Pedro Borges de
Lemos
Enquanto dominar em Portugal o malabarismo ideológico da esquerda, vazio
de substância e de razão, iniciativas patéticas destas lamentavelmente
continuarão para gáudio de grande parte da nossa classe política, refém de um
discurso hipócrita e populista.
Algumas parlamentares de
esquerda juntaram-se ontem para um retrato de família [foto acima] contra a candidatura de
Jair Bolsonaro à presidência do Brasil.
Esta patrulha ideológica
constituída pelas deputadas Catarina Martins, Mariana e Joana Mortágua do BE,
Isabel Moreira do PS e Heloísa Apolónia do PEV, entre outras, uniu-se em
protesto com um único fim — impor autoritariamente a sua vontade, seguindo a
velha tradição estalinista da denúncia dos desvios ideológicos como forma de
ajudar a codificar uma linha totalitária de pensamento e de ação.
Para estas deputadas tudo o
que escapar a esta codificação deverá ser necessariamente patrulhado e
severamente punido. Mas constará também das suas preocupações a violação das
liberdades individuais e dos direitos humanos perpetrada por Maduro ou esta
violação será um facto secundário perante a necessidade de se fazer vingar na
Venezuela o Socialismo à outrance?
O jogo democrático não deve
silenciar as opiniões opostas, eliminá-las ou evitar que se manifestem. Deve
promover o confronto livre dos contrários para uma escolha consciente da melhor
alternativa.
O discurso que apele ao
combate à corrupção, ao enriquecimento ilícito e à violência no Brasil e que
defenda a restituição dos valores morais e da liberdade de expressão, com um
profundo respeito pelas diferenças e pelo contraditório, que a esquerda no
Brasil como em Portugal prega mas não cumpre, é o discurso que deve vingar.
Com exemplos de corrupção
grosseira como os de Lula, muito mais próximos ideologicamente destas
deputadas, cumpria-lhes manter o recato de se deixarem sossegadas nas
respetivas bancadas parlamentares e saber que estrategicamente, em matéria de
marketing político, iniciativas destas produzem geralmente o efeito inverso do
pretendido no eleitorado.
Enquanto dominar em Portugal o
malabarismo ideológico da esquerda, vazio de substância e de razão, iniciativas
patéticas destas lamentavelmente continuarão para gáudio de grande parte da
nossa classe política, refém de um discurso hipócrita e populista.
Título e Texto: Pedro Borges de Lemos, Público,
27-9-2018
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