Algumas mulheres criaram a
hashtag #EleNão para repudiar eleitoralmente Jair Bolsonaro na corrida ao
Palácio do Planalto. A ideia é difundir que o presidenciável é machista, homofóbico
e racista, além de atentar contra a democracia, sendo, portanto, indigno, de
merecer o voto dos eleitores. Estão marcadas, ainda, manifestações de rua do
movimento por todo o país no dia 29 de setembro.
Como toda forma de expressão
que não infrinja o direito de terceiros, trata-se de um movimento legítimo.
Contudo, sem fazer juízo de valor sobre o candidato em questão, é possível
afirmar que o #EleNão fracassará em atingir os seus objetivos.
Essa estratégia de
desconstruir Jair por suas opiniões e posturas diante de minorias é uma tática
que já vem sendo utilizada por veículos de comunicação e adversários políticos
desde 2011. E, paradoxalmente, trata-se de um dos fatores responsáveis pela ascensão do deputado: boa
parte do público o enxerga como uma vítima de ataques desproporcionais e
fica anestesiada com eventuais críticas legítimas e robustas a que ele está
sujeito, como figura política que é.
Os argumentos que sustentam
o #EleNão se embasam em restrições morais, mas que politicamente não se
sustentam. Quando se critica o voto em determinado candidato em uma
eleição, analisá-lo é apenas parte da tarefa; compará-lo aos outros
presidenciáveis, a outra. Não fazê-lo é incorrer no mesmo equívoco da reportagem da The Economist sobre Bolsonaro: o de
não verificar todo o contexto presente na eleição – e que influencia na decisão
do eleitor.
O movimento tende a ser
inócuo em desidratar o voto em Bolsonaro, pois muitos de seus eleitores não o
enxergam dentro desses rótulos. Ademais, outra parcela de seus eleitores
vota nele, justamente, por causa dessas opiniões. Por fim, há quem declare
apoio a ele a despeito das polêmicas declarações do candidato: embora não
concordem com elas, esses eleitores não as tratam como prioritárias no momento
de irem às urnas.
Demais a mais, igualmente
não faz sentido se opor a um candidato tido como homofóbico, machista e racista
e, ao mesmo tempo, apoiar outro que possui declarações tão ou mais
preconceituosas. Boa parte das apoiadoras do #EleNão apoia Ciro Gomes, que
possui declarações que podem ser interpretadas como machistas, racistas e homofóbicas.
Já o outro candidato favorito de boa parte das integrantes do #EleNão está
preso por corrupção e lavagem de dinheiro, sendo substituído pelo poste Fernando Haddad.
Essa falta de coerência
entre divulgadores da hashtag não passa despercebida entre os eleitores que não
decidiram seu voto ainda. Dessa forma, as críticas que miram Bolsonaro acabam
sendo neutralizadas. Em última análise, não se trata de um repúdio ao
seu comportamento, mas ao fato de ele pensar diferente e ser um opositor ao
pensamento ideológico de quem integra o movimento.
Mais: percebe-se que a
manifestação é predominantemente composta por mulheres de esquerda. Destarte,
reforça-se a ideia de que Bolsonaro é o maior representante de oposição ao
petismo e à esquerda, o que o favorece eleitoralmente.
Vale ressaltar que o #EleNão
ocorre em um momento de crescimento de Haddad nas pesquisas, endossando o medo
de o PT retornar ao poder. Isso acabou por catalisar o apoio ao parlamentar, na
medida em que eleitores de outros candidatos possuem, primordialmente, maior
aversão ao lulopetismo. Assim, muitos decidiram preterir seus presidenciáveis
favoritos e aderir ao voto útil em Bolsonaro já no primeiro turno.
Mesmo após 7 anos, os
adversários políticos não entenderam ainda que as críticas em relação à pauta
de costumes são ineficazes perante Jair Bolsonaro e pecam ao insistirem na
mesma estratégia. Por conseguinte, o #EleNão poderá estar nos livros de
história como uma manifestação importante de uma parcela do eleitorado contra
um candidato, mas seu impacto eleitoral provavelmente será o oposto do
pretendido.
Título, Imagem e Texto: Luan Sperandio, Instituto Liberal, 25-9-2018
Luan Sperandio é graduando em
Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e faz MBA em
Liderança e Desenvolvimento Humano na Fucape Business School. Atualmente é
Vice-presidente da Federação Capixaba de Jovens Empreendedores e editor do
Instituto Mercado Popular. É colaborador do Instituto Liberal desde 2014.
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