Duas posições são assumidas
quando se é ainda muito jovem: ateísmo e comunismo. Nessa fase, por mais
inteligente, por mais culto e por mais brilhante, não se tem, ainda, a
experiência e a maturidade necessárias para, mesmo intuitivamente, se entender
como a vida social funciona. Nossa formação doméstica, de rígida disciplina,
bom comportamento à mesa, respeito aos pais e aos mais velhos, contenção
verbal, asseio pessoal, respeito à propriedade alheia, respeito à esfera
individual dos outros, tudo isso parece uma camisa de força a tolher nossos
movimentos, nossos próprios interesses e nossas inaugurais inquietações
intelectuais. Para além de tudo, não antevemos a importância e a necessidade
futura dos ensinamentos escolares. Tudo é disciplina, tudo é obrigação.
Vem a fase escolar em que
entramos em contato com a política. O meio estudantil é um ambiente de
contestação. O mundo que nossos pais nos apresentaram não presta, é injusto.
Urge que façamos algo. Aí, somos introduzidos às chamadas ideias socialistas.
Os patrões (capitalistas) são maus, os operários, bons. É-nos dito que se o
capitalismo for destruído não haverá mais patrões e empregados e todos terão de
tudo. É só uma questão de querer (vontade política). É a real e definitiva
abolição da escravatura. Tome-se de quem tem e se dê a quem não tem. Mas não é
desonesto tomar de alguém aquilo que às vezes levou uma vida construindo?
Bobagem, isso é moral “pequeno burguesa”, afinal, “os meios justificam os
fins”.
Os mais curiosos lerão a
doutrina comunista, que lhes será repassada de segunda mão, ou, no máximo,
farão uma leitura do Manifesto Comunista. Uns poucos lerão Marx, Lenin,
Plecanov, Rosa Luxemburgo, Gramsci.”. A leitura de algumas dezenas de livros,
cuja bússola doutrinária apontará sempre na mesma direção, dará estofo
intelectual para o jovem militante passar a ser um doutrinador dos mais jovens
que vão chegando. Essa correia transportadora vai sendo alimentada e o “sistema
de captação de mentes” forma uma teia para enredar os novos que chegam.
Ao que sai para a vida adulta,
mesmo dobrado pela realidade do quotidiano, fica sempre aquela impressão difusa
de que o mundo poderia ser melhor. Sempre que lhe sobrar tempo, que lutar pela
sobrevivência não é fácil! -, militará politicamente com esse sentimento e
tenderá a dar suporte aos que querem “mudar o mundo”. Ao longo de sua vida,
terá o testemunho de que todas as iniciativas políticas para “mudar o mundo”
fracassaram, sem exceção; mesmo assim lhe restará a convicção de que “da
próxima vez” as coisas funcionarão. E assim o nosso herói celebrará, pela vida
afora, os Fidéis, os Genuínos, os Guevaras, os Dirceus, os Chávez, os Lulas...
e por aí vai.
Mas isso é uma fatalidade,
acontecerá com todos os jovens? Óbvio que não. A maioria intui que a sociedade é
algo muito complexo e que a vida econômica é ditada pela liberdade de mercado,
formado por milhões de ações, as mais díspares, mas que funcionam com uma boa
dose de harmonia. Esses vão cuidar da vida, tendem ao centro e votam
pendularmente, às vezes um pouco mais à esquerda, às vezes um pouco mais à
direita, mas jamais assumem posições radicais e sempre desconfiam dos políticos
que muito prometem. Sabem que a vida econômica de uma nação não difere, em
nada, da vida econômica das pessoas e das empresas, ou seja, depende de
reinvestir parte do que produziu para continuar crescendo; sabem que as crises
não são criadas por quem produz, são sempre criação de governos gastadores;
sabem que quanto menor a cargas fiscal maior será o reinvestimento e, por
conseguinte, o crescimento; sabem que o crescimento é o que redime a pobreza;
sabem que quando ouvem um político dizer que as coisas dependem de “vontade
política” estão frente a um ignorante em economia e finanças públicas ou, pior,
perante um farsante; sabem que odiar quem produz riqueza não melhorará a vida
dos pobres. Enfim, esses não foram contaminados pelo “esquerdismo infantil” e
felizmente escaparam da armadilha ideológica.
Muitos outros, caídos na
armadilha ideológica, mas de grande inquietação intelectual, escapam do círculo
de ferro e tomam contato com o liberalismo econômico e o pensamento político
conservador. Ultrapassam os estudos elementares da esquerda e tomam contato
intelectual com o pensamento clássico, destilado por milhares de anos de boa
doutrina e reflexão. Leem, além dos pilares da filosofia clássica, Adam Smith,
Jean-Baptiste Say, James Tobin, Eugene Von Bohm-Bawerk, Ludwig von Mises,
Frédérick Bastiat, Hayek, Milton Friedman, Hans-Hermann Hoppe, Henry Hazlitt,
George Reisman, Roger Scruton, Murray N. Rothbard, Thomas Sowell, Paul Johson,
Edmund Burke, Raymond Aron e outros, muitos outros.
Descobre que a teoria do
valor, pedra angular do marxismo, já tinha sido desmontada e completamente
refutada, nos anos vinte (!), por Eugene Von Bohm-Bawerk, vale dizer, muito
antes de o comunismo ser derrotado pelos fatos, com a queda de todo o sistema,
sua espinha dorsal já tinha sido intelectualmente destroçada.
Ah, mas essa travessia não é
fácil... Dói, e muito, lançar ao mar companheiros de viagem, ideias
irrefletidas, descobrir que todas as tragédias decorrentes de engenharia
social, como o Comunismo e o Fascismo, tiveram como arquitetos intelectuais a
que se rendeu homenagem. Dói muito descobrir que os intelectuais que querem
mudar o mundo, buscam sempre, na nova ordem sonhada, um lugar de destaque para
eles; descobrir que, além de terem laborado em terríveis equívocos, tiveram
comportamento pessoal incompatíveis com qualquer senso de dignidade. Quer
conhecê-los? Leia, por exemplo, Intellectuals, do pensador e historiador
britânico Paul Johnson, ou Intellectuals and Society, do pensador americano
Thomas Sowell (é possível que as duas obras já tenham sido editadas no Brasil).
Escolha o intelectual político de sua preferência, na obra do historiador Paul
Johnson, e lhe garanto que sua decepção será enorme. O mau caráter do escolhido
explicará muito o seu pensamento.
Mas uma coisa é quase regra:
se na juventude são feitas escolhas radicais como ateísmo e comunismo, é sempre
na maturidade que esses fardos são lançados ao mar. Dificilmente essa equação
se inverte.
Antes que me esqueça, se o seu
filho está sofrendo de bullying intelectual na escola, onde medram professores
de esquerda, polidos de algum verniz intelectual, estimule-o a ler, por
exemplo, um autor moderno, como Raymond Aron (ex-comunista). É um bom antídoto
contra a peçonha.
Título e Texto: Pedro Frederico Caldas
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