sendo que cerca de
70% destas mortes ocorreram a crianças de idade inferior a 5 anos. Não sei se
há uma quantidade certa de tofu que devemos comer para conter a epidemia de
malária, mas – e aqui assumo a minha discordância pela preservação de espécies
estúpidas – quanto mais tofu existir, mais eu posso usá-lo para esborrachar e
absorver ao mesmo tempo os estúpidos mosquitos.
A Avert diz que 3 em 4 das novas infecções
de SIDA na África subsaariana ocorrem em raparigas e jovens mulheres dos 15 aos
24 anos. Para evitar a repetição dos 380.000 mortos na região em 2017 com a
doença, qualquer um vê que o que é preciso é tornar obrigatórias as quotas
paritárias exigidas pelas feministas-missionárias para o parlamento português.
As tarifas proibitivas
impostas aos países em desenvolvimento que impedem as pessoas de se
estabelecerem, criando riqueza que lhes permitiria saírem de abjeta pobreza e
permitindo que o privilégio do “mercado livre” seja exclusivo da oligarquia
emergente da luta contra a “opressão colonial”, são, obviamente, combatidas
através da proibição internacional de palhinhas de plástico.
A erosão da costa, que coloca
em risco a casa do autarca nas dunas, é, como não teria de deixar de ser
combatida com políticas de supressão de açúcar nas dietas escolares: coma
quinoa, aumente o areal.
Assim sendo, não é de admirar
que aumente o interesse de todos pelo PAN: o planeta é só um, mas a distração
humana pelo mal dos outros origina múltiplas hipóteses para que cada um cultive
as suas alegres virtudes.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias,
1-6-2019
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-