sexta-feira, 2 de junho de 2017

[Aparecido rasga o verbo] Que fim levou o anjo das pernas tortas?!

Aparecido Raimundo de Souza

Acreditem, senhoras e senhores, nem os defuntos mais insignes e estrelados têm descanso nesse país. Como noticiaram os principais jornais, dias atrás, o bicampeão mundial pela seleção brasileira, o jogador que vestiu a camisa número sete, do Botafogo, Mané Garrincha, nascido Manuel Francisco dos Santos, aos 28 de outubro de 1933, em Pau Grande, distrito de Magé, Rio de Janeiro, teve seus restos mortais misteriosamente desaparecidos. Simplesmente o que jazia dele, criou asas e saiu voando. Inacreditável!

Notabilizado pelos seus dribles desconcertantes, o futebolista e marido (primeiramente de Nair, seu amor de infância, teve com essa moça, nove filhas). Depois de Nair, foi a vez da cantora Elza Soares (com quem passou quinze anos da sua agitada vida, de 1968 a 1983) e, de cujo compromisso, nasceu o único filho Manuel Garrincha dos Santos Junior, morto aos nove anos, vítima fatal de um acidente automobilístico.

A carreira do “Estrela Solitária” teve início em Pau Grande (de 1948 a 1952) e Serrano (1953).  Segundo alguns cronistas esportivos, Mané Garrincha [foto] se consagrou, em seus quarenta e nove anos, como um dos maiores ponta-direita da história.
 
Foto: Manoel Soares
Garrincha passou com brilhantismo incontestável pelos clubes Botafogo, Corinthians, Portuguesa Santista, Atlético Júnior, Flamengo, Red Star 93 e Olaria.  Veio a óbito, para abalo e desassossego de seus seguidores, em 20 de janeiro de 1983, na flor da idade, em decorrência de cirrose hepática, doença provocada pela ingestão constante de bebidas alcoólicas.

O atual prefeito da cidade de Magé, Rafael Tubarão, quer prestar uma homenagem à honrosa criatura Pau Grandense (ou Mageense), quando será comemorado daqui a exatos cinco meses, o octogésimo quarto aniversário de sua morte. 

Todavia, uma notícia estranha e desagradável caiu como um balde de água fria em cima das cabeças não só dos familiares, como também de todos os fãs do ídolo, deixando a cidade inteira em estado de pura comoção e, porque não dizer?, estupefação. O cemitério municipal de Raiz da Serra, através da administração, alardeou publicamente a hipótese de que não sabe (nem por ouvir dizer) onde estão, ou onde foram parar os despojos do mais famoso gentílico filho da terra.

Essa “probabilidade” foi confirmada depois pelos familiares, conforme amplamente divulgado por toda a imprensa brasileira de norte a sul. Como é do saber geral, “Mané, o mito”, foi sepultado inicialmente em Raiz da Serra. Contudo, uma confusão inesperada, deu conta de que se tornou “UM GRANDE MISTÉRIO A LOCALIZAÇÃO EXATA DOS RESTOS MORTAIS DO CRAQUE”.

A Gerência do local, por sua vez, confirma que tal fato se deu quando do processo de desenterro.  Pelo que se apurou, até agora, nos informou Priscila Libério, administradora, em entrevista no dia de hoje, “o corpo efetivamente sofreu processo de exumação. Entretanto, ao ser levado para um dos ‘nichos’ (gavetas onde se acondicionam ossos) os documentos referentes a essa transferência, por algum motivo inexplicável, se perderam”.

Pelo sim, pelo não, entre mortos e dormidos, o caso do sumiço do finado Mané Garrincha se complicou um pouco mais, notadamente depois que a imprensa de Magé descobriu a existência de dois sepulcros com o nome de Garrincha.  

De um deles, o corpo do alcunhado “Alegria do Povo” teria sido retirado há cerca de dez anos da catacumba original, para ceder espaço para outra pessoa consanguínea do ícone, e levando em conta, o mais importante, o fosso figurava (ou melhor, ainda projeta essa imagem) como sendo um “CARNEIRO COLETIVO”.

Com isso, senhoras e senhores, outra campa veio a ser aberta em 1985, pela Prefeitura de Magé, exatos duzentos metros distante da primeira escavação, e que, para não confundir, quem ali residia, em tempo integral, colocaram sobre ela, um obelisco. Para quem não sabe, obelisco é exatamente isso. Um obelisco.

Diante de toda essa confusão, o “Mulherengo de Pau Grande” até agora dormita em algum lugar, porém, incerto e não sabido, apesar dos pesares, continua sem o seu descanso merecido por tudo o que fez em prol da nossa maior e melhor preferência nacional. Para piorar a situação vexatória do extinto, no novo mausoléu de 1985, consta seu falecimento como tendo ocorrido em 20 de janeiro de 1985, ou seja, dois anos após a data correta do seu passamento.

Pelo sim, pelo não, mais que pelo não, que pelo sim, os boatos pela cidade andam à solta. E laconicamente divididos. Uma corrente diz categoricamente que Mané (deu uma de Mané) e saiu para dar um passeio sem avisar o coveiro que mora ao lado numa casinha encostada aos muros do jardim da paz eterna.

Grosso modo, Garrincha teria dado um drible no tal trabalhador e posto, em prática, a velha e surrada ideia de Quincas Berro D’água, contado em um romance de Jorge Amado, que, em seu tempo (como as senhoras e os senhores devem se recordar), depois de “batido as botas” passou pelo bar para comemorar com os amigos, tomando com cada um deles, uma rodada da “mais boa” e saborosa “purinha” do litro branco. 

Outra corrente, por sinal conservadora, encabeçada por Rosângela Cunha dos Santos [foto abaixo], uma das quatorze filhas do ex-genial, disse ao jornal “Extra” que “a família sofre por não saber onde enterraram o corpo do pai”. Em passo contrário, Luiz Marques, um dos netos de Garrincha, em entrevista ao “Estadão” assegurou que a notícia é falsa e maldosa. Que “Ela (Rosângela) a última filha a ser reconhecida, trazia, com essa patacoada, um transtorno muito grande a todos os envolvidos”.

Foto: Domingos Peixoto, Agência O Globo

Em meio a essa arruaça, ninguém (seja em Pau Grande, Magé, Raiz da Serra, ou outras  comunidades agrupadas ao distrito),  bate os pés com certeza, ou as mãos, para afirmar ou desafirmar peremptoriamente se os fatos trazidos à baila são procedentes, trazem um fundo de verdade ou apenas alimentam o imaginário de vadios e desocupados que, não tendo o que fazer, mirabolam futricas as mais estrambóticas sobre a vida de quem dessa já se foi para um plano melhor e, em dias atuais, só quer uma rede, sombra e paz, para ver os dias passarem sem se preocupar com o amanhã. 

Derradeirando, senhoras e senhores, estivemos em ambas as campas de Raiz da Serra, onde supostamente ‘estariam, em espairecimento sintonizado meridianamente com a natureza, os restos mortais de Garrincha’. Batemos palmas, gritamos, tiramos fotos, fizemos, na verdade, um alarido tremendo. Em nenhum momento, caros amados, o nobre cidadão Mané Garrincha deu sinais de vida e, pior, sequer respondeu aos nossos chamados e clamores.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. De Pau Grande, 6º Distrito de Magé, Rio de Janeiro. 2-6-2017 

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