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O Globo
Desde 2003, com a vitória
eleitoral da aliança lulopetista, a sociedade tem sido surpreendida, de tempos
em tempos, por atitudes de autoridades federais dentro do figurino de regimes
não democráticos, em alguns casos sem nada a dever ao pensamento de grupos
fundamentalistas conservadores. Numa visão superficial da colcha de retalhos
político-ideológica existente no país, seria algo incoerente, pois grupos que
desembarcaram em Brasília em 2003 na caravana vitoriosa lulopetista sempre
procuraram ser vistos como progressistas, autênticos democratas.
Engano. Na verdade, sempre
fizeram parte das alianças de esquerda frações autoritárias, defensoras de um
Estado forte a pairar sobre uma sociedade incapaz de decidir o que é bom para
ela. Serão estes agentes da clarividência, donos de verdades inabaláveis, que
irão "proteger" a população contra maus hábitos e más influências.
Neste mesmo coquetel ideológico há, misturado, o ingrediente do
"politicamente correto", de cujo jargão, por exemplo, fazem parte
termos como "afrobrasileiro". É uma espécie de cultura refratária à
leveza de espírito e ao bom humor que um dia já foram considerados aspectos da
alma brasileira.
O mais recente exemplo de ação
desses grupos infiltrados no poder é a reação da titular da Secretaria de
Políticas para as Mulheres (SPM), Iriny Lopes, a uma campanha publicitária de
roupas íntimas femininas, estrelada pela modelo Gisele Bündchen. Em três
comerciais para TV bem-humorados - grave delito -, a agência de publicidade
usou o clichê da mulher que usa a beleza para conseguir o que quer dos homens
para expor alguns produtos do anunciante. Foi demais, e a secretária formalizou
ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) pedido de
suspensão da campanha, por "falta de respeito à condição feminina",
tendo considerado as peças "preconceituosas e discriminatórias". O
Conar instalou processo, a ser julgado em breve. Cumpre seu papel.
Menos mal que a SPM recorreu
ao órgão de autorregulamentação. Não fez como a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), do Ministério da Saúde, contumaz infratora da Constituição
ao tentar censurar propagandas quando as considera daninhas ao brasileiro. Na
Anvisa existe outro bunker de tutores estatais do brasileiro, um povo sem
condições de comprar os alimentos mais saudáveis, de se medicar, e assim por
diante.
Não é um problema haver
reações negativas a campanhas publicitárias ou ao que seja. Trata-se de fatos
normais numa democracia. Anormal é quando grupos militantes de pressão, por
contingências político-partidárias, passam a controlar instrumentos públicos
para impor seu projeto ideológico.
Este aparelho feminista
instalado no governo convive lado a lado com outra secretaria cuja missão é
executar no Brasil um projeto racialista. Devido a este aparelhamento é que foi
tentado contrabandear para o programa de Defesa de Direitos Humanos a censura à
imprensa para o caso de divulgação de supostas ideias racistas. O ataque da SPM
à propaganda com Gisele Bündchen não é cômico. Poderia, mas se trata de algo
mais sério, por ser nova tentativa de comissários de intervir na liberdade da
produção audiovisual brasileira.
Editorial d'O Globo, 04-10-2011
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