Luís Pais Antunes
Poucos dias após a
apresentação da proposta de lei do Orçamento do Estado para 2015 e passado
aquele "entusiasmo inicial" sobre as eventuais novidades do último
ano de mandato do actual governo, as atenções parecem estar voltadas para todo
o lado menos para as coisas verdadeiramente importantes.
Discutem-se cenários
eleitorais, antecipam-se virtudes e desconfortos de eventuais alianças à
direita e à esquerda, "trocam-se cromos" sobre putativos candidatos à
Presidência da República em 2016, escreve-se sobre auroras radiosas e ocasos
tristes, mas pouco ou nada se diz sobre os problemas em aberto e as possíveis
soluções a adoptar para os enfrentar.
Enquanto cidadão e eleitor,
gostava de saber o que pensam, em concreto, as principais forças políticas e os
seus responsáveis sobre os grandes desafios que temos pela frente: o
financiamento dos sistemas de saúde e de segurança social; a sustentabilidade
das nossas finanças públicas e o insustentável peso da dívida; a evolução da
política fiscal para as famílias e para as empresas; as reformas do Estado e do
sistema político. Há certamente outras questões relevantes que justificam a
atenção dos agentes políticos, mas não quero ser demasiado exigente: já me dava
por muito satisfeito se conseguisse ter uma ideia aproximada das soluções que
cada um defende. Não meras proclamações de intenções ou tiradas mais ou menos
jocosas sobre o que o "outro" propõe. Refiro-me a um rumo claro,
medidas quantificáveis e resultados esperados.
Por muitas críticas que possam
merecer os caminhos que vêm sendo trilhados pela actual maioria - e algumas são
bem certeiras - conseguimos antever aquilo que nos é proposto, pelo menos
nalguns dos aspectos que acima mencionei. Podemos discordar, mas conseguimos
perceber. Podemos não gostar, mas ao menos sabemos do que é que não gostamos e,
se for o caso, contrapor outros caminhos.
O recente debate parlamentar
sobre a renegociação da dívida trouxe ao de cima o pior dos cenários: um
partido que aspira a ser de novo governo, muito em breve, pouco mais tem para
oferecer do que um novo debate sobre o tema… Pior. Confrontado com o silêncio
socialista sobre quase tudo o que é verdadeiramente importante, o novo líder da
respectiva bancada no Parlamento, Ferro Rodrigues, limitou-se a atirar um
lacónico "são tudo questões prematuras neste momento".
Por muito que o pragmatismo e
o calculismo se venham afirmando como o alfa e o ómega da actividade política,
há limites para aquilo que é aceitável. As pessoas têm o direito de saber qual
o caminho que lhes é proposto para resolver as dificuldades com que já hoje se
defrontam e que estão na base dos muitos sacrifícios que têm sido chamadas a
fazer e que vão ter de continuar a fazer. Os agentes políticos têm o dever de
ser claros nas soluções que propõem, assumi-las, quantificá-las e
fundamentá-las.
Não há respostas prematuras a
questões prementes…
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