segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Olavo de Carvalho: a USP e a Folha


Aluísio Amorim
Capa da Folha de S.Paulo, 13-11-2011
A Folha de S. Paulo publica neste domingo artigo do filósofo e jornalista Olavo de Carvalho que, ao final, critica o próprio jornal. O artigo, que reproduzo após este prólogo, faz um inventário histórico, sociológico e político sintético e absolutamente correto procurando explicar, ou tentar explicar, aquilo que salta aos olhos dos que têm um pingo de inteligência como algo inexplicável. Espalham-se pelo mundo revoltas sem causa. Poder-se-ia afirmar que seriam legítimas as revoltas nos países árabes dominados por ditaduras truculentas. Entretanto, parece que no lugar das antigas ditaduras os islâmicos preparam o caminho para a implantação de ditaduras teocráticas. E o mais curioso é que esses levantes, todos de conteúdo islâmico, têm o apoio acrítico irrestrito de indignados e partidos esquerdistas do mundo ocidental.

No caso brasileiro, o que houve recentemente na USP é algo inconcebível e que não encontra motivo plausível de nenhuma forma. O artigo de Olavo de Carvalho tenta justamente responder a esses fatos inexplicáveis.

Se a Folha de S. Paulo publicou o artigo de Olavo o faz não por concordar com ele, mas em consonância com sua apregoada linha editorial dita libertária e multi-ideológica. 

Bobagem. Quem acompanha esse jornal constata o seu viés esquerdista e politicamente correto, característica aliás de toda a grande imprensa brasileira, com exceção da revista Veja.

O pretenso pluralismo editorial da Folha não a absolve. Isto porque esta seção de opinião que abriga hoje o artigo de Olavo de Carvalho, amanhã poderá conter um texto fascista do MST. Essa tolerância supostamente democrática e elegante em relação às facções e partidos antidemocráticos é mortal para a democracia e à própria liberdade de imprensa. Haja vista as seguidas tentativas do PT de impor o controle da mídia, eufemismo para a censura à imprensa pura e simples.

Oxalá a Folha contratasse Olavo de Carvalho como articulista permanente. Transcrevo na íntegra o artigo que tem por título "A USP e a Folha". Leiam:

Nos anos 1930-1940, quando a USP ainda estava se constituindo administrativamente e o espírito dessa comunidade se condensava na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, a luta dos estudantes contra a ditadura getulista expressa o anseio de uma ordem constitucional democrática, como viria a ser proposta consensualmente em 1945 pelas duas alas da UDN, o conservadorismo cristão e a esquerda democrática.O suicídio de Getulio Vargas e o recrudescimento espetacular do getulismo na década seguinte afetam profundamente a mentalidade uspiana, que, num giro de 180 graus, adere ao discurso nacional-progressista, em que a ênfase já não cai no culto das liberdades democráticas, mas nos programas sociais nominalmente destinados a erradicar a pobreza, ainda que ao custo do intervencionismo estatal crescente.

Surge nessa época o mito da “camada mais esclarecida da população”, que, se conferia aos estudantes o estatuto de guias iluminados da massa ignara, ao menos lhes infundia algum senso de gratidão e de responsabilidade.

Nos anos 1960, o nacional-progressismo uspiano transmuta-se em marxismo explícito, com a adesão maciça do estudantado à revolução continental orquestrada em Cuba.

As correntes liberais e democráticas desaparecem, só restando, como simulacro de pluralismo, as divisões internas do movimento comunista: stalinistas, trotskistas, maoístas etc.

Nas duas décadas seguintes, a esquerda internacional, sob a inspiração da “New Left” americana (herdeira da Escola de Frankfurt), vai abandonando as formulações marxistas dogmáticas para ampliar a base social do movimento, absorvendo como forças revolucionárias todas as insatisfações subjetivas de ordem racial, familiar, sexual etc., muitas das quais a alta hierarquia comunista condenava como irracionalistas e pequeno-burguesas.

Ao mesmo tempo, no Brasil, a derrota das guerrilhas abre caminho à adoção da estratégia gramsciana, que integra como instrumentos de guerra cultural o “sex lib”, a apologia das drogas e a legitimação da criminalidade como expressão do “grito dos oprimidos”.

O fracasso do modelo soviético acentua ainda a flexibilização do movimento revolucionário, com o abandono da hierarquia vertical e a adoção do modelo organizacional em “redes”.

Bilionários globalistas passam a patrocinar movimentos esquerdistas por toda parte, de modo que rapidamente o discurso agora chamado “politicamente correto” se erige em opinião dominante, inibindo e marginalizando toda oposição conservadora ou religiosa, que se refugia em grupos minoritários cada vez mais desnorteados ou entre as camadas sociais mais pobres, desprovidas de canais de expressão.

Os efeitos desse processo na alma uspiana foram profundos e avassaladores: consagrados como representantes máximos do novo ethos global, os estudantes já não têm satisfações a prestar senão a seus próprios impulsos e desejos.

O jovem radical ególatra, presunçoso e insolente, a quem todos os crimes são permitidos sob pretextos cada vez mais charmosos, tornou-se o modelo e juiz da conduta humana, a autoridade moral suprema a quem o próprio consenso da mídia e do establishment não ousa contrariar de frente, sob pena de se autocondenar como reacionário, fascista, assassino de gays, negros e mulheres etc. etc. etc.

Há quem reclame dos “excessos” cometidos por aqueles jovens, mas a expressão mesma denota a queixa puramente quantitativa, a timidez mortal de contestar na base uma ideologia de fundo que é, em essência, a mesma de deputados e senadores, professores e reitores, ministros de Estado e empresários de mídia -a ideologia de todo o establishment, de todas as pessoas chiques.

A ideologia, em suma, da própria Folha de S. Paulo.
Olavo de Carvalho, Folha de São Paulo, 13-11-2011
Prólogo de Aluízio Amorim, publicado originalmente no seu blogue, 13-11-2011
Colaboração: Gracialavida

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