Luciano Henrique
A censura de mídia viola o direito mais básico do cidadão ter direito à informação sem que o governo tenha atuado para definir o que pode ou não ser publicado ou divulgado. Essa é a verdeira liberdade de imprensa. Ela inclui tanto o direito do cidadão ser servido de informações livres, assim como das empresas terem o direito de atuar livremente. E por isso qualquer pessoa intelectualmente honesta entende “sem intervenção do governo”.
Quando nós vemos Rachel
Sheherazade ser proibida de opinar na televisão e somos proibidos de
assistir seus comentários, não por decisão espontânea do SBT, mas por pressão
de pessoas ligadas ao governo do PT, estamos sendo violentamente
atacados em nosso direito à liberdade de imprensa. Isto no nível mais
fundamental: o do direito do cidadão não ter suas informações selecionadas a partir
de pressão estatal.
Muitos do nosso lado têm tido
extrema dificuldade em entender o quanto isso é crítico. Ao não tratarmos essa
questão como uma das mais prioritárias, permitimos que o governo petista grave
no inconsciente coletivo a mensagem poderosíssima dizendo que é “normal que o
governo transforme o nosso dinheiro (dos impostos) em mecanismo de pressão para
decidir o que podemos ou não saber”. Ou seja, o nosso dinheiro é usado para nos
oprimir. Quando um governo adquire o direito de fazer isso com o nosso
dinheiro, de forma impune, há um claro sinal de que perdemos a capacidade de
nos indignar com uma verdadeira monstruosidade.
Uma vez que nós não estejamos
transformando essa questão em um escândalo (assim como deveria ser feito com o
corte de verbas estatais à Veja), acabamos criando um senso de conformidade em
relação ao erro. A partir daí, a imoralidade não é mais imoral, pois é
transformada em uma regra cravada, ao menos temporariamente, no senso comum,
dizendo “não há nada de errado em um governo usar nosso dinheiro para
selecionar o que devemos ou não saber”.
Até mesmo alguns liberais
caíram na rotina dizendo que “os defensores de um estado menor devem apoiar que a Veja não receba verbas estatais”. Esses são zumbis políticos. Sabemos disso. Mas ao
contrário dos zumbis dos filmes, eles falam. E, incapazes de perceber a
política ao seu redor, ajudam a criar um senso de conformismo.
Vou repetir alguns pontos para
que as coisas fiquem bem claras. Pessoas querem acompanhar as opiniões de
Rachel Sheherazade na TV. O SBT gostaria dela opinando, e foi exatamente por
isso que eles a contrataram. Se ela gostaria de emitir opiniões, se seus
contratantes também gostariam de vê-la falando e se o público pede por isso, o
que está faltando? Simples: falta que as linhas auxiliares do PT parem de
pressionar o SBT para impedi-la de falar.
É preciso ressaltar que a
censura sutil, nos moldes praticados contra o SBT (por causa de Rachel
Sheherazade) e a Veja (por causa da matéria com o doleiro Youssef às vésperas
da eleição) são muito mais graves do que qualquer ação censória exercida nos
tempos da ditadura militar.
Naqueles tempos, havia um
censor carimbando o que poderia ou não ser publicado. Isso não custava muito
(apenas o salário e a estrutura de censura).
Agora, ao invés disso, existe
uma ação dissimulada usando milhões e milhões de dinheiro estatal para
chantagear emissoras e órgãos de mídia para direcionar conteúdo. E note que
ainda nem mesmo existe uma lei de mídia aprovada. É uma mistura de censura
tradicional, com corrupção e doses maciças de dissimulação. Esta é nossa
situação atual.
Imagine se Rachel Sheherazade
fosse uma jornalista petista. Sim, eu sei que isso é difícil de imaginar. Mas
tente. Tendo feito isso, conceba a seguinte ideia: a de que em sua função de
jornalista, Rachel estivesse sendo perseguida por adversários políticos ligados
ao PSDB, com poder de coerção para intimidar os canais de TV (em uma situação
hipotética sem o PT no poder). Agora, para finalizar, imagine que ela tenha
tido seu direito de falar cerceado por essa pressão.
Você consegue imaginar o que
os petistas fariam nesse caso? Ou mesmo todos os militantes do PT? E as
organizações aliadas ao partido? Simplesmente, a coisa iria beirar a guerra
civil. E eles, com certeza, iriam transformá-la em uma mártir.
Justiça seja feita. Os
petistas, se fossem coagidos por censura praticada de forma sutil por seus
adversários lutariam até o fim de suas forças para terem liberdade. Assim como
agora eles lutam de forma incessante por tirar nossa liberdade. Falta apenas
que nós tenhamos mais garra de lutar por esse valor essencial.
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