Beber de outra fonte
Al Hoffman, ex-embaixador americano e autor dos telegramas para o Departamento de Estado revelados pelo WikiLeaks, era um construtor de condomínios de luxo e jogador de pólo que chegou à Embaixada de Lisboa por ser dos grandes financiadores da campanha de Bush. Um diplomata amador, portanto. Achei mais prudente saber o que um diplomata a sério pensa de nós. Quem melhor do que o cônsul-geral Jean Denfert-Rochereau, representante há 18 anos do reino da Araucania e Patagónia em Lisboa? Todos os dias é possível encontrá-lo, pelo fim da tarde, na estação dos Correios dos Restauradores, onde vai mandar o quotidiano telegrama ("dépêche", diz ele) sobre (como também ele o diz) "os costumes indígenas". Há assim tanto a dizer sobre os portugueses? "Se há!", exclama o experimentado cônsul-geral. E confia-me o teor do telegrama que acabara de endereçar a Sua Alteza Real o príncipe Philippe, seu soberano: "Este é o único país em que alguém se candidata à chefia do Estado porque viu um garoto a correr atrás de uma galinha com um pedaço de pão no bico. E, atenção, o episódio do garoto, a galinha e o pão aconteceu a muitas milhas do território que o candidato, se eleito, irá administrar..." Como vêem, eu tinha razão. Este singelo telegrama soube interpretar a dimensão universalista dos portugueses, coisa ausente dos despachos dos embaixadores das grandes potências.
Ferreira Fernandes, Diário de Notícias, 17-12-2010
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