Cada um tem o seu guerreiro
predileto: Alexandre, Aníbal, Átila, Júlio Cezar, Napoleão... Todos
conquistadores, todos empenhados em aumentar a extensão territorial de seus
países, ou os projetar como potências dominantes, quando não perseguidos ambos
os objetivos.
Vai dizer a um francês que
Napoleão não foi o maior dos guerreiros, que não elevou a França aos píncaros!
Entretanto, em minhas meditações, tudo pesado e medido, não chego a uma outra
conclusão senão que Napoleão mais prejudicou do que favoreceu a França. Em sua
desmedida ambição pessoal liquidou o que havia de melhor em recursos humanos,
estiolou a economia e as finanças públicas, teve que vender a Louisiana ao
recém-fundado Estados Unidos, acabou com a república e retornou ao regime
monárquico, deixou o seu país de joelhos perante as outras nações europeias,
abrindo alas para a Inglaterra construir o maior império jamais visto, enquanto
a França caminhou para a quase irrelevância. Por tudo isso, não só o proclamo
um derrotado, como efetivamente foi, mas um mal para seu país.
E meus guerreiros prediletos?
Ah, meus guerreiros prediletos... Esses não foram conquistadores. Ao contrário,
foram impedientes de conquistas malévolas, foram a trincheira de preservação da
civilização ocidental.
Faço aqui um intermezzo para
uma pequena mão-de-prosa sobre o que se pode entender como Civilização
Ocidental. Há discrepâncias até sobre a configuração geográfica da chamada
Civilização Ocidental. Incluiria toda ou parte da Europa? Abrangeria as
américas? E a Oceania?
Para além da questão
geoespacial, no plano das ideias, da cultura, qual seria sua abrangência? Não
vamos elaborar um tratado sobre o assunto, ou dissertar longamente sobre o tema
em espaço tão angusto, que meu propósito não vai a tanto, não passa de uma
tentativa de agitar ideias para fazer os meus incautos leitores (se não fossem
incautos, não me leriam...) pensarem, meditarem sobre temas a que dou relevo,
mas que podem não passar de algo sem relevo ou relevância, já considerados,
inclusive, pacificados pelo ponto de vista de quem me lê.
A Civilização Ocidental, pelo
que entendo e em apertada síntese, foi plasmada no ambiente físico da velha
Europa, de lá transbordando, pelas grandes descobertas dos séculos quinze e
dezesseis, pelo colonialismo e pela catequese dos religiosos cristãos, pelas
américas e pela Oceania, incluindo-se, também, alguns países e enclaves na
África e, até, no Oriente.
No plano das ideias, a fonte
ético-filosófico-política mais germinal centrou praça na Grécia antiga, na
matriz jurídica romana, na explosão renascentista das artes, no pensamento
iluminista, na Gloriosa Revolução inglesa (The Glorious Revolution), com a
queda do absolutismo, a introdução do parlamentarismo e do Bill of Rights,
ainda no último quartel do Século XVII, impulsionando as ideias libertárias dos
“ Founder Fathers “ americanos e dos revolucionários franceses, agora já no fim
do Século XVIII.
A tudo isso deve ser adunado
um aumento sem precedentes da produção de bens materiais, possibilitado pelo
início da grande revolução industrial, catapultada pelo advento do Capitalismo,
o respeito ao direito de propriedade e a aceitação do mercado como elemento
regulador da produção e do consumo dos bens. Acresça-se também as grandes
invenções tecnológicas, tudo se confederando para, pela primeira vez na
histórica da humanidade, tornar possível prover a todos com os bens
indispensáveis à sobrevivência e, na sequência, na explosão tecnológica que
tornam a vida do homem, mais e mais, confortável e amena.
Esse conjunto de ideias,
instituições, novas tecnologias, explosão das artes, da literatura, do ensino,
da forma de apropriação e organização dos meios de produção, puseram o Ocidente
na vanguarda do mundo, colocando a reboque as outras civilizações do oriente
arábico e da Ásia, influenciando-as profundamente, não sendo nenhum exagero se
falar na ocidentalização, por exemplo, do Japão, da Coreia do Sul, da Turquia,
etc.
Por último, mas não menos
importante, atuou, com força imensa, a tradição religiosa judaico-cristã, que,
ao colocar o ser humano como filho de Deus, por Ele criado a sua imagem e
semelhança, ejetou a dignidade humana ao cimo da colina.
Fechado esse quadro, traçado
sem nenhuma pretensão de definitividade, vamos colocar, como cavaletes a
sustentá-lo, os meus guerreiros prediletos.
Tudo isso poderia ter sido
liquidado no nascedouro e todos nós sermos, hoje, muçulmanos. Você minha
querida leitora, por exemplo, poderia estar de burca, não passar de uma das
mulheres do seu marido, ser chicoteada ou lapidada em público, ou, no limite,
estar com parte do sexo extirpado...
Como todos sabem, os mouros
mulçumanos ocuparam a maior parte da Península Ibérica por mais de setecentos
anos (do Século VIII ao Século XV). De lá, em 732, invadiram a França. O homem
de estado, príncipe dos francos e grande guerreiro Charles Martel enfrentou-os
de 732 a 737, em várias batalhas: Tours, Narbonne, Avignon, Nimes. Sempre
inferiorizado em número, mas usando de estratégias inteligentes e grandes
ardis, conseguiu com a sua festejada coragem e determinação repelir os mouros
mulçumanos para além dos Pirineus. Em Tours, com trinta mil homens conseguiu
derrotar os oitenta mil mouros! Foram batalhas memoráveis, travadas com coragem
e argúcia, realçadas por estratagemas que um dia, com mais vagar, contarei, por
valer a pena. Esse guerreiro vigoroso, pela valentia, coragem indômita e
determinação única liderou os seus soldados e barrou de forma definitiva, no
segundo quartel do Século VIII, a invasão de toda a França e, consequentemente,
do resto da Europa pelos cruéis conquistadores muçulmanos. É um dos meus
guerreiros prediletos.
Cerca de nove séculos depois,
outro guerreiro ocidental barra a conquista total da Europa, nas portas da
sitiada Viena. Os turcos muçulmanos já haviam penetrado a região dos Balcãs,
conquistado a Croácia, a Eslovênia, a Sérvia, a Bulgária e a Hungria. Chegaram,
finalmente, às portas de Viena, em 1683. O imperador Leopoldo I já tinha batido
em retirada com o exército, deixando na cidade, sob sítio, onze mil soldados e
cinco mil voluntários, com a impossível tarefa de enfrentar o exército dos
turcos otomanos de cento e cinquenta mil soldados.
As muralhas já ruíam, quando
chega o rei da Polônia Jan III Sobieski, para a batalha final, liderando
oitenta e quatro mil soldados poloneses e alemães. Para arregimentar tal
exército, deixou sua Polônia desguarnecida, entregue por sua fé aos cuidados da
Virgem Maria. Todos sabiam que ali era jogada a sorte da nossa civilização e da
fé cristã. Na madrugada de 12 de setembro de 1683, após uma missa, a batalha
final tem início. Houve momentos de grande periclitação. Eis que Sobieski
decide liderar a maior carga de cavalaria da história. Lidera seus três mil
Hussardos poloneses, bate, com audácia, tenacidade e coragem temperada pela fé
o exército otomano. Salva, mais uma vez, da terrível ameaça muçulmana, a
Civilização Ocidental Cristã.
EPÍLOGO
Se prestarem atenção, notarão
que os cruzados cristãos usavam espadas com o punho em forma de cruz. Por que
uma religião pacífica e pacifista como o cristianismo fora defendida pela
espada cujo punho lhe dava a aparência de uma cruz, símbolo dessa religião? Não
sei. Os desígnios de Deus são muitas vezes misteriosos. Se continuarem
prestando atenção, notarão que os árabes costumam usar um espadim, de forma
curva, como se assumisse a forma do Crescente Fértil, símbolo deles. Esse
espadim se chama adaga. Serve, dentre outras coisas, para matar e degolar
infiéis.
O dia 12 de setembro de 1683
é, para os católicos, o dia de Maria, numa homenagem à coragem e à fé de
Sobieski, que deixou sua Polônia, desprotegida de soldados, sob a proteção da
Virgem.
Quando forem ao Vaticano e
visitarem o museu, notem que há uma sala dedicada a Sobieski. Nessa sala há um
quadro que ocupa toda uma parede com a imagem dele. Faça como já fiz
discretamente: olhe-o com admiração, enxugue a lágrima furtiva e alce a mão em
discreta continência àquele guerreiro que salvou o seu estilo de vida, que
salvou a nossa Civilização Ocidental Cristã, em tudo e por tudo superior às
demais.
Por que estou escrevendo sobre
isso? É que estamos vivendo tempos estranhos. Mais uma vez os mulçumanos estão
à nossa porta...
Mas aquela espada há de
prevalecer sobre a adaga.
Título e Texto: Pedro Frederico Caldas
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