M. Jorge C. Castela
Num texto publicado no ARKTOS JOURNAL, em 26 de novembro de 2023, Alexandr Dugin [imagem], refletindo sobre o “Realismo nas Relações Internacionais”, ao alicerçar a sua posição nesta cadente matéria, discute o mundo multipolar emergente (com um polo “euroasiático”, centrado na Rússia), destacando os caminhos ideológicos e civilizacionais distintivos de várias regiões globais em oposição ao paradigma unipolar, com polo “euroatlantista”, ocidental, centrado nos EUA.
Classicamente, nas teses
“realistas” prevalece um entendimento de que a natureza humana é
intrinsecamente equivocada ou com defeitos congênitos (na linha do legado
pessimista antropológico de Hobbes, e com eco nas noções cristãs da “queda em
desgraça” – lapsus em latim, “flawed” no léxico anglo-saxônico),
que não é susceptível, no seu essencial, de ser corrigida, porquanto, atenta a
natureza egoísta, predatória e violenta que as condutas humanas podem revestir,
são inerradicáveis.
A partir daí, com cobertura
nestas teses, conclui-se que somente um Estado forte pode restringir e
organizar os humanos (que, segundo Hobbes, “são lobos uns para os outros”)
– um estado inevitável, como titular de um poder que projeta tal natureza
predatória e egoísta dos seus súditos, com interesses próprios e com uma
vontade de violência e a ganância que tornam a guerra sempre possível.
Para os filósofos que se
filiam nestas teses “realistas”, as relações internacionais, em conformidade,
basear-se-iam na criação de equilíbrios de poder entre entidades plenamente
soberanas.
Não poderia existir uma “ordem
mundial de longo prazo”, apenas subsistiria o “caos”, que mudaria à medida que
alguns estados enfraquecem e outros se fortalecem. “Caos” que, nesta teoria,
não seria uma expressão com uma carga necessariamente negativa, apenas uma
declaração sobre uma determinada situação factual, associada ao conceito de
Soberania.
A existirem vários Estados verdadeiramente “soberanos”, nenhuma “ordem supranacional poderia ser estabelecida e à qual todos obedeceriam. A existir tal “ordem”, a “soberania” nunca seria plena, o que, em termos práticos, não existiria, de facto, e a própria entidade supranacional seria o único “soberano”.
Uma Tese Globalista que,
fundada nesta escola, foi desenvolvida nos EUA, desde os trabalhos sobre a
matéria, de que foram protagonistas autores norte-americanos, como seus
fundadores Hans Morgenthau e George Kennan, mas também o britânico Edward Carr,
que, todavia, foi conhecendo desvios nos campos que navegam em torno do “liberal
progressivism”.
Para estes globalistas,
progressistas, prevalecem as noções do ser humano como uma “tábua rasa” (blank
slate), de “pacifismo” (decorrente da moralidade kantiana, da razão
prática, e da sua universalidade), tentando fazer crer que as pessoas podem ser
mudadas através da “reeducação” pelo Estado diretor, que transformaria o
“egoísta predatório” num “altruísta racional e tolerante”, de acordo com os
padrões que seriam ditados por esse Estado, “social”, protetor e “progressista”
(leia-se “Wokista”), que entende que o “lobo” pode ser domesticado ao se
submeter a uma “lavagem cerebral” onde inscreveriam comportamentos sobre a sua
“lousa em branco”, até que estivessem criadas as condições para que esse mesmo
Estado desaparecesse para dar lugar a um Poder Globalista, ditado pelas suas
elites, onde as “democracias não lutam entre si”, mas em que abdicariam
das suas Soberanias Nacionais para darem lugar a um “governo mundial”.
Uma tal abolição gradual dos
Estados, seria assim um “progresso incondicional e irreversível” – uma lógica
que o Politburo de Bruxelas impõe à sua “união europeia”, e que os mais
notoriamente assumidos globalistas norte-americanos (entre os quais se destacam,
hoje, Joe Biden, Barack Obama, ou o inevitável, “inefável” e onipresente em
todas ações globalistas-wokistas, promotor da “sociedade aberta”, George Soros)
não escondem que no decurso desta estratégia “progressista” o epicentro deste
“governo mundial” estaria uma “ONU”, determinado pelos valores “liberal progressive”, numa
autoproclamada “Liga das democracias” composta pelos seus obedientes
“satélites”, que mudariam a própria natureza do homem, que já não seria nem
“homem, ou mulher”, mas algo ditado pelas suas ideologias de gênero.
Outra direção filosófica que
se afirmou nas relações internacionais acompanha as teses marxistas.
Aqui, o “marxismo” não é
exatamente o que constituiu o núcleo da política externa da ex-URSS.
Esward Hallett Carr, um
realista clássico nas relações internacionais, demonstrou de forma ilustrada,
que a política externa da URSS – especialmente sob Estaline – foi construída
sobre os princípios do “puro realismo”.
Os passos práticos de Estaline
se basearam no princípio da plena soberania, que ele associou não tanto ao
Estado nacional, mas ao seu “Império vermelho” e aos seus interesses.
Este “marxismo nas relações
internacionais” conhece a sua principal expressão nas teses do trotskismo e nas
“teorias do sistema mundial” de Immanuel Wallerstein (famosos nos “movimentos
contra o aquecimento global” e nos militantes “climáximos”, “apanhados da crise
climática”), um “realismo idealista proletário”, em que o mundo é apresentado
como una “zona única de progresso social”, sem fronteiras ou Soberania, onde o
sistema capitalista estaria destinado a se tornar gobal, caminhando para a
criação de um “governo mundial” sob a
hegemonia do “Capital Global Internacional por natureza”.
Uma nuance das teses “liberal
progressives”, onde ambas militam no entendimento que a “essência do ser
humano depende da sociedade”, ou, mais precisamente, da “relação com a
propriedade dos meios de produção”, organizando-se a natureza humana em
“classes” em “causa fraturantes”, onde os indivíduos não vivem e pensam como
pessoas; mas onde é a “classe que vive e pensa através deles, na crença que as
“contradições de classe” atingirão o seu ápice e ocorrerá uma “revolução
mundial”, numa versão alternativa e de “esquerda” do Nacional-Socialismo,
adaptada às teses wokistas de fomento das migrações em massa, das
ideologias de gênero e de vazios “direitos humanos” para todos os tipos de
minorias, espacialmente as sexuais, para completar a sua missão de destruir
Estados e abolir Soberanias Nacionais.
Ademais, como se vem
evidenciando e demonstrando, quer no EXÓRDIO, quer, com maior desenvolvimento
no CAPÍTULO II, maxime Pontos 1 a 4, as fronteiras
entre o “liberal progressivism” e o “marxismo” são cada vez mais tênues e
difusas.
O pouco à vontade com que,
aliás, os atuais assumidos seguidores de teses marxistas se identificam como
tal (por óbvias razões de decoro e de percepção que não lhes “rende votos”),
levam a que muitos dos seus protagonistas optem por se apresentar como “liberal
progressives”, “aceleracionistas” e, mesmo com despudor, “Globalistas” –
afinal, este “marxismo” contemporâneo é, assumida e predominantemente, liberal
progressive, globalista e “aceleracionista”.
Título e Texto: M. Jorge C.
Castela, in “Rússia versus Ucrânia – Nacionalismo versus Globalismo
– Factos versus Propaganda”, páginas 556 a 560.
Digitação: JP, 11-9-2024
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