Aparecido Raimundo de Souza
Acreditem, senhoras e
senhores, nem os defuntos mais insignes e estrelados têm descanso nesse país.
Como noticiaram os principais jornais, dias atrás, o bicampeão mundial pela
seleção brasileira, o jogador que vestiu a camisa número sete, do Botafogo,
Mané Garrincha, nascido Manuel Francisco dos Santos, aos 28 de outubro de 1933,
em Pau Grande, distrito de Magé, Rio de Janeiro, teve seus restos mortais
misteriosamente desaparecidos. Simplesmente o que jazia dele, criou asas e saiu
voando. Inacreditável!
Notabilizado pelos seus
dribles desconcertantes, o futebolista e marido (primeiramente de Nair, seu
amor de infância, teve com essa moça, nove filhas). Depois de Nair, foi a vez
da cantora Elza Soares (com quem passou quinze anos da sua agitada vida, de
1968 a 1983) e, de cujo compromisso, nasceu o único filho Manuel Garrincha dos
Santos Junior, morto aos nove anos, vítima fatal de um acidente
automobilístico.
A carreira do “Estrela
Solitária” teve início em Pau Grande (de 1948 a 1952) e Serrano (1953). Segundo alguns cronistas esportivos, Mané
Garrincha [foto] se consagrou, em seus quarenta e nove anos, como um dos maiores
ponta-direita da história.
Garrincha passou com
brilhantismo incontestável pelos clubes Botafogo, Corinthians, Portuguesa
Santista, Atlético Júnior, Flamengo, Red Star 93 e Olaria. Veio a óbito, para abalo e desassossego de
seus seguidores, em 20 de janeiro de 1983, na flor da idade, em decorrência de
cirrose hepática, doença provocada pela ingestão constante de bebidas
alcoólicas.
O atual prefeito da cidade de
Magé, Rafael Tubarão, quer prestar uma homenagem à honrosa criatura Pau
Grandense (ou Mageense), quando será comemorado daqui a exatos cinco meses, o
octogésimo quarto aniversário de sua morte.
Todavia, uma notícia estranha
e desagradável caiu como um balde de água fria em cima das cabeças não só dos
familiares, como também de todos os fãs do ídolo, deixando a cidade inteira em
estado de pura comoção e, porque não dizer?, estupefação. O cemitério municipal
de Raiz da Serra, através da administração, alardeou publicamente a hipótese de
que não sabe (nem por ouvir dizer) onde estão, ou onde foram parar os despojos
do mais famoso gentílico filho da terra.
Essa “probabilidade” foi
confirmada depois pelos familiares, conforme amplamente divulgado por toda a
imprensa brasileira de norte a sul. Como é do saber geral, “Mané, o mito”, foi
sepultado inicialmente em Raiz da Serra. Contudo, uma confusão inesperada, deu
conta de que se tornou “UM GRANDE MISTÉRIO A LOCALIZAÇÃO EXATA DOS RESTOS
MORTAIS DO CRAQUE”.
A Gerência do local, por sua
vez, confirma que tal fato se deu quando do processo de desenterro. Pelo que se apurou, até agora, nos informou
Priscila Libério, administradora, em entrevista no dia de hoje, “o corpo efetivamente
sofreu processo de exumação. Entretanto, ao ser levado para um dos ‘nichos’
(gavetas onde se acondicionam ossos) os documentos referentes a essa
transferência, por algum motivo inexplicável, se perderam”.
Pelo sim, pelo não, entre
mortos e dormidos, o caso do sumiço do finado Mané Garrincha se complicou um
pouco mais, notadamente depois que a imprensa de Magé descobriu a existência de
dois sepulcros com o nome de Garrincha.
De um deles, o corpo do
alcunhado “Alegria do Povo” teria sido retirado há cerca de dez anos da
catacumba original, para ceder espaço para outra pessoa consanguínea do ícone,
e levando em conta, o mais importante, o fosso figurava (ou melhor, ainda
projeta essa imagem) como sendo um “CARNEIRO COLETIVO”.
Com isso, senhoras e senhores,
outra campa veio a ser aberta em 1985, pela Prefeitura de Magé, exatos duzentos
metros distante da primeira escavação, e que, para não confundir, quem ali
residia, em tempo integral, colocaram sobre ela, um obelisco. Para quem não
sabe, obelisco é exatamente isso. Um obelisco.
Diante de toda essa confusão,
o “Mulherengo de Pau Grande” até agora dormita em algum lugar, porém, incerto e
não sabido, apesar dos pesares, continua sem o seu descanso merecido por tudo o
que fez em prol da nossa maior e melhor preferência nacional. Para piorar a
situação vexatória do extinto, no novo mausoléu de 1985, consta seu falecimento
como tendo ocorrido em 20 de janeiro de 1985, ou seja, dois anos após a data
correta do seu passamento.
Pelo sim, pelo não, mais que
pelo não, que pelo sim, os boatos pela cidade andam à solta. E laconicamente
divididos. Uma corrente diz categoricamente que Mané (deu uma de Mané) e saiu
para dar um passeio sem avisar o coveiro que mora ao lado numa casinha
encostada aos muros do jardim da paz eterna.
Grosso modo, Garrincha teria
dado um drible no tal trabalhador e posto, em prática, a velha e surrada ideia
de Quincas Berro D’água, contado em um romance de Jorge Amado, que, em seu
tempo (como as senhoras e os senhores devem se recordar), depois de “batido as
botas” passou pelo bar para comemorar com os amigos, tomando com cada um deles,
uma rodada da “mais boa” e saborosa “purinha” do litro branco.
Outra corrente, por sinal
conservadora, encabeçada por Rosângela Cunha dos Santos [foto abaixo], uma das quatorze
filhas do ex-genial, disse ao jornal
“Extra” que “a família sofre por não saber onde enterraram o corpo do pai”.
Em passo contrário, Luiz Marques, um dos netos de Garrincha, em entrevista ao
“Estadão” assegurou que a notícia é falsa e maldosa. Que “Ela (Rosângela) a
última filha a ser reconhecida, trazia, com essa patacoada, um transtorno muito
grande a todos os envolvidos”.
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Foto: Domingos Peixoto, Agência O Globo |
Em meio a essa arruaça,
ninguém (seja em Pau Grande, Magé, Raiz da Serra, ou outras comunidades agrupadas ao distrito), bate os pés com certeza, ou as mãos, para
afirmar ou desafirmar peremptoriamente se os fatos trazidos à baila são
procedentes, trazem um fundo de verdade ou apenas alimentam o imaginário de
vadios e desocupados que, não tendo o que fazer, mirabolam futricas as mais
estrambóticas sobre a vida de quem dessa já se foi para um plano melhor e, em
dias atuais, só quer uma rede, sombra e paz, para ver os dias passarem sem se
preocupar com o amanhã.
Derradeirando, senhoras e
senhores, estivemos em ambas as campas de Raiz da Serra, onde supostamente
‘estariam, em espairecimento sintonizado meridianamente com a natureza, os
restos mortais de Garrincha’. Batemos palmas, gritamos, tiramos fotos, fizemos,
na verdade, um alarido tremendo. Em nenhum momento, caros amados, o nobre
cidadão Mané Garrincha deu sinais de vida e, pior, sequer respondeu aos nossos
chamados e clamores.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, jornalista. De Pau Grande, 6º Distrito de Magé, Rio de
Janeiro. 2-6-2017
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