Coincidência ler este livro em plena quarentena – provocada por um vírus
que, dizem uns, veio da China, outros, que é chinês.
Li por aí o comentário de um leitor que afirmava não ter gostado do
livro, que pulou muitas páginas, e que só a partir da página 200 é que teve
algum interesse em ler.
Realmente o livro está repleto de informações científicas. Necessárias, a
meu ver, para a exata compreensão da trama. E bem-vindas por quem gosta de
aprender.
No entanto, tem certa razão o leitor desgostoso, mas não é a partir da
página 200, mas 300, que o livro se torna um thriller.
Aperitivo:
A sala do sistema de controle automático que geria toda a rede do
metropolitano de Lisboa era igual a qualquer outra sala de controle de um
sistema complexo de transportes. Um grande mapa eletrônico na parede mostrava a
rede. Pontos luminosos, uns parados outros em movimento, assinalavam os
múltiplos comboios que nesse momento prestavam serviço, tantos que os
intervalos de passagem por cada estação eram de dois minutos em hora de ponta.
Havia monitores de computador por toda a parte e, a observá-los, dois
homens sentados acompanhavam as operações, um deles a bebericar um copo de
café. Estava fresco, como Xiao percebera pelo indicador de temperatura,
mas o que verdadeiramente lhe interessava era o grande computador central que
geria todo o tráfego.
O CBTC. Tratava-se das iniciais de Computer Based Train Control,
um sofisticado sistema computadorizado de controle automático de todo o
movimento na rede do metropolitano de Lisboa. Pormenor decisivo, o CBTC era
acessível pela Internet. Ou seja, o sistema de controle do tràfego do metrô
transformara-se4 numa parte constituinte do próprio Xiao. Um dos seus
milhões de braços com capacidade de interferir no mundo dos seres humanos. E o
CBTC do metrô de Lisboa era um braço que se preparava para utilizar.
Em alguns segundos Xiao baixou um programa com toda a informação
sobre o sistema que geria a circulação do metrô. O CBTC tinha fixas nas linhas
férreas sucessivas balizas de sinalização que indicavam a posição de cada
comboio, além de tacômetros nos eixos que mediam a velocidade e a direção das
composições em relação ao ponto de referência.
Toda esta informação era comunicada ao centro de controle por sistemas de
comunicação regidos pelo protocolo Ethernet TCP/IP. Muito importante, os
sistemas ATP, ATO e ATS coordenavam toda esta informação para assegurar que não
haveria colisões entre comboios e que nenhuma composição excedia uma certa
velocidade, com o consequente risco de descarrilamento nas curvas. Graças ao
CBTC, os comboios poderiam na verdade circular sem maquinista, embora as
questões laborais e políticas levassem a empresa a manter a ficção de que esses
profissionais continuavam a ser uma peça fundamental em todo aquele sistema.
Já com o pleno domínio do sistema, Xiao identificou a localização
precisa do alvo através da geolocalização do respectivo telemóvel; tinha entrado
numa composição que acabara de sair da estação dos Restauradores, na linha
azul, e seguia na direção da estação terminal da Reboleira.
Executou.
A interferência no processo refletiu-se de imediato no grande ecrã e
desencadeou um alarme que sobressaltou os controladores.
“Eh, o que aconteceu?”, perguntou o que tinha o copo de café na mão, a
atenção fixa no grande mapa eletrônico onde figurava todo o movimento. “Já
viste isto?”
“O quê?”
“A composição que acabou de sair dos Restauradores”, disse, apontando
para uma luz situada entre essa estação e a seguinte, Avenida. “Parou na linha.”
“Tás parvo ou quê? Isso não é possível.”
“Olha para o mapa, pá. Não vês o...”
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