Francisco Vianna

Outro dia, enquanto observava
um grupo de moleques a correr descalços e sujos pelas avenidas movimentadas a
mendigar trocados dos motoristas parados nos sinais de trânsito, pude reparar a
dificuldade de uma senhora de muita idade em atravessar a avenida, mesmo
estando na faixa de pedestres e com o sinal verde para ela. Ela hesitava e,
claramente, tinha dificuldades de enxergar e de se locomover.
O que me deixou ansioso não
foi a impossibilidade de sair do meu carro para ajudar aquela senhora provecta
a atravessar a via, mas sim a insensibilidade das pessoas que estavam ao seu
redor e que pareciam incapazes de reconhecer aquele pequeno grande drama da
vida urbana. Somente quando abri a porta do carro e gritei para os passantes
que a acudissem, foi que um deles resolveu se prontificar para ajudá-la.
Segui meu caminho e vi, pelo
retrovisor, que a senhora agradecia efusivamente ao rapaz que a havia ajudado
na travessia.
Numa mesma cena urbana, pude
testemunhar e reconhecer que idosos e crianças parecem ser um contingente
humano muitas vezes esquecido e descartado pela sociedade. Fiquei imaginando o
quanto existem desses anciãos confinados em asilos e esquecidos por seus
familiares, bem como da legião de crianças sob a circunstância de serem
educadas e instruídas por pais que não têm educação ou instrução mínima
suficiente para tal.
Fico então pensando no que
possa faltar ao povo brasileiro para que suas crianças e velhos vivam, afinal,
com mais dignidade. Somos irresponsavelmente omissos e criminosamente alheios
ao que ocorre com essa gente descartada. A própria estrutura familiar vem sendo
sistematicamente aviltada e descaracterizada ao ponto de se tornar incapaz de
cuidar de seus idosos e de suas crianças.
Então surge a figura do
estado, como um padrasto geralmente incompetente e até genocida. Basta ver como
o estado lida com a administração da previdência social, da saúde, e da
educação e do ensino das pessoas mais pobres desse país. E é com base nesses
fatos que cada vez me convenço mais de que o problema reside no tipo de
cidadania desqualificada que temos no Brasil. Fico pensando no tipo de
representação política que tal cidadania desqualificada é capaz de conseguir.
Certamente a de representantes igualmente desqualificados, tanto técnica como
moralmente. Terminamos sendo governados não pela elite, mas pela escória da
sociedade.
Mais do que nunca, convenço-me
de que o descarte dessa gente pela família e pela sociedade só deixará de
existir quando a qualidade da cidadania melhorar substancialmente, tanto sob o
aspecto educacional como instrutivo.
Estou convencido de que, se a
condição de cidadania, fosse restringida apenas a quem completasse o segundo
grau de escolaridade e educação, passando todas as demais pessoas à condição de
dependentes de um cidadão, de um grupo de cidadãos, de empresas, de
instituições criadas para esse fim e, finalmente, do organismo do estado, o
produto final seria uma sociedade brasileira muito melhor e muito mais
capacitada a fazer surgir em poucas décadas uma da maiores – senão a maior –
potências do mundo.
Título, Imagem e Texto: Francisco Vianna
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