Quatro em cada dez jovens precisaram deixar
as salas de aula
Mariana Tokarnia
A necessidade de trabalhar é o
principal motivo apontado por jovens de 14 a 29 anos para abandonar os estudos,
de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua
Educação, divulgada hoje (15) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Aproximadamente quatro em cada dez jovens que não
concluíram o ensino médio precisaram deixar as salas de aula para trabalhar.
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Foto: Agência Brasil/Arquivo |
Segundo o IBGE, ao todo, no
Brasil, 20,2% dos jovens de 14 a 29 anos não completaram o ensino médio, seja
porque abandonaram a escola antes do término dessa etapa, seja porque nunca
chegaram a frequentá-la. Isso equivale a 10,1 milhões de jovens. A maior parte
é homem, o equivalente a 58,3%, e preta ou parda, o equivalente a 71,7% de
todos que não estavam estudando.
De acordo com o levantamento,
quando perguntados sobre o principal motivo de terem abandonado ou nunca
frequentado a escola, esses jovens apontaram a necessidade de trabalhar como
fator prioritário, resposta dada por 39,1% dos entrevistados. Considerando
apenas os homens, essa foi a resposta dada por 50% deles. Já entre as mulheres,
o percentual cai para 23,8%.
Para as mulheres, o principal
motivo, alegado por 24,1% é não ter interesse em estudar – entre os homens esse
percentual é 33%. Em seguida, para as mulheres, está a gravidez, de acordo com
23,8%. Precisar cuidar de pessoas ou dos afazeres domésticos é alegado como
motivo para 11,5% das mulheres deixarem os estudos. Entre os homens, esse é o
motivo para 0,7%.
Além disso, no total, 3,2% de
jovens em todo o país dizem que não havia escola, vaga ou turno desejado na
localidade onde vivem. Outros 3,7% deixaram os estudos por problemas de saúde
permanentes.
O levantamento foi feito no
segundo trimestre de 2019, portanto, de acordo com o IBGE, ainda não é possível
medir os impactos da pandemia do novo coronavírus. No entanto, os dados de
evasão podem ajudar no planejamento de políticas públicas para evitar que
estudantes abandonem os estudos.
No Brasil, de acordo com a
Emenda Constitucional 59/2009, a educação é obrigatória dos 4 aos 17 anos de
idade. O estudo do IBGE mostra que os maiores percentuais de abandono da escola
se deram nas faixas a partir dos 16 anos de idade, entre 15,8% e 18%. O
abandono precoce, ainda na idade do ensino fundamental, foi de 8,5% até os 13
anos e de 8,1% aos 14 anos.
“Esse padrão se mantém semelhante
entre homens e mulheres e entre as pessoas de cor branca e preta ou parda. Vale destacar que o grande marco da mudança foi
a idade de 15 anos que, em geral, é a de entrada no ensino médio. Nessa idade,
o percentual de jovens que abandonaram a escola quase duplica frente aos 14
anos de idade”, diz o relatório da Pnad Contínua Educação.
Idade certa
O estudo mostra que, nas
idades consideradas obrigatórias, aumentou a escolarização, ou seja, o
percentual da população matriculada na escola. Entre as crianças de 4 e 5 anos,
em 2018, 92,4% estavam na pré-escola. Em 2019, 92,9%. Entre aqueles de 6 a 14
anos, a taxa de escolarização passou de 99,3% para 99,7%. Entre os adolescentes
de 15 a 17 anos, passou de 88,2% para 89,2%.
Apesar de estarem na escola,
nem todas essas crianças e adolescentes estão matriculados nas séries em que
deveriam, seja por repetência, seja por outros motivos.
O levantamento mostra que o
atraso começa a se acentuar nos anos finais do ensino fundamental, etapa que
vai do 6º ao 9º ano. Em 2019, 12,5% das pessoas de 11 a 14 anos de idade já
estavam atrasadas em relação à etapa de ensino que deveriam estar cursando ou
não estavam na escola.
Dos 15 aos 17 anos, faixa
etária em que os estudantes deveriam estar no ensino médio, a situação se
agrava: 28,6% não estavam na série adequada. Essa taxa melhorou – em 2018, eram
30,7%.
“Nota-se que o atraso escolar
e, em menor importância, a evasão, já estavam presentes nos anos finais do
ensino fundamental. Isso significa que um grupo de crianças chega atrasado ao
ensino médio, ou mesmo deixa de estudar no fundamental. Em muitos casos, essa
situação pode vir a se intensificar na etapa escolar seguinte”, diz o estudo.
Sem trabalhar ou estudar
A pesquisa mostra ainda que,
do total de 46,9 milhões de pessoas de 15 a 29 anos de idade, pouco mais de um
em cada cinco jovens, 22,1%, não estavam ocupados nem estudando. Dos demais,
14,2% estavam ocupados e estudando; 28,1% não estavam ocupados, porém
estudavam; e, 35,6% estavam ocupados e não estudavam.
“É importante ressaltar que
elevar a instrução e a qualificação dos jovens é uma forma de combater a
expressiva desigualdade educacional do país. Além disso, especialmente em um contexto
econômico desfavorável, elevar a escolaridade dos jovens e ampliar sua
qualificação pode facilitar a inserção no mercado de trabalho, reduzir empregos
de baixa qualidade e a alta rotatividade”, afirma o IBGE.
Entre as mulheres, 27,5% não
estavam ocupadas, nem estudando ou se qualificando. Entre os homens, esse
percentual é menor, 16,6%. Na outra ponta, 14,6% dos homens e 13,8% das
mulheres trabalhavam e estudavam ou se qualificavam.
Título e Texto: Mariana
Tokarnia; Edição: Graça Adjuto – Agência Brasil, 15-7-2020, 10h03
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