segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

E se se preocupassem com o porco?


Ana Sá Lopes
E se o sistema médico-social tivesse sido tomado de assalto por vegetarianos?

O tabaco nunca fez bem a ninguém. Como o álcool, a banha, o sal, os rojões e praticamente toda a comida regional portuguesa a boiar em gordura de porco. Para azar de uns quantos, a moral médico-social vigente dirigiu a luta armada e a exultação punitiva para os malefícios do tabaco e não para os danos e prejuízos da gordura de porco.

É uma pena que o sistema médico-social em vigor não tenha sido tomado de assalto por vegetarianos obsessivos, daqueles que invocam que comer carne está na origem de quase todas as doenças arroladas no Simposium. O passo seguinte obrigatório seria o encerramento compulsivo dos talhos, ou a sua obrigatória reconversão em lojas de soja e tofu. A gordura animal seria banida à força e provavelmente o país abandonaria a linha da frente nos rankings de acidentes cardiovasculares.

Por alguma razão ninguém toca no porco. Não se proibem as famílias de dar quantidades inimagináveis de gordura às crianças e aos adolescentes. O porco é de venda livre, mesmo a menores de 18 anos, e faz parte das ementas infantis dos restaurantes e das cantinas públicas. As criancinhas de seis anos podem adquirir banha no supermercado! Incrível, não é?

Em contraste com a extraordinária protecção com que o porco é tratado pelos legisladores, o tabaco vai ser novamente alvo do ataque do governo, concertado com os porta-estandartes do conceito actual de “saúde”, que é uma coisa, de resto, excessivamente variável e que tende a mudar os seus fundamentos a cada 15 anos – é divertido comparar as normas pediátricas em vigor de ano para ano para ter uma ideia.

A mais recente proposta anti-tabaco passa agora por banir completamente o direito a fumar nos lugares públicos para, imagine-se, tornar a nossa legislação parecida com a que vigora no estado de Nova Iorque. A ideia de que isto é um assalto à restauração (para não falar de uma violação do direito de um fumador a jantar fora) não passou, pelos vistos, pela confraria anti-tabagista.

Os proprietários de restaurantes investiram imenso dinheiro há muito pouco tempo para adaptar as suas instalações à nova lei. No meio de uma crise terrível, com as consequências do aumento do IVA para 23% ainda por identificar, o governo decidiu agora que o dinheiro que os donos dos restaurantes e bares gastaram em alterações por causa da lei foi deitado à rua e que mais lhes valia terem estado quietos. Agora, vem aí uma nova lei para mudar tudo outra vez. Preocupem-se com o porco, senhores. Há uma quantidade de gente indefesa a enfiar quantidades inenarráveis de gordura no sangue. Alguns de vós, provavelmente.
Título e Texto: Ana Sá Lopes, jornal "i", 09-01-2012

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