sábado, 1 de fevereiro de 2020

Crônicas Cariocas: desenrolo

Felipe Lucena

Entre as coisas nossas, o desenrolo é uma das mais faladas. Prática extremamente comum no Rio de Janeiro, o desenrolo, quando bem usado, é uma garantia de bom funcionamento da sociedade.


O desenrolo carioca é diferente das conversas que acontecem em qualquer lugar do mundo. Só falar desenrolo em português e com sotaque carioca e ele pode ser usado nas mais variadas situações. Quer ouvir?

É muito comum nas negociações envolvendo dinheiro. O comprador desenrola de cá, o vendedor desenrola de lá. Muitas vezes, os dois saem ganhando. O desenrolo colabora com a economia.

Quem nunca viu uma briga ser evitada apenas no desenrolo fale agora ou cale-se para sempre. Há casos nos quais as partes que querem quebrar as caras umas das outras entram em comum acordo só no gogó. Contudo, também rola de terceiros, quartos, quintos, enfim, gente de fora solucionar o problema braçal somente com a fala.

Não preciso nem falar que tal característica carioca é bastante utilizada no campo sentimental. E cada vez mais. Não importa qual gênero chama na ideia. Todo mundo pode e deve desenrolar um amor.

Todavia, um talento tão complexo não poderia ser usado somente para o bem. O desenrolo também tem sua vertente presente na política suja, nas corrupções públicas, privadas e jurídicas. Te falar, ninguém é perfeito.

Voltando ao lado bom da conversa, o desenrolo carioca deveria ser declarado patrimônio cultural. É um bem da humanidade. Vamos desenrolar essa parada?
Título e Texto: Felipe Lucena, Diário do Rio, 1-2-2020

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