sábado, 10 de agosto de 2024

[Aparecido rasga o verbo – Extra] E a morte súbita veio do céu

Aparecido Raimundo de Souza

SENHORAS E SENHORES, estamos em Vinhedo, região metropolitana de Campinas, exatos setenta e cinco quilômetros da capital São Paulo. Este lugar se fazia, até ontem, sexta-feira, 9, uma cidade que respirava tranquilidade, com suas ruas arborizadas e colinas ondulantes. Apesar do ocorrido, a localidade segue compondo um cenário de paz bucólica. No entanto, às 13h28, o ritmo sereno foi abruptamente interrompido por um desastre que, até o último segundo, parecia impensável para todos aqueles que vivem aqui. De repente, um rugido sinistro cortou o ar calmo desta localidade.

Um avião, saído de Cascavel, no Paraná, com destino a Guarulhos, decolou às 11h58. Ou, mais precisamente, um turboélice modelo ATR72-500 com capacidade para 74 passageiros, dos quais 68 assentos estavam ocupados. De repente, em uma trajetória considerada fatal, o gigantesco "asa de ferro" caiu em meio às verdes colinas do Condomínio Recanto Florido, no bairro Capela, localizado na Rua João Edueta, altura do número 2.500. Esta localidade, que sempre ofereceu um refúgio sereno para os habitantes locais, virou um inferno em chamas.

O impacto da aeronave contra o solo foi tão devastador que, em questão de minutos, uma nuvem de fumaça negra, seguida de um amontoado de destroços, tomou conta do local, transformando o que se via como um quadro de paz em um cenário de caos e tragédia indescritíveis. Os moradores, habituados ao conforto de suas rotinas, viram suas vidas virarem de cabeça para baixo. Em contínuo, a várias explosões, sons de sirenes e o movimento incessante de veículos de emergência — polícia militar, federal, guarda municipal e bombeiros, entre outros — substituíram o canto dos pássaros e o murmúrio dos ventos que até então preenchiam o ambiente, transformando-o em uma espécie de campo de desgraças e horrores.

As notícias se espalharam rapidamente, e o desamparo e o choque deram lugar a um pesar coletivo que uniu a comunidade em uma só dor compartilhada. A cena que vimos por aqui foi de partir o coração. Entre os escombros e os destroços, sessenta e oito vidas foram ceifadas abruptamente, formando uma realidade tida como a de um campo bombardeado, tamanha a brutalidade do acidente que se impôs cruelmente. Aqueles que conhecem a cidade ou que a enxergavam como um lar seguro se veem agora diante de uma tragédia que mais parecia um pesadelo.

Os rostos marcados pela perplexidade e a insanidade do luto se tornaram testemunhas silenciosas da fragilidade da vida e da força das circunstâncias imprevistas. Com o passar das horas, o trabalho das equipes de resgate e dos profissionais de saúde se tornou uma tarefa monumental. A cidade, que sempre se posicionou como um espaço de refúgio, se transformou em uma complexão de esforços incansáveis para entender e lidar com o ocorrido. As investigações começaram imediatamente.

Sem se preocuparem com as vidas ceifadas, em um piscar de olhos entraram em cena dois cabides de empregos como formigas chafurdando mel. Lembraram-me, em particular, porcos chafurdando em um enorme chiqueiro. Falo aqui, senhoras e senhores, de um cagalhão conhecido entre nós como ANAC, ou Agência Nacional de Aviação Civil. Essa infâmia, de braços dados com outra tranqueira, “siglada” com as iniciais CENIPA, ou Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, ambas mancomunadas com os militares do SERIPA 4, não passam, juntas, sem tirar nem pôr, de órgãos inoperantes, usque uma quadrilha organizada de hipócritas que cuida, em primeiro lugar, de recuperar as caixas pretas dos aviões sinistrados para, segundo eles, “começarem imediatamente os trabalhos de investigação.”

Investigação, diga-se de passagem, que não leva a nada, não se conclui porra nenhuma e, quando se conclui, o público “vaquinha de presépio,” ou a “ralé imbecilizada,” não toma conhecimento. Quantos aviões tiveram seus voos tragicamente interrompidos e o grande público jamais soube abertamente o que aconteceu na realidade? Só para ilustrar, vamos trazer à baila dois momentos importantes. O primeiro: a aeronave que transportava a família do Luciano Huck, fato ocorrido em 24 de maio de 2015. Alguém, por acaso, recorda? Vamos refrescar a memória. O Carajá PT-ENN, alugado pelo apresentador, fez um pouso forçado em Mato Grosso do Sul. Apesar da fama dos passageiros, nenhum desses cabides de emprego deu as caras ou mostrou as fuças.

O que o Brasil ficou sabendo é que o piloto, o comandante Osmar Frattini, foi considerado “CULPADO”, se viu sumariamente demitido e passou por privações financeiras. No Natal, o pobretão do Luciano precisou arrombar os cofrinhos dos filhos para mandar de presente para o herói que salvou sua família um panetone de um quilo. Vamos a mais um exemplo: em 5 de novembro de 2021, o avião da cantora Marília Mendonça saiu de Goiânia e se espatifou na cidade de Piedade de Caratinga, em Minas Gerais, motivado pelo fato de o Beech Aircraft King Air 90, prefixo PT-ONJ, ter se chocado com um dos cabos para-raios de linha (ou grosso modo, via aérea de transmissão de energia), ocasionando a morte de todos os ocupantes.

A Cemig, companhia de energia de Minas Gerais, como era de se esperar, tirou a bundinha da reta, não indenizou ninguém e colocou a culpa no piloto Geraldo Martins de Medeiros Júnior. O caso foi arquivado e tudo ficou em paz, como todas as falcatruas acontecidas no Castelo da Dinamarca. Em resumo, senhoras e senhores, esses acidentes aéreos e outros mais que virão, infelizmente, acreditem, seguirão sem respostas óbvias e concretas. O que manda por aqui e mundo afora é o vil metal, a bufunfa, o dinheiro, a grana, o faz-me-rir, as verdinhas, abraçados ou atarracados aos colhões da política nojenta dos togados da ANAC, do CENIPA, do SERIPA I, II, III, IV, etc...  e fim de papo.

Com isso, o desejo de respostas que acalenta os corações de todos, que apenas esbugalham os olhos, fica à revelia ao deus-dará de merda nenhuma. Essa cambada de debilóides busca respostas verdadeiras, fatos reais e NÃO COMPRADOS. Entretanto, todos esses malefícios, sem distinção, seguirão acontecendo cada vez mais brutalizados e fora dos controles da realidade. Por fim, como dissemos acima, a pacata Vinhedo se viu melindrada, ou dito de forma mais abrangente, ainda se vê abusada, vilipendiada. Não apenas pela dor, sobretudo pela solidariedade e pela resiliência, apesar dos poderosos darem o rabo para demonstrarem o contrário.

A cidade, com sua atmosfera normalmente tranquila e serena, apesar do quadro desolador, mostrou e, creio, seguirá bravateando uma força impressionante e descomunal ao lidar com a tragédia anunciada. Os moradores se uniram para oferecer apoio à massa que veio de longe para reconstruir o que foi destruído. A irmandade, como um todo, camuflou o pesadelo e a revolta em ação, provando que, mesmo diante da maior adversidade, a capacidade de se unir e apoiar uns aos outros pode ser uma fonte poderosa de esperança e renovação.

O desastre do turboélice da Voepass - deveria ser mudado imediatamente para “Voesempass.” O avião modelo ATR-72-500, até onde se sabe e o que todos viram por aqui, despencou sem explicação do lindo e majestoso céu de Vinhedo. Pelo sim, pelo não, tudo continuará sendo um lembrete cruel da imprevisibilidade da vida e da fragilidade dos nossos momentos mais tranquilos. No entanto, senhoras e senhores, resumindo todo esse quadro lastimoso e inesquecível, ele também servirá para revelar a força de uma confraria que, mesmo em face do inimaginável, encontrou a coragem robusta de se erguer e seguir em frente, carregando consigo a memória das vidas que se foram e a determinação ímpar de transformar o luto pesado em um novo (RE) COMEÇO.

Nossa homenagem sincera a todos os familiares dos passageiros que perderam a vida. Que o Altíssimo os acolha em sua Santa Misericórdia. 

ADRIANA SANTOS

ADRIANO DALUCA BUENO

ADRIELLE COSTA

ALIPIO SANTOS NETO

ANA CAROLINE REDIVO (formada em 2014 em administração na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Unioeste, atualmente trabalhava como nutricionista)

ANDRE MICHEL, de 62 anos (representante comercial, natural de Campo Bom, RS)

ANTONIO DEOCLIDES ZINU JUNIOR

ARIANNE RISSO (médica residente em oncologia no Hospital do Câncer de Cascavel)

DANIELA SCHULZ FODRA (fisiculturista e mulher do passageiro Hiales Carpini Fodra; morava em Naviraí, MS)

DANILO SANTOS ROMANO, de 35 anos (piloto do avião da Voepass; morava em São Paulo e trabalhava na companhia aérea desde 2022)

DÉBORA SOPER AVILA, de 29 anos (comissária de bordo do avião da Voepass; natural de Porto Alegre)

DENILDA ACORDI

DEONIR SECCO (professor do curso de engenharia agrícola no campus de Cascavel da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Unioeste)

DIOGO AVILA

EDILSON HOBOLD, de 52 anos (professor do curso de educação física no campus de Marechal Cândido Rondon Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Unioeste; atuou por muitos anos como árbitro de judô)

ELIANE ANDRADE FREIRE

GRACINDA MARINA CASTELO DA SILVA (professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná e mulher de Nélvio José Hubner)

HADASSA MARIA DA SILVA (formada em ciências contábeis no campus de Cascavel da Universidade Federal do Oeste do Paraná, Unioeste)

HIALES CARPINE FODRA, de 33 anos (policial rodoviário federal e marido de Daniela Schultz Fodra; nascido em Moreira Sales, PR, morava em Naviraí, MS)

HUMBERTO DE CAMPOS ALENCAR E SILVA, de 61 anos (copiloto do avião da Voepass)

IOSLAN PEREZ

ISABELLA SANTANA POZZUOLI

JOSÉ CARLOS COPETTI, de 45 anos (gerente de logística, morava em Jacareí, SP)

JOSÉ CLOVES ARRUDA, de 76 anos (aposentado e marido de Maria Auxiliadora Vaz de Arruda; morava em Guaratinguetá, SP)

JOSÉ ROBERTO LEONEL FERREIRA (médico radiologista do Hospital Policlínica de Cascavel e professor aposentado na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Unioeste)

JOSGLEIDYS GONZALEZ

KHARINE GAVLIK PESSOA ZINI

LAIANA VASATTA (advogada)

LEONARDO HENRIQUE DA SILVA

LIZ IBBA DOS SANTOS, de 3 anos (filha do passageiro Rafael Fernando dos Santos, morava em Florianópolis)

LUCAS FELIPE COSTA CAMARGO

LUCIANI CAVALCANTI

LUCIANO TRINDADE ALVES

MARIA AUXILIADORA VAZ DE ARRUDA, de 74 anos (aposentada e mulher de José Cloves Arruda; morava em Guaratinguetá)

MARIA PARRA

MARIA VALDETE BARTNIK

MARIANA BELIM (médica residente em oncologia no Hospital do Câncer de Cascavel e intensivista na UTI adulta do Hospital Universitário do Oeste do Paraná, HUOP)

MAURO BEDIN

MAURO SGUARIZI

MIGUEL ARCANJO RODRIDUES JUNIOR

NÉLVIO JOSÉ HUBNER (procurador muncipal em Toledo-PR e marido de Gracinda Marina Castelo da Silva)

PAULO ALVES

PEDRO GUSSO DO NASCIMENTO

RAFAEL ALVES

RAFAEL FERNANDO DOS SANTOS, de 41 anos (programador e pai da menina de Liz Ibba dos Santos, de 3 anos; morava em Florianópolis)

RAPHAEL BOHNE (empresário nascido em Fortaleza)

RAQUEL RIBEIRO MOREIRA (professora de pós-graduação em letras na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Unioeste)

REGICLAUDIO FREITAS (empresário nascido em Limoeiro do Norte, CE)

RENATO BARTNIK

RENATO LIMA

RONALDO CAVALIERE, de 43 anos (representante comercial, morava em Maceió)

ROSANA SANTOS XAVIER

ROSANGELA MARIA DEOLIVEIRA

ROSANGELA SOUZA

RUBIA SILVA DE LIMA, de 41 anos (comissária de bordo do avião da Voepass; trabalhava na companhia aérea havia 14 anos e morava em Ribeirão Preto, SP)

SARAH SELLALANGER (pediatra, atendia no pronto-socorro do Hospital Universitário do Oeste do Paraná, HUOP)

SILVIA CRISTINA OSAKI (veterinária e professora da Universidade Federal do Paraná-UFPR, onde dava aulas desde 2009)

SIMONE MIRIAN RIZENTAL

THIAGO ALMEIDA PAULA (representante comercial; nascido no Ceará, morava em Mossoró, RN)

TIAGO AZEVEDO

WLISSES OLIVEIRA (empresário nascido em Fortaleza)

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Vinhedo e Campinas, interior de São Paulo, 10-8-2024

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2 comentários:

  1. O texto publicado acima de Aparecido Raimundo de Souza, é uma narrativa detalhada e emocional sobre o trágico acidente aéreo acontecido aqui na pacata e serena Vinhedo, com uma crítica contundente aos órgãos responsáveis pelas investigações e à falta de transparência nos processos de apuração de acidentes. Quanto a isso, uma lástima.
    O autor descreve a cidade de Vinhedo como um lugar pacífico, que foi abruptamente transformado em um cenário de caos e desolação devido à queda do fatídico turboélice. Ele destaca o impacto devastador do ocorrido e a resposta imediata das equipes de resgate, contrastando com a sensação de impotência e frustração causadas pela falta de respostas concretas e a transparência capenga por parte de órgãos como a ANAC e o CENIPA e outras arapucas tratadas pelas autoridades como entidades sérias. Na verdade, cá entre nós, cabides de empregos. Servem apenas, essas ratoeiras, para aparecerem na mídia. De real... um tremendo pé na consciência e no coração dos que partiram para morar com o Pai Celestial.
    A crítica ao sistema de investigação em face disso, é feroz, com uma abordagem cética sobre a eficiência desses órgãos e uma indignação explícita sobre como os acidentes aéreos são tratados, mencionando casos passados como o do avião de Luciano Huck e o ainda recente com cantora sertaneja Marília Mendonça para ilustrar a falta de responsabilização.
    Apesar do luto e da dor evidentes na comunidade, o texto ressalta também a resiliência dos moradores de Vinhedo, que se uniram em tempo recorde para apoiarem uns aos outros e reconstruírem o que foi perdido, destacando a força da solidariedade humana em momentos de crise.
    A conclusão do texto é mais branda. O escritor presta uma homenagem às vítimas e suas famílias, e um apelo para que a comunidade encontre força e renovação, transformando a tragédia em um ponto de partida para um novo começo. Ou melhor, para um 'recomeço' que a meu ver, depois de tudo o que estou vendo aqui... e ainda certamente verei em outros do mesmo porte, por muitos e muitos anos ficarão na lembrança de todos os moradores e demais envolvidos. Resumindo, o avião sinistrado entrou no que a galera entendida em desastres aéreos chama de boca arreganhada e seus dentes careados, de ‘Parafuso chato.’
    Carina Bratt
    Da Cidade de Vinhedo, interior de São Paulo

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