sábado, 11 de dezembro de 2010

A arrogância chinesa

A cadeira vazia de Liu Xiabo. À esquerda, o presidente do Comitê, Thorbjorn Jagland.
Foto: AP Photo/John McConnico
Foi a cadeira onde deveria ter-se sentado Liu Xiaobo que esteve na mira das câmaras, mas quem ficou mal na fotografia acabou por ser a China. Nem o professor e crítico literário, detido pelas suas críticas ao regime de Pequim, nem qualquer representante seu foram autorizados pelas autoridades chinesas a deslocar-se a Oslo, onde teve ontem lugar a cerimónia de entrega do Prémio Nobel da Paz (os outros cinco prémios foram entregues em Estocolmo).
Se a ideia da China era mostrar força, foi uma decisão errada. Aos olhos do mundo, os poderosos líderes chineses ficaram malvistos. Mostraram temer em demasia um frágil activista de 54 anos, condenado a 11 anos de prisão em Dezembro do ano passado por reivindicar a democratização do sistema político chinês. Aos olhos do mundo ficaram também mal os países que, cedendo às pressões mais ou menos directas de Pequim, não enviaram os seus embaixadores ao acto solene. Foram cerca de 20. Mas a União Europeia esteve presente em peso, com Portugal representado pelo embaixador João Lima e Pimentel.
Este foi um ano de enorme sucesso para a China. Ultrapassou o Japão e tornou-se a segunda economia mundial. E, após três décadas de reformas económicas, os seus 1300 milhões de habitantes beneficiam de um nível de vida que parecia inalcançável seja nos tempos conturbados da primeira metade do século XX, seja já na era de Mao Tsé-tung. E, se o Ocidente continua a tentar sair da crise, a potência chinesa deverá uma vez mais crescer na ordem dos 10%, que significa que pode continuar a sonhar com o lugar de número um mundial que até há dois séculos era seu por ordem natural das coisas.
Esta China admirável podia ter-se dado ao luxo de evitar a arrogância de superpotência. Não lhe ficou nada bem insultar os membros da Academia norueguesa nem ameaçar de represálias o pequeno país escandinavo. Pequim deveria aprender com Liu Xiaobo, o homem sem ódio para os inimigos.
Editorial, Diário de Notícias, 11-12-2010

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