Filipe Simões de Almeida
Ao tentar salvar o doente (o País), o
Governo vai matá-lo com a cura! É preciso encontrar soluções para se conseguir
voltar à normalidade possível no curto prazo.
A esse propósito, lembro-me de
uma história contada pelo meu pai. Há cerca de 50 anos houve um choque frontal
num desfiladeiro entre dois comboios de mercadorias, numa linha férrea que
transportava minério do interior de Angola para um porto marítimo. No dia
seguinte de manhã os técnicos alemães responsáveis pelos comboios disseram que
seria preciso pelo menos 15 dias para os comboios poderem circular, trazendo
gruas de grande porte para remover os destroços, o que era uma grande
preocupação porque a empresa de minério poderia falir devido à paragem da atividade
e aos custos extraordinários. Os técnicos portugueses conseguiram repor a
normalidade durante a tarde. Como? Verificaram que havia um pequeno espaço para
uma linha entre os destroços e a parede do desfiladeiro, permitindo a
circulação. Evitaram trazer as gruas e reaproveitaram os destroços.
Temos de saber usar o engenho
dos portugueses para ultrapassar esta situação de pânico. Em vez de parar a atividade
econômica e esperar pelos milhares de milhões de euros dos alemães e demais
europeus (as gruas), devemos pensar em soluções que permitam obter ganhos
imediatos evitando que o problema aumente de dimensão (a linha alternativa).
O que já se sabe?
1.
A maioria das pessoas sobrevive à doença provocada pelo coronavírus, havendo
muitos que nem sequer são diagnosticados.
2.
Os mortos pelo coronavírus são na esmagadora maioria de grupos de risco ou
tomaram medicamentos inapropriados.
3.
Há muito mais mortos por outros motivos além do coronavírus, mesmo havendo
muito menos acidentes de trabalho e nas estradas. Ou seja, o coronavírus é um
problema, mas há outros maiores.
4.
Aumentou drasticamente o número de famílias a pedir auxílio para se alimentar.
5.
Aumentou drasticamente o número de pessoas sem emprego.
6.
A economia já entrou em recessão.
O que é provável que aconteça
com a continuação da imposição pelo Governo da paragem da maior parte da atividade
econômica?
1.
Muitas pessoas vão ter fome. As instituições de solidariedade social e as
iniciativas individuais e empresariais podem mitigar um pouco este flagelo, mas
não é suficiente.
2.
O desemprego vai continuar a aumentar significativamente. Muitas pessoas vão
perder os meios de subsistência.
3.
Muitas empresas vão falir. É imoral dizer às empresas que se endividem depois
do Governo ter imposto a paragem da sua atividade econômica.
4.
A recessão econômica vai agravar-se, podendo levar a uma bancarrota.
Isto não é sustentável. Ao
tentar salvar o doente (o País), o Governo vai matá-lo com a cura! É preciso
encontrar soluções para se conseguir voltar à normalidade possível no curto
prazo.
O que fazer?
1.
Acabar a letargia: criar uma equipa multidisciplinar (não confundir com
interministerial) para definir de imediato como acabar com a imposição da
paragem da atividade económica, protegendo em simultâneo os grupos de risco.
2.
Prevenir: alertar a população para tomar medicamentos apenas com supervisão
médica, divulgar os cuidados de higiene a ter (especialmente com pessoas de
grupos de risco) e reforçar os meios de tratamento.
3.
Reduzir o pânico: divulgar as boas notícias sobre pessoas que se curam da
doença, evidenciar o perfil de risco dos que morreram (dizer apenas a idade é
enganador, também deve ser dita a causa), relativizar o número de mortos em
comparação com os restantes casos e explicar quem são as pessoas de grupos de
risco. Talvez as empresas de comunicação não tenham tanta audiência como hoje,
mas certamente cumprirão a sua missão de serviço público e começarão a obter
mais receitas publicitárias devido à retoma da economia.
4.
Confiar: os portugueses já demonstraram no último mês que são mais
disciplinados do que muitos povos, não devem ser tratados com paternalismo e
como se fossem crianças.
Sem fazer isto, é provável que
o Governo continue a impor a paragem da atividade econômica pelo menos até que
surja uma cura para a doença, o que pode demorar vários meses. No entanto,
poderá haver um momento em que o Governo será confrontado com perguntas
incômodas:
“O que vai dizer às centenas de
milhares de pessoas que perderam o emprego desde março”?
“O que vai dizer às centenas de
milhares de famílias que passam fome desde abril?”
Tenho consciência de que,
mesmo com todo o cuidado que possa ter, em quarentena ou depois dela,
provavelmente serei infectado com o coronavírus, assim como a minha família e
amigos, vizinhos e conhecidos. Espero conseguir sobreviver tal como a maioria
da população que não pertence a grupos de risco, mas entristece-me ver tantas
pessoas aflitas por não terem meios de subsistência. Espero que as organizações
de solidariedade social não sejam obrigadas a fechar, porque são fundamentais
para estas pessoas.
Espero também que o Governo e
as empresas de comunicação, bem como as pessoas que escrevem nas redes sociais,
contribuam para voltar à normalidade possível no curto prazo.
Título e Texto: Filipe
Simões de Almeida é empresário e Acionista do Observador,
11-4-2020, 3h53
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