Felipe Lucena
Entre as coisas nossas, o
desenrolo é uma das mais faladas. Prática extremamente comum no Rio de Janeiro,
o desenrolo, quando bem usado, é uma garantia de bom funcionamento da
sociedade.
O desenrolo carioca é
diferente das conversas que acontecem em qualquer lugar do mundo. Só falar
desenrolo em português e com sotaque carioca e ele pode ser usado nas mais
variadas situações. Quer ouvir?
É muito comum nas negociações
envolvendo dinheiro. O comprador desenrola de cá, o vendedor desenrola de lá.
Muitas vezes, os dois saem ganhando. O desenrolo colabora com a economia.
Quem nunca viu uma briga ser
evitada apenas no desenrolo fale agora ou cale-se para sempre. Há casos nos
quais as partes que querem quebrar as caras umas das outras entram em comum
acordo só no gogó. Contudo, também rola de terceiros, quartos, quintos, enfim,
gente de fora solucionar o problema braçal somente com a fala.
Não preciso nem falar que tal
característica carioca é bastante utilizada no campo sentimental. E cada vez
mais. Não importa qual gênero chama na ideia. Todo mundo pode e deve desenrolar
um amor.
Todavia, um talento tão
complexo não poderia ser usado somente para o bem. O desenrolo também tem sua
vertente presente na política suja, nas corrupções públicas, privadas e
jurídicas. Te falar, ninguém é perfeito.
Voltando ao lado bom da
conversa, o desenrolo carioca deveria ser declarado patrimônio cultural. É um
bem da humanidade. Vamos desenrolar essa parada?
Título e Texto: Felipe
Lucena, Diário do Rio, 1-2-2020
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