Acordo Varig/Aerus e os bodes de matadouro

Marcelo Lins

Já se passou a primeira semana de novembro e nenhum pagamento dos demitidos, aposentados e pensionistas no correlato caso Varig/Aerus. De concreto, além de cabeceiras de algumas pistas nos aeroportos brasileiros lotados, sem conforto e estrutura, só as velhas promessas desgastadas e desacreditadas de um acordo, que os que ainda permanecem vivos ouvem há mais de 7 anos. A cor-do-dinheiro devido, até agora, absolutamente nada! Só sinalizações que nunca chegaram a iluminar a solução para este grande problema social que se arrasta e que poderia ter sido resolvido definitivamente em 2006 se não tivesse sido sabotado pela pelegada sindical em conluio com seus patrões de Brasília.

“Governo tem responsabilidade pela crise” (sobre a Varig) escreveu Carlos Lessa economista, professor titular do Instituto de Economia da UFRJ. Foi reitor da UFRJ e presidente do BNDES em artigo especial para Folha de S. Paulo - Dinheiro em 13/04/2006.

O jornalista Luis Nassif no artigo “A imolação da Varig” escrito em 14/4/2006 para o jornal “O Dia” apontava os quatro enganos e concluiu: ”por isso mesmo, não era hora de a Secretaria de Previdência Complementar intervir no fundo Aerus, o grande instrumento de que dispunham os funcionários para impedir o fim da companhia”.

Até o porteiro do edifício da Avenida Franklin Roosevelt, 194, sabe que qualquer coisa que não for resolvida até o final de novembro ficará só para depois do Carnaval. Talvez só não saibam disso alguns crédulos, otimistas, novatos, e aqueles que nunca sabem de nada porque sempre viajaram de “extra sem contar”.

O Brasil para literalmente neste período! Recesso no Judiciário, Legislativo e no Executivo, apenas aquelas canetadas no apagar das luzes com nomeações nebulosas. Surgem os conhecidos “Trens da Alegria” onde são embarcados alguns “companheiros” por serviços prestados. Os menos desavisados conhecem muito bem que serviços prestados são estes na “República de Pelegos”. Para a classe trabalhadora e aposentados a única coisa a esperar é o aumento de impostos e de tarifas. Pacote de bondades nem nos melhores sonhos e pedidos ao Papai Noel no mês de dezembro.

Terminado o Carnaval, vem a Copa do Mundo que desta vez se realizará no Brasil. No país do Carnaval e do Futebol nem precisa ter amigos em Brasília e ouvir as paredes do Congresso Nacional, para saber o que vai acontecer: Absolutamente nada! Nem adianta apelar para o coelhinho da Páscoa.

Depois vamos ter as campanhas para as eleições majoritárias! Alguma dúvida que vamos ser bombardeados por mais promessas e conversas moles em produções mal feitas, tipo “Big Brothers” de quinta categoria, de conteúdo vazio, com caráter unicamente auto-promocional?

Verdadeiras óperas bufas de péssima qualidade, sem criatividade, elaboradas com o fito único de servir como ferramenta eleitoreira para alavancar algumas candidaturas. E assim também se gasta o dinheiro do imposto sindical contratando alguma “empresa” de companheiro e/ou alguma “consultoria“; e, quem sabe?, ainda sobre algum “mensalinho”. (Caixa 2 de Campanha como preferem chamar esta pouca vergonha).

Talvez nas próximas produções venham alegar que em ano eleitoral existem prazos para liberação de verbas e por isso mesmo que as promessas não poderão ser cumpridas, ou algum outro bode expiatório apareça na tentativa para sustentar o blefe.

Até o presente momento o conhecido roteiro no meio acadêmico e empresarial do golpe sujo e trapaças em um acordo, dos quais já escrevi sobre este assunto, com o título “Negociar é Preciso - Parte IV - Táticas Escusas e os Truques Sujos” vem sendo cumprido à risca. Mas que ninguém estranhe se depois de tudo não solucionado alguém vier salientar que “as conversas foram produtivas”, ”foi sinalizado”, ”estamos otimistas”, “continuaremos em Brasília” e aparecer ao lado de qualquer autoridade em fotografia, para se vangloriar de possuir amizades no Poder. Aí de novo é retomada a falácia de que o governo está empenhado, e que para o próximo ano… blá-blá-blá e tome mais conversa mole… e então se finaliza com um alerta que isso só irá acontecer se ganharem as eleições, pois qualquer outro grupo pode pôr em risco o tal “acordo”.

Os envolvidos no escândalo da Ação Penal 470 (mensalão) e na “quebra da Varig” fazem parte da mesma força política que nos últimos três mandatos governam o país. São os personagens do mesmo grupo que estarão disputando algum cargo eletivo e pedindo o nosso voto.

São sabedores que a esmagadora maioria prefere ouvir mentiras e ilusões reconfortantes que verdades inconvenientes.

Com uma ou outra variação de novatos entusiastas ou neo-pelegos, os atores sindicalistas são os mesmos que sempre agiram tal qual bode traidor no matadouro.

”O bode é um animal mais esperto que o carneiro. Fiel ao mestre Judas, o bode conduz o rebanho ao matadouro que inocentemente, o segue, depositando toda sua fé e confiança. Chegando ao matadouro, o bode é liberado para trazer outro rebanho de carneiros para ser morto”.

Todos devem se lembrar e saber o que aconteceu com a Transbrasil, Vasp e a enorme briga dos trabalhadores da Varig para tentar salvar a empresa enquanto a direção Executiva Sindical trabalhou muito atrapalhando diuturnamente para que a recuperação da Varig não desse certo. Fizeram tanto, que conseguiram!

Depois veio a Webjet e quais serão as próximas vítimas que os bodes vão levar para o matadouro? As consequências para os ex-funcionários da Varig aí estão! Quem recentemente esteve na sede do SNA, na reunião para que se avançasse a nomeação do Comandante Alexandre Freysleben para representante para a Classe I, constatou e viu perfeitamente com os próprios olhos o modus operandi da pelegada.

Reproduzo parte do texto da Jornalista Consuelo Rodriguez para a revista Piauí com o título: “Como a Varig Quebrou”.

(...) Houve uma reunião no Planalto com o presidente Lula e os principais credores – Banco do Brasil, Infraero e Petrobras Distribuidora -, para que o plano fosse apresentado. O Banco do Brasil e a Infraero concordaram com o acordo. O então presidente da Petrobrás Distribuidora, Rodolfo Landim,com o apoio da ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, não aceitou. Landim disse que continuaria exigindo que a Varig pagasse o combustível antecipado. (...) Landim foi procurado por representantes da Varig que lhe pediram para continuar fornecendo combustível sem pagamento prévio. Uma das garantias que eles ofereciam eram os recursos da ação de defasagem tarifária do Plano Cruzado, que eles acreditavam ser votada logo pelo Supremo Tribunal Federal. Por ser tratar de uma dívida do Tesouro, Landim, por intermédio da ministra Dilma Rousseff, pediu uma reunião com os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Casa Civil, José Dirceu. Landim perguntou a eles se era viável aceitar a ação da defasagem tarifária como garantia. A resposta de Palocci foi: “Landim, nós vamos recorrer dessa ação até a última instância. Não faremos acordo nenhum em torno desse assunto com a Varig”.

Por uma coincidência do destino ou não, quem levou Dilma Roussef para o Governo Lula foi Antônio Palocci.

É bom também relembrar que a Diretoria Executiva do SNA informou enfaticamente em seus boletins para que todos ficassem tranquilos porque “o AERUS tem seus mecanismos próprios de proteção” bem como o escrito no Boletim Eletrônico do SNA de 13/04/2006:

“O SNA considera que a intervenção/liquidação foi um instrumento para proteger o interesse dos beneficiários do Aerus, um instrumento da Secretaria de Previdência Complementar (SPC) objetivando garantir aos interesses dos milhares de beneficiários do Aerus. O SNA informa aos participantes que tal situação pode ser revertida, no momento em que a empresa voltar a honrar com os compromissos pactuados com o fundo de pensão... por fim a diretoria do SNA permanece em Brasília, mantendo contatos com autoridades do governo federal...”

Um pouco de História faz bem para a memória.

Daí a importância de conhecer a História para não se acreditar em estórias.

Desta forma a verdade prevalece. E para a verdade prevalecer antes de tudo é preciso que ela seja dita.

Quem não os conheça que os compre!

Título e Texto: Marcelo Lins, ex-vice presidente da Apvar, atualmente expatriado, 09-11-2013, Apvar – Associação dos Pilotos da Varig