Modalidade de crédito é a mais cara para as
famílias
Kelly Oliveira
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Foto: Marcello Casal/Agência Brasil |
O uso do cheque especial, modalidade
de crédito mais cara para as famílias, continua alto – mesmo após o anúncio da autorregulação, estratégia adotada por
bancos há pouco mais de um ano.
A medida entrou em vigor em
julho de 2018 e estabelece a oferta automática de parcelamento mais barato para
consumidores que usam mais de 15% do limite por 30 dias consecutivos.
A oferta é feita nos canais de
relacionamento e é o cliente quem decide se adere à proposta. Caso não aceite,
um novo contato é feito a cada 30 dias.
Números
De acordo com dados do Banco
Central (BC), em junho deste ano, o saldo do cheque especial (R$ 25,755
bilhões) representava 2,5% do crédito livre ofertado para as famílias (R$ 1,008
trilhão). Em junho de 2018, o percentual estava em 2,7%, com saldo do cheque
especial em R$ 23,970 bilhões.
No caso das concessões, o
cheque especial (R$ 30,885 bilhões) foi responsável por 18,4% do crédito
liberado pelos bancos para as famílias (R$168,2 bilhões) em junho deste ano. No
mesmo mês de 2018, o percentual era 20,4%, com concessões do cheque especial em
R$ 30,721 bilhões.
Já a taxa de juros subiu de 304,9% ao ano (12,4% ao mês) em junho de 2018
para 322,2% ao ano (12,8% ao mês) em junho deste ano – modalidade mais cara do
crédito livre, em que os bancos têm autonomia para emprestar o dinheiro captado
no mercado e definir as taxas de juros cobradas dos clientes.
Segundo o BC, o cheque
especial tem “participação modesta” na carteira de crédito total do sistema
bancário, mas foi responsável por aproximadamente 10% da margem de lucro de
juros líquida (descontada a provisão para inadimplência). Outro dado apontado
pelo estudo é que a maioria dos usuários do cheque especial pertence a uma faixa renda
mais baixa, de até dois salários mínimos.
Avaliação
Para o diretor da Associação
Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, as medidas de
autorregulação não atingiram o objetivo esperado, que era reduzir o uso do
cheque especial.
“Desde o início, eu dizia que
só iria funcionar se fosse obrigatório [o repasse da dívida para o crédito
pessoal com taxa menor]. Quando não é obrigatório, há comodismo tanto por parte
dos bancos, que recebem juros maiores, quanto dos clientes, que não vão em
busca de outra opção”, disse.
Oliveira acrescentou que,
antes, “o vilão” dos juros altos era o cartão de crédito, mas, com a
regulamentação imposta pelo governo, o líder em taxa de juros alta passou a ser
o cheque especial. No caso do cartão de crédito, o rotativo dura 30 dias. Após
esse prazo, as instituições financeiras têm que parcelar a dívida, o que é
feito com uma taxa menor.
A Federação Brasileira de
Bancos (Febraban) destaca que mais de 12 milhões de pessoas trocaram o cheque
especial pelo crédito parcelado no primeiro ano de vigência das novas regras.
Para Oliveira, parte desses 12
milhões de pessoas podem ter voltado a usar o cheque especial e outros clientes
podem ter caído na modalidade de crédito, já que o saldo e as concessões não
mostraram alterações significativas ao longo de um ano. “Se a taxa não fosse
tão alta, não seria um problema”, disse.
Segundo a Febraban, quem
migrou para a modalidade parcelada pagou juros menores. A taxa média paga por
quem optou pela mudança, em junho, passou de 12,48% ao mês (cheque especial)
para 3,09% ao mês (crédito parcelado), de acordo com levantamento feito pela
Febraban com 12 bancos que representam cerca de 90% do mercado brasileiro do
produto.
A pesquisa também mostrou que
os juros cobrados na linha de crédito alternativa caíram 13% ao longo dos 12
meses, de 3,54% ao mês para 3,09% ao mês.
Para o diretor de
Autorregulação da Febraban, Amaury Oliva, a medida tem balanço positivo após um
ano de vigência. “Um dos objetivos era incentivar o uso consciente do cheque
especial, destinado a situações emergenciais e por curto tempo. Os bancos
passaram a enviar alertas e a diferenciar o saldo do cliente e o limite do
cheque especial. Não havia um padrão entre os bancos”, destacou.
Oliva também destacou que os
clientes passaram a ter acesso facilitado a uma linha de crédito mais barata,
em alternativa ao cheque especial.
Procurado, o Banco Central
disse que não comentaria sobre o assunto.
Entenda
Pelas regras da
autorregulação, nos extratos bancários dos clientes, o saldo em conta deve ser
informado de forma separada do limite do cheque especial, para que o usuário
não confunda o valor do crédito como sendo saldo positivo da própria conta.
A iniciativa dos bancos também
estabeleceu que as instituições financeiras passassem a usar os canais de
relacionamento com o cliente, como internet e telefone, para alertar o
consumidor toda vez que ele entrar no cheque especial. No alerta, os bancos
informam que esse crédito deve ser utilizado em situações emergenciais e
temporárias.
Título e Texto: Kelly
Oliveira; Edição: Paula Laboissière – Agência Brasil, 3-8-2019
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