sábado, 15 de novembro de 2014

O que aconteceria se Rachel Sheherazade fosse uma repórter petista?

Luciano Henrique

A censura de mídia viola o direito mais básico do cidadão ter direito à informação sem que o governo tenha atuado para definir o que pode ou não ser publicado ou divulgado. Essa é a verdeira liberdade de imprensa. Ela inclui tanto o direito do cidadão ser servido de informações livres, assim como das empresas terem o direito de atuar livremente. E por isso qualquer pessoa intelectualmente honesta entende “sem intervenção do governo”.

Quando nós vemos Rachel Sheherazade ser proibida de opinar na televisão e somos proibidos de assistir seus comentários, não por decisão espontânea do SBT, mas por pressão de pessoas ligadas ao governo do PT, estamos sendo violentamente atacados em nosso direito à liberdade de imprensa. Isto no nível mais fundamental: o do direito do cidadão não ter suas informações selecionadas a partir de pressão estatal.

Muitos do nosso lado têm tido extrema dificuldade em entender o quanto isso é crítico. Ao não tratarmos essa questão como uma das mais prioritárias, permitimos que o governo petista grave no inconsciente coletivo a mensagem poderosíssima dizendo que é “normal que o governo transforme o nosso dinheiro (dos impostos) em mecanismo de pressão para decidir o que podemos ou não saber”. Ou seja, o nosso dinheiro é usado para nos oprimir. Quando um governo adquire o direito de fazer isso com o nosso dinheiro, de forma impune, há um claro sinal de que perdemos a capacidade de nos indignar com uma verdadeira monstruosidade.

Uma vez que nós não estejamos transformando essa questão em um escândalo (assim como deveria ser feito com o corte de verbas estatais à Veja), acabamos criando um senso de conformidade em relação ao erro. A partir daí, a imoralidade não é mais imoral, pois é transformada em uma regra cravada, ao menos temporariamente, no senso comum, dizendo “não há nada de errado em um governo usar nosso dinheiro para selecionar o que devemos ou não saber”.

Até mesmo alguns liberais caíram na rotina dizendo que “os defensores de um estado menor devem apoiar que a Veja não receba verbas estatais”. Esses são zumbis políticos. Sabemos disso. Mas ao contrário dos zumbis dos filmes, eles falam. E, incapazes de perceber a política ao seu redor, ajudam a criar um senso de conformismo.

Vou repetir alguns pontos para que as coisas fiquem bem claras. Pessoas querem acompanhar as opiniões de Rachel Sheherazade na TV. O SBT gostaria dela opinando, e foi exatamente por isso que eles a contrataram. Se ela gostaria de emitir opiniões,  se seus contratantes também gostariam de vê-la falando e se o público pede por isso, o que está faltando? Simples: falta que as linhas auxiliares do PT parem de pressionar o SBT para impedi-la de falar.

É preciso ressaltar que a censura sutil, nos moldes praticados contra o SBT (por causa de Rachel Sheherazade) e a Veja (por causa da matéria com o doleiro Youssef às vésperas da eleição) são muito mais graves do que qualquer ação censória exercida nos tempos da ditadura militar.

Naqueles tempos, havia um censor carimbando o que poderia ou não ser publicado. Isso não custava muito (apenas o salário e a estrutura de censura).

Agora, ao invés disso, existe uma ação dissimulada usando milhões e milhões de dinheiro estatal para chantagear emissoras e órgãos de mídia para direcionar conteúdo. E note que ainda nem mesmo existe uma lei de mídia aprovada. É uma mistura de censura tradicional, com corrupção e doses maciças de dissimulação. Esta é nossa situação atual.

Imagine se Rachel Sheherazade fosse uma jornalista petista. Sim, eu sei que isso é difícil de imaginar. Mas tente. Tendo feito isso, conceba a seguinte ideia: a de que em sua função de jornalista, Rachel estivesse sendo perseguida por adversários políticos ligados ao PSDB, com poder de coerção para intimidar os canais de TV (em uma situação hipotética sem o PT no poder). Agora, para finalizar, imagine que ela tenha tido seu direito de falar cerceado por essa pressão.

Você consegue imaginar o que os petistas fariam nesse caso? Ou mesmo todos os militantes do PT? E as organizações aliadas ao partido? Simplesmente, a coisa iria beirar a guerra civil. E eles, com certeza, iriam transformá-la em uma mártir.

Justiça seja feita. Os petistas, se fossem coagidos por censura praticada de forma sutil por seus adversários lutariam até o fim de suas forças para terem liberdade. Assim como agora eles lutam de forma incessante por tirar nossa liberdade. Falta apenas que nós tenhamos mais garra de lutar por esse valor essencial. 
Título, Imagem e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 14-11-2014

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