As máscaras dos comunistas. Do acolhimento
aos refugiados-hóspedes-requerentes de proteção. Do Marcelo otimista. Da
austeridade-condicionalidade.
Helena Matos
As máscaras dos comunistas.
Os comunistas portugueses vão
arrepender-se mil vezes da celebração do 1º de Maio de 2020 pois vai ser enorme
o preço político que vão pagar por elas. O que se viu “claramente visto” na
Alameda não foi uma celebração, mas sim a exibição obscena do poder por parte
de quem se acha acima da lei que rege os demais.
Lisboa, Alameda, 1º de maio de 2020, foto: Miguel Manso |
Enquanto os portugueses
estavam proibidos de mudar de concelho (tantas vezes a farmácia fica no outro
concelho, os pais divorciados tinham de negociar com a polícia as idas e vindas
das crianças) os comunistas atravessavam concelhos e a ponte sobre o rio Tejo.
Deambulavam pela Alameda sem qualquer distanciamento social e faziam tábua rasa
das recomendações sobre os grupos de risco.
A falta de pudor na exibição
desses privilégios tornou mais evidente aquilo que a CGTP de facto é: uma
corporação feroz na hora de defender os seus interesses e a sua capacidade de
influência. Para mais uma corporação a quem ninguém pergunta nada. Por exemplo,
e apenas para começarmos, alguém sabe ou quis saber quantos sindicalistas da
área da saúde se apresentaram durante esta epidemia nos seus serviços para
trabalhar?
A máscara do otimista e do
milagre.
Estão todos com medo. Medo do
silêncio enquanto forma de expressão da descrença. Não é por acaso que Ferro
Rodrigues queria atafulhar a AR: é preciso preencher o silêncio. Esconjurar o
medo.
Marcelo tem medo que Costa o
ultrapasse no populismo e medo também da elevada abstenção entre aqueles que
foram os seus eleitores. Medo sobretudo que um dia alguém lhe lembre que a vida
não é uma brincadeira e que não está para brincadeiras. (Em que praia irá o
Presidente mudar de calções este ano?)
António Costa
primeiro-ministro acredita que a guarda-pretoriana da função pública, livre da
austeridade, chegará para o preservar do medo de um povo a viver a
condicionalidade.
Uma parte do PS tem medo que o
partido acabe nas mãos de Pedro Nuno Santos e se transforme numa versão em
canastrão do BE. A outra parte do PS não tem medo nem deixa de ter: vive numa
bolha. E está com quem mantiver o PS no poder. O CDS tem medo do Chega e o
Chega tem medo do protagonismo de Ventura. Só Rio não tem medo porque também
não tem juízo. (A IL ainda não tem idade para ter medo).
Há no ar uma brisa de medo.
Medo do Verão em que o acesso às praias pode levar o povo a perder a cabeça.
Medo do Inverno que pode trazer o vírus. Medo do medo.
A máscara do acolhimento
aos refugiados.
Primeiro chamaram-lhes
hóspedes. Mais precisamente os hóspedes de um hostel lisboeta estariam
infectados com Covid-19. Depois os hóspedes passaram a refugiados. Donde? De
que conflito? As notícias não diziam. Em seguida os hóspedes-refugiados
passaram a “requerentes de proteção”. Mas logo de imediato os requerentes de proteção
se transfiguraram em requerentes de asilo ou apenas em requerentes. Pelo meio
havia também a possibilidade de serem designados como “pessoas retiradas” do
hostel o que os colocava mais ou menos no patamar dos turistas. Entretanto
aconteceu que alguns dos hóspedes, refugiados, requerentes de proteção que também
podiam ser apenas apresentados como requerentes ou requerentes de asilo
desapareceram. Aí a terminologia ganhou novos termos: de repente tínhamos “19
migrantes de hostel de Lisboa”. Ou noutras versões os “imigrantes do hostel”.
Não tivemos muito tempo para assimilar estas novas designações porque a
dado momento fomos esclarecidos que os “Estrangeiros do hostel em Lisboa já
estão em quarentena na Ota”.
Estávamos portanto com os
migrantes, imigrantes, “pessoas retiradas”, estrangeiros, hóspedes, refugiados,
requerentes de proteção ou de asilo devidamente instalados na base da Ota
quando fomos informados que alguns tinham ido para a mesquita de Lisboa e
outros, a fazer fé nos jornais, estavam em fuga”: “Dezanove refugiados de
hostel em Lisboa com casos de coronavírus estão em fuga”. Mas em fuga de quê ou
de quem? Então os refugiados não tinham sido acolhidos exatamente por que
vinham a fugir? E que sentido faz que fujam requerentes de proteção ou de
asilo?…
Esta sucessão incompleta e
quase anedótica de referências contraditórias espelha a forma como as questões
relacionadas com a imigração e o acolhimento de refugiados se tornaram um
assunto opaco: por exemplo, quantos de nós sabíamos que os hostels estavam a
ser usados deste modo?
O elevado número de infectados
nos locais onde muitos dessas pessoas estão alojadas mostrou não só que há
muito para nos ser explicado nesta matéria – a começar pelas condições de
alojamento e a acabar em quem os paga, quem decide o estatuto de cada uma
destas pessoas, quem é responsável por elas.. – como que é fundamental que se
discutam as políticas de imigração e acolhimento (e um imigrante não é um
refugiado por mais que os termos agora se estejam a tornar sinônimos).
O acontecido a estas pessoas
deve servir também para refletirmos sobre as condições em que vão ser acolhidas
as chamadas “crianças migrantes” que estão desacompanhadas das suas famílias
nos campos das ilhas gregas. Entre o frenesi do Covid-19 passou discreta a
informação que “Portugal manifestou disponibilidade para acolher crianças migrantes que estão desacompanhadas nas ilhas gregas”.
O acolhimento de menores tem
sido, em vários países, um daqueles atos mediático-caritativos que no imediato
dão muito boa imprensa e a médio prazo grandes problemas. O futuro destas
crianças e jovens não pode ficar cativo do ativismo de uns e da caridadezinha
de outros.
Temos de perceber que crianças
são essas ou porque não apoiamos as suas famílias de modo a que estas possam
viver com os seus filhos. E uma vez aqui quem se responsabiliza por elas? Qual
o plano para as suas vidas?…
Se não fizermos isto a tempo
um dia seremos confrontados com notícias bem mais complexas que aquelas que
agora nos chegaram de uns hostels lisboetas.
Título e Texto: Helena
Matos, Observador,
3-5-2020, 0h05
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