Helena Matos
A Liga das Senhoras Extraordinárias diz
“machista”, faz uma selfie, coloca tudo no Instagram e espera que o vilão da
história desapareça pelos ares. O debate de ideias deu lugar ao fanico.
O grupo de deputadas
portuguesas que respondeu positivamente “a um desafio do Bloco” e participou
“na fotografia coletiva da campanha internacional #EleNão” (o #EleNão da
questão é o candidato Jair Bolsonaro) é uma das manifestações em Portugal desse
fenómeno internacional que se pode designar por Liga das Senhoras Extraordinárias.
A Liga das Senhoras
Extraordinárias caracteriza-se por manter viva a táctica trotskista da
revolução permanente e por simultaneamente ter recuperado das histórias
infantis a crença no poder paralisante das palavras mágicas. Só lhes falta a
varinha! Ou talvez nem isso porque o que é um “vídeo viral” senão uma varinha
mágica?
A Liga das Senhoras
Extraordinárias diz “machista”, faz uma selfie, coloca tudo no Instagram e
espera que o vilão da história desapareça pelos ares. Todas as semanas as
Senhoras Extraordinárias têm uma irritação. Há sempre algo que as enerva muito
e as emociona ainda mais. O debate de ideias deu lugar ao fanico.
Os antagonistas das Senhoras
Extraordinárias só por serem antagonistas das Senhoras Extraordinárias passam a
personificar tudo aquilo que elas dizem combater: logo se elas declaram ser
contra o racismo quem não as apoia é automaticamente racista. O mesmo exercício
é válido para a misoginia, a homofobia…
Convém não esquecer que o ódio
que as Senhoras Extraordinárias votam aos que definem como seus alvos é
inversamente proporcional ao servilismo e adoração que mostram perante aqueles
que apoiam. Assim por exemplo, as nossas Senhoras Extraordinárias
mobilizaram-se contra os riscos de uma vitória de Bolsonaro, mas não se lhe
ouve uma palavra sobre o perigo representado pelo candidato Haddad. E o que
disseram sobre Lula? E o que calam sobre a Venezuela de Chávez e Maduro? Já
agora até podiam aproveitar a mobilização a propósito do assassínio de Marielle
Franco para divulgarem os resultados sobre a morte do procurador
argentino Alberto Nisman, assassinado na véspera de acusar a então
presidente argentina Cristina Kirchner de ter protegido os agentes iranianos
responsáveis pelo atentado terrorista a uma organização judaica em Buenos Aires
que causou 84 mortos.
Mas as Senhoras
Extraordinárias valem pelo que dizem e ainda mais pelo que calam. Aliás é essa
combinação de disponibilidade para muito calar enquanto armam uma enorme
algazarra que permite às Senhoras Extraordinárias a prática daquele exercício
de dizer uma coisa e apoiar o seu contrário com a ligeireza de quem combina um
casaco de quadrados com uma saia de bolas: dizem-se feministas mas apoiam uma
política de subserviência em relação ao machismo de determinados grupos étnicos
e religiosos pois é nesses grupos que acreditam estar os seus futuros
eleitores; dizem-se a favor da democracia e da justiça independente mas mal os
tribunais não decidem como elas acham que deveriam decidir, lá vêm elas para a
rua em manifestações que não hesitariam em classificar como arruaceiras,
populistas e justiceiras caso os protagonistas fossem outros…
Claro que também existem
Senhores Extraordinários, mas a partir do momento em que na estratégia de
agit-prop o ódio de classe deu lugar ao ódio grupal, as mulheres deixaram de
ser apresentadas como companheiras ou “feministas burguesas” para se tornarem
num coletivo em luta contra o heteropatriarcado branco. Mais um a que se juntam
os negros; os homossexuais; os transexuais; os migrantes que também podem ser
mulheres e lésbicas; os ciganos que acumulam com o coletivo dos sem casa…
Tudo isto tem momentos
ridículos, circunstâncias em que se pensa que o melhor será esperar que passe.
O pior é que o palco da luta se deslocou das fábricas para as casas: o simples ato
de comer um bife com batatas fritas ou dar alpista ao canário está a caminho de
se tornar num dilema político! E obviamente a incapacidade de construir um
discurso que não seja uma súmula do que não se quer, produziu esse monstruoso
regresso ao passado sob a forma de julgamento.
Não é por acaso que em Espanha
o governo de tem como grande meta desenterrar mortos e que nos EUA a escolha de
um juiz para o Supremo está transformada numa espécie de inquérito aos tempos
da adolescência: o passado tornou-se no tempo em que se faz política. As
diversas ligas de Senhoras Extraordinárias por esse mundo foram aplaudem.
PS. Alguém consegue
explicar como é possível que as paredes do Tribunal de Vila Franca estejam
todas esborratadas com umas alegadas pichações? Durante o caso Maddie tínhamos
aquela vergonha diária do edifício da PJ de Portimão a ser mostrado ao mundo.
Recordo que a PJ de Portimão funcionava num minúsculo edifício de habitação (a
ocupação de andares destinados à habitação por clínicas, centros de saúde,
polícias, conservatórias, notários, caixas de previdência… não causou nem um
milésimo das preocupações e do alarido gerado pelo alegado excesso de
alojamento para turistas!) Agora o caso da morte de Luís Grilo leva-nos
àquela espantosa fachada do Tribunal de Vila Franca Xira, coberta de
gatafunhos. Os edifícios dos tribunais não têm segurança?
Título e Texto: Helena Matos, Observador,
30-9-2018
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