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Imagem: Elisabete Neves |
Preto no branco, Michael
Porter assumia que ou Portugal reinventava o seu modelo económico ou a nossa
economia definharia
Qual o caminho para o
crescimento? Como podem as empresas portuguesas afirmar-se no mundo? Qual o
segredo para Portugal atingir o estatuto de economia desenvolvida, competitiva
e solidária? Estas e outras perguntas, que hoje repetimos vezes sem conta, passaram
pela cabeça de Mira Amaral quando, em 1994, o então ministro da Energia e
Indústria de Cavaco Silva decidiu procurar as respostas junto do maior
especialista em estratégia e competitividade. Elas surgiram em 269 páginas,
naquele que ficaria conhecido como “Relatório Porter”. Preto no branco, Michael
Porter assumia que ou Portugal reinventava o seu modelo económico ou a nossa
economia definharia. O mandato de Cavaco Silva acaba um ano depois, em 1995, e
com ele o sentido estratégico e de missão apontado aos portugueses pelo
“relatório”. Quase 20 anos, alguns Presidentes da República e
primeiros-ministros depois, onde está Porter? Na economia portuguesa mora quase
em exclusivo nos seus prognósticos mais pessimistas. “Portugal decidiu não
mudar”, dizia Porter já este século. Arrisco dizer que Portugal mudou, sim, mas
para pior e para longe da direcção por ele proposta. Mudou para ter mais
despesa pública e para assistir a um crescimento mais lento da produtividade.
Passou do bom aluno da Europa em 1994 para, depois de 13 anos de socialismo, o
segundo país do mundo com maior risco de bancarrota em 2011.
Se hoje aterrasse na Portela,
Porter talvez voltasse a repetir o que disse em 1994: Portugal precisa de um
novo modelo económico capaz de dar músculo ao país e às empresas nacionais no
mercado global. É isto que está na agenda do governo e a mudança de ciclo
vislumbra-se nas reformas estruturais levadas avante por todos os ministérios,
contra as resistências. Resistências de gente como os 600 estivadores que se
comportam como senhores feudais dos portos, ameaçando toda a economia nacional.
Resistências de uma esquerda que vê fantasmas em tudo e mais alguma coisa e que
não compreende que a questão que se coloca ao futuro de Portugal é menos sobre
a ideologia do Estado e mais sobre a sua sobrevivência. Foi por causa dessa
esquerda, e também por causa de uma certa direita com responsabilidades
executivas, agora confortavelmente sentada na tribuna do comentário, que
Portugal amealhou 20 anos de erros que a actual geração de políticos tem de
limpar. Ao contrário do que sugere Mário Soares, esta não é a pior geração de
políticos dos últimos 50 anos. E ainda que fosse verdade, então é caso para
dizer que, pelo menos no caso português, essa geração teve bons mestres.
A democratização da economia
de que nos fala Passos Coelho aponta para um novo modelo económico preconizado
por Porter. No entretanto perdemos quase 20 anos e os agentes ao serviço da
hipocrisia nacional querem que percamos mais 20. Foi isso que ficou patente na
discussão sobre a deslocalização da sede social da Jerónimo Martins (JM).
Alguns falaram de fuga ao fisco quando se trata de um caso de acesso aos
mercados. Outros falaram de boicote aos produtos do Pingo Doce (já agora, para
comprar onde? Na Sonae, que também tem sede na Holanda? Ou no Grupo Auchan,
francês? Talvez prefiram o germânico Lidl ou, eventualmente, a mercearia
chinesa lá do bairro?) quando está em causa a internacionalização de uma
empresa portuguesa – que foi “apenas” a 19 de 20 empresas cotadas em bolsa a
fazer as malas para a Holanda. O “caso JM” é paradigmático do país que temos:
pensamos em perseguir uma empresa em vez de aplicar políticas para captar
investimento; condenamos um dos nossos maiores empregadores e ignoramos quem
delapidou Portugal; invejamos a Holanda mas continuamos a comportar-nos como a
Albânia.
Num dos últimos ataques de
histerismo colectivo expulsámos os judeus – precisamente para a Holanda – e
demorámos 400 anos a perceber o erro. Aparentemente, ainda hoje há quem tenha
dúvidas se foi um disparate. Está na hora de acordar. Acorda, Portugal!
Título e Texto: Carlos Carreiras,
jornal “i”, 11-01-2012
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