O ser humano caracteriza-se
pela sua sociabilidade. Não há pessoas solipsistas vivendo tão somente em seu
mundo particular. Todos têm necessidade de reconhecer além do seu mundo
interior também o mundo exterior, o dos outros. Isto é, faz parte do gene
humano a relação uns com os outros.
Os termos “ideota” e
“político” nos dão a medida certa para esta abordagem. Emprego o termo “ideota”
para distingui-lo do termo“idiota” (com i) que hoje em dia é um termo
pejorativo denotando tolice ou burrice de uma pessoa, mas que na antiguidade
grega não tinha esta conotação. Um idiota naquela época era uma pessoa possuída
de idéias relevantes que lhe enriqueciam o espírito, mas ficava alheio ao
debate público (na polis) na busca da melhoria social, de interesse coletivo.
Por “ideota”, pois, (talvez
não exista no dicionário) quero deixar subentender as idéias nobres ou os
ideais que toda pessoa alimenta para estabelecer-se e subsistir na vida. Esta
pessoa prioriza seu mundo particular e tenta ser feliz. Ter uma profissão para
o ganha-pão, por exemplo, é uma aspiração de todos, é um ideal que todos perseguem
– um ideal para a auto-realização e garantia de seu sutento.
Mas isto não basta. Se
alimentarmos tão só o lado “ideota” estará faltando algo que nos complementa: a
vida em comunidade e respeitosa para com os outros. É preciso que as nossas
idéias e ideais não sejam restritos exclusivamente à nossa vida privada,
deverão, igualmente, circular na comunidade em que vivemos. É preciso que
exponhamos nossasidéias e ideais ao debate público, na polis (termo grego para
cidade, Estado; daí o termo política). Os antigos gregos eram exímios debatedores
de idéias na polis. Portanto, foram os idealizadores dos diversos regimes de
governo na busca de uma sociedade justa para todos.
Através da política – que é o
exercício da boa convivência – criam-seleis que regem a conduta dos cidadãos
para estabelecer e promover uma sociedade pacífica. Já imaginaram um Estado sem
leis? Estaríamos no mundo do “homo homini lupus” (o homem é o lobo do homem –
Hobbes), ou “o inferno são os outros” (Sartre).