Nome de Guerra: Coronel
de Polícia Paúl.
Onde nasceu? Rio
de Janeiro - RJ
Onde estudou?
Terceiro grau: Academia de Polícia Militar D. João VI (Curso de
Formação de Oficiais).
Faculdades Integradas Celso Lisboa (Professor de Biologia).
Quando começou a
trabalhar?
Aos dezoito anos, como aluno do Curso de Formação de Oficiais
que durou de 1976 até 1978.
O 3º BPM foi a minha primeira OPM, isso como Aspirante a Oficial
PM, em janeiro de 1979.
Meu único emprego foi na PMERJ.
Quantos anos de PMERJ? Se
aposentou?
Entrei em 1976 e fui reformado em 2009.
Na época, o governador Sérgio Cabral diminuiu o tempo de
permanência dos Coronéis na ativa de seis para quatro anos, como represália à
mobilização por melhores salários e condições de trabalho, liderada pelos
denominados "Coronéis Barbonos", grupo que eu participei.
Antes de chegarmos ao
Sérgio Cabral, diga-nos quais os cargos de grande responsabilidade que ocupou
na PMERJ?
Subcomandante da Academia de Polícia Militar D. João VI.
Subchefe da1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (1a DPJM).
Chefe da 1ª DPJM
Corregedor Interno da Polícia Militar.
Cargos apenas de Tenente-Coronel e Coronel PM.
Minha carreira de Coronel foi abreviada em um terço.
Cheguei a ser nomeado Diretor de Ensino e Instrução, mas não
pude assumir.
Por que a sua carreira de
Coronel foi abreviada em um terço?
Em 2007, quando era o Corregedor Interno da PMERJ, fui um dos
líderes da mobilização por salários dignos e adequadas condições de trabalho
para os Praças. Na época fizemos um documento com onze itens e encaminhamos ao
governador.
No início de 2008 o grupo de que participava (Coronéis
Barbonos), ombreando com o grupo formado por Oficiais e Praças (40 da
Evaristo), cansados de esperar respostas do governador, realizamos uma
caminhada na orla da Zona Sul para conscientizar a população sobre os
problemas. Dois mil militares participaram, tudo dentro da legalidade. Cabral
irritou-se, e sem poder nos punir, exonerou os Coronéis e nos deixou sem
função.
Não satisfeito, mudou o tempo de permanência na ativa dos Coronéis PM de seis para quatro anos e, ilegalmente, aplicou a nova lei em quem já era Coronel. O objetivo foi nos afastar da tropa.
Eu continuei lutando contra ele.
E foi para a Cinelândia
sozinho?
A luta iniciada em 2007 reuniu milhares de apoiadores, mas após
as represálias de janeiro de 2008 e o oferecimento de vantagens em termos de
gratificações, esse número foi diminuindo rapidamente.
Nós ainda conseguimos reunir novamente um grupo significativo
para lutar pela aprovação da PEC 300, isso a partir de 2009, mas antes disso eu
acabei tendo que realizar atos contra o governo de forma isolada.
Usava um megafone, faixas e panfletos, atuando em locais de
grande movimento de pessoas. Fiz isso na Cinelândia, nos "calçadões"
de Bangu e Campo Grande, na orla da Zona Sul (domingos), na Central do Brasil e
em vários locais onde o governador comparecia, como o Quartel Central do Corpo
de Bombeiros e nas inaugurações das UPPs.
Em apertada síntese, a luta que iniciei em 2007 eu dei
continuidade nos anos seguintes, sozinho ou integrando pequenos grupos.
Lembro bem da sua
presença na Cinelândia... quando nos conhecemos pessoalmente. Depois, sempre
fomos, nós, do Movimento ACORDO JÁ!, privilegiados com o seu apoio nas
nossas manifestações.
Julgo que você era,
naquele tempo, a única pessoa no mundo que gritava “Fora, Cabral!”. Olha onde
ele está agora. Você adivinhava?
Realmente, acho que fora do mundo político, eu era o único.
Penso que fui uma espécie de precursor, assim como nas denúncias feitas contra
o governo dele no MP-RJ, que quase nada apurou. A exceção foram os contratos superfaturados
das viaturas que resultou em uma ação contra Beltrame e outros secretários.
Eu imaginava que uma hora o império que Cabral montou ruiria,
mas confesso que nunca passou pela minha cabeça que ele era um criminoso que
agia em todas as áreas do governo. A sua voracidade por dinheiro ilícito me
surpreendeu.
Pois é...
Qual é a sua opinião
sobre as UPP (Unidade de Polícia Pacificadora)?
Eu classifico o projeto das UPPs como o pior já implementado na
área da segurança pública em todo Brasil. Na época fui o primeiro a criticá-lo,
criando um blog exclusivo para postar artigos demonstrando os erros grosseiros.
Vale lembrar que devo ter sido o primeiro a gritar "fora Cabral" nas
ruas, isso em 2008 e o primeiro a criticar as UPPs a partir de 2009, quando
todos aplaudiam.
Acabei publicando um livro com uma coletânea desses artigos: "UPPs - Uma Farsa Eleitoral". O projeto destruiu o pouco que havia em termos de segurança pública, isso com o único objetivo de reeleger Sérgio Cabral. Não havia a menor estrutura básica nas bases. Os PMs ficavam expostos, entregues à própria sorte e vários morreram e foram feridos. A formação foi relâmpago porque o governo queria inaugurar o maior número de UPPs possível.
O resultado foram milhares de PMs mal formados. Todos os que
eram formados acabavam jogados nas UPPs que chegou a totalizar mais de 9.000
PMs nas comunidades. O equivalente, aproximadamente, ao efetivo de 14 Batalhões
de Polícia Militar.
A título de ilustração, municípios com grande densidade
populacional como São Gonçalo, Nova Iguaçu e Duque de Caxias só possuem um
batalhão para promoção do policiamento em cada um deles. Eu antecipei que o
projeto seria um retumbante fracasso, o que hoje salta aos olhos de todos.
Caro amigo, se quiser posso mandar o livro.
As UPP ainda existem?
As UPPs ainda existem, mas algumas foram extintas e a
responsabilidade pelo policiamento nas comunidades onde as UPPs foram extintas
passou a ser responsabilidade dos batalhões das respectivas áreas.
Sobre a Intervenção
Federal:
Já seria possível
classificar o confronto entre as forças FEDERAIS (militares do EXÉRCITO) e o
crime organizado no Rio, como uma guerrilha urbana?
Penso que o Rio de Janeiro viva uma autêntica guerrilha urbana nos confrontos que ocorrem nas comunidades carentes dominadas pelos traficantes de drogas há décadas. As táticas empregadas pelos traficantes são de guerrilheiros, tanto para enfrentarem as forças policiais, quanto para enfrentar as forças armadas.
Com as recentes mortes de soldados, o comando das operações deve reconhecer o despreparo do exército para o tipo de atividade (guerrilha urbana), para qual a polícia militar estaria mais ambientada?
Os militares federais nunca participaram de uma "guerra" como a que ocorre no Rio de Janeiro. Não possuem o preparo prático para tal enfrentamento, mas isso não evitaria as mortes, em face da realidade existente, onde criminosos usam armas de guerra sem qualquer preocupação, enquanto as forças policiais e as forças armadas precisam evitar a morte de inocentes (moradores não envolvidos com o tráfico).
Que avaliação se pode
fazer da intervenção, do ponto de vista operacional, confrontado com os anseios
e expectativas da população?
Sem dúvida, a população está decepcionada com os resultados
alcançados, mas quem conhece o problema sabe que os resultados seriam os
alcançados até o momento.
Como o grosso da tropa na polícia militar reage à subordinação aos interventores federais?
Como o grosso da tropa na polícia militar reage à subordinação aos interventores federais?
Eu fui forçado pelo governo Sérgio Cabral a ir para a
inatividade em 2008, portanto, não posso fazer a avaliação adequada, mas pelo
que tenho lido e ouvido a subordinação não incomoda o governo estadual, o
comando das polícias e nem aos policiais. A rotina não mudou para o policial.
Por
que não iniciar uma grande campanha contra o consumo de drogas do carioca, pois
são os próprios que alimentam a criminalidade no Rio?
No Brasil o governo
abriu mão de promover campanhas contra o consumo de drogas há algum tempo. Não
sei o que motivou tal posicionamento, mas é certo que as campanhas preventivas
são indispensáveis. Um exemplo são as campanhas contra o cigarro que diminuiu
drasticamente o número de fumantes.
Qual é a perspectiva dos PM sobre a intervenção militar pela qual passa
o Rio de Janeiro? Qual o prognóstico para o futuro?
A perspectiva dos
Policiais Militares que tenho contato é de manutenção do estado anterior à
intervenção, sendo o prognóstico de agravamento do quadro, inclusive
considerando o aumento das milícias.
Sobre as próximas eleições, quais critérios que um oficial de segurança
pública recomenda que observemos na escolha dos candidatos?
Honestidade, competência e coragem para enfrentar o regime cleptocrático que se instalou por todo o país.
Honestidade, competência e coragem para enfrentar o regime cleptocrático que se instalou por todo o país.
E quais os seus?
Eu votarei:
Bolsonaro 17
Flávio Bolsonaro (senado) 177
André Monteiro (governador) 28
Valdelei Duarte (federal) 1758
Coronel Pedro Silva (estadual) 51337
Ainda não defini o 2º voto para o Senado.
Sim, já conhecia o Cão Tabagista e aproveito para parabenizar
pelo trabalho desenvolvido.
A pergunta que não foi
feita:
Como você se sentiu após
ter todos os seus direitos violados quando foi preso ilegalmente em Bangu 1,
presídio destinado aos piores traficantes, sendo Coronel da Polícia Militar?
A prisão foi ilegal porque como Coronel Reformado não poderia
praticar. Jamais poderia ser acautelado fora de um quartel da PM. O presídio é
desumano. Celas tipo cofre de quatro metros quadrados, sem vaso sanitário e com
cama de concreto.
O pior, ao sair, representei quanto às ilegalidades junto a
todos os órgãos de direitos humanos, às corregedorias e ao ministério público,
mas nada foi apurado e ninguém foi responsabilizado até hoje.
Uma derradeira mensagem:
Nós começamos a lutar em defesa dos interesses institucionais em
2007, primeiro ano do governo Sérgio Cabral. Uma luta desigual contra um
sistema. Policiais Militares e Bombeiros Militares foram para as ruas protestar
de forma ordeira e pacífica. A população nos apoiou, mas o governo implementou
terríveis e injustas represálias.
Perdemos dinheiro, fomos presos de forma ilegal e fomos
aposentados precocemente. Hoje constatamos que obtivemos conquistas e que o
governo cleptocrático foi desmascarado. Nosso algoz já foi condenado inúmeras
vezes e será em outras. Portanto, nosso sacrifício valeu a pena e faríamos tudo
de novo.
Muito obrigado, Coronel!
(Colaboraram Paizote Marques, Heitor
Volkart e Vitor Grando)
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Conversas anteriores:
Parabéns pela entrevista!
ResponderExcluirRevela-se um militar que soube exercer sua função sem esquecer que antes de tudo é um cidadão.
Portanto comprometido com os seus deveres políticos, e na defesa dos interesses de seus comandados, e da comunidade como um todo.
Que como se vê, fatalmente incomodaria ao status-quo dos políticos profissionais.
Especialmente dos corruptos!
Casos como este, são muitos nas policias militares, e só não vem à tona pelo rígido código de conduta, que na maioria dos casos calam os insatisfeitos.
O entrevistado é figura que se enquadra com perfeição na definição do Gen. Paulo Chagas, que é citado pelo mesmo (entrevistado)em outro blog na rede.
“A Nação brasileira confia, sem restrições, nos homens e nas mulheres a quem entrega o último recurso da razão, pois sabe que as Forças Armadas são disciplinadas, mas não estão mortas e conhecem o seu dever e os limites da autoridade legal!”
Pizote
Bom dia Cão Tabagista!
ResponderExcluirExcelente reportagem com o cel.: Paul. Mas, há muita desordem e incoerência neste País, com os valores invertidos e quem é serio e demonstra lealdade e civismo é punido.
Ótima semana!
Jorge Alberto dos Santos
Parabéns pela Entrevista. Repito quão importantes são suas Entrevistas, caro Editor, pois nos informam sobre vários assuntos. Esta nos da uma visão do que ocorre nos bastidores da PM. Muito bom!
ResponderExcluirParabéns ao Coronel. Foi um grande prazer conhece-lo ajudando-nos na luta pelo nosso AERUS. Muito obrigado,
ResponderExcluirJim, tuas entrevistas continuam ótimas . parabéns !!!
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