Situação difícil!
A pandemia não cede. Sem previsão de vacina. Remédios tampouco. Mortes aos
montes. Cientistas pegos de surpresa e se veem impotentes. Até quando essa
situação se estende não se tem noção exata ainda. Uns estabelecem meses, outros
anos….
Uma coisa
inusitada há muito tempo não visto: um devastador vírus à solta ameaçando de
morte os humanos. E ninguém quer morrer. Muito menos por um vírus insidioso
invisível.
O negócio é
preservar a vida, mantendo-se, por ora, em quarentena, sem chegar ao cúmulo de
ter pavor pela morte...
Montaigne tem uma
fórmula interessante que afugenta o medo da morte. De que maneira? Voltar-nos a
nós próprios. Experimentar-nos a nós mesmos em comparação às experiências e
opiniões de outrem.
Por que devo
adotar as experiências e opiniões dos outros se eu mesmo tenho condições de
formular a contento minhas opiniões e viver conforme elas?
Alimentar uma
atitude cética sobre tudo o que se diz por aí é demonstrar equilíbrio perante a
vida. Ser cético não quer dizer desprezar as experiências e opiniões dos
outros, mas duvidar delas e fazer sua própria experiência para comprová-las ou
não como úteis. Isto significa independência de autoridades com suas verdades…
Eu devo ser minha
própria autoridade quando em profunda reflexão tomo uma atitude cética sobre
tudo que outros estabelecem como verdade.
O filosofar deve
ser um contínuo experimentar-se a si próprio, numa contínua explicação do eu a
si próprio. Este penetrar-se em si mesmo dá a real dimensão da vida e que a
morte é elemento constitutivo da condição humana.
Não morremos por
causa de doenças; morremos porque estamos vivos. A morte insinua-se e
mistura-se constantemente em nossa vida. E ter medo dela é já um sofrer.
Sofre-se por aquilo que se receia.
Logo, se o homem
medita sobre a morte chega à conclusão que em algum momento perderá a vida, e
então dispõe-se a perdê-la sem desgosto, propondo-se a vivê-la o mais
intensamente aproveitável possível.
A ideia da morte
dá o sentimento de que a vida é um bem estimável e não deve ser desperdiçado
por medo da morte. A certeza da morte nos ensina, então, a viver com mais
empenho e entusiasticamente.
Diz Montaigne:
“eu gozo a vida duas vezes mais do que outros, porque a medida do gozo depende
em maior ou menor grau do empenho que nele pomos… À medida que a posse da vida
se vai tornando mais breve, necessário é que eu a torne mais profunda e plena”.
Essa atitude montaigniana
podemos colocar em xeque (atitude cética) se serve para nossa própria
existência e o coronavírus que a ameaça…
BOA QUARENTENA e
preze a vida!
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 11-4-2020
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