sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

FC Porto x Benfica: uma rivalidade que vai além do futebol (Contraponto)

Imagem: Jornal "O Jogo"
il _messaggero
Houve e há uma tendência para um certo revisionismo histórico que é de todo errado. E o modo como o texto está escrito denuncia isso mesmo, o que me faz redigir o seguinte testemunho.
Poderia citar imensos exemplos que comprovam isso mesmo, mas como o anónimo bem expôs, o Benfica é e sempre foi um clube de massas de cariz popular, tendo sim o regime se aproveitado da excelente equipa/geração de 60, procurando tirar dividendos desses êxitos.
Ao contrário dos seus grandes rivais, o Benfica esteve sem estádio próprio até 1954 - construído apenas com doações financeiras e trabalho próprio dos seus associados, sendo por duas vezes despojado dos seus campos, a última das quais em 1937 para a construção de um viaduto, na altura uma obra-fétiche do regime, sem que o clube fosse devidamente ressarcido por tal.
Porventura consequências do facto de em plenas décadas de 30 e 40, o clube ser tido dirigentes conotados com a oposição, numa altura em que o hino oficial do clube se designava "Avante, Avante P'lo Benfica!", algo que o regime veio em seguida censurar devido à conotação comunista da palavra Avante.
Ou como explicar o facto de em pleno festejos pelo fim da IIª Guerra Mundial - na qual o regime baloiçou entre uma colaboração numa primeira fase com as forças do Eixo e só no fim e desde 1943 em diante com os Aliados - a população sair à rua com as bandeiras dos vencedores do conflito, sendo as da URSS sido substituídas pelas bandeiras do clube, cuja uma grande extensão dos simpatizantes tinha afinidades políticas com o regime soviético.
Aliás, como já referido, o Benfica gozava de maior apoio em zonas de forte implantação proletária e oposicionista. E muitas figuras gradas conotadas com a oposição, nos mais variados ramos, eram benfiquistas.
Ao contrário dos seus rivais, durante o regime corporativista do Estado Novo, o clube era a única instituição de relevo, cujos orgãos sociais eram eleitos democraticamente em eleições directas, obedecendo às premissas dos próprios estatutos do clube.
Algo que também explica o porquê do estádio do Benfica apenas ter recebido jogos da selecção nacional só 18 anos após a sua inauguração, ao contrário dos estádios dos seus rivais - entre os quais o das Antas, que curiosamente foi justamente inaugurado a 28 de Maio de 1952, no aniversário do golpe de estado militar que levou à instauração da ditadura que vigorou em Portugal por 48 anos.
O Sporting, pela sua origem aristocrata e elitista sempre foi tido como o clube do regime. O acesso e aceitação como sócio do clube, obedecia a estritas regras de boa conduta e elevação moral e social. Isto em idos de 40 e 50. E beneficiou disso ao ter sido enviado como representante português à primeira edição da Taça dos Clubes Campeões Europeus, cujo envio era efectuado pelas autoridades competentes, isto ao desprezo do facto de ter sido o Benfica o campeão nacional na edição prévia a essa competição.
O FC Porto, na sua génese tem uma data difusa de nascimento, mas a acreditar no revisionismo imposto há uns anos a esta parte - do ano 1906, aliás celebrados durante 70 anos, passou a ter uma data de fundação de 1893 aproveitando um honónimo clube que entretanto tinha sido fundado - não nego que seja um clube de génese mais popular que o seu bem mais aristocrata vizinho Boavista FC, mas convém pesquisar e verificar a curiosa história da agremiação portista. Assim como o porquê de terem criado rapidamente muitos inimigos por entre os clubes da sua zona. Por entre tomadas de campos - a célebre história dos "Andrades" - e por entre alargamentos administrativos feitos em cima do joelho, para não deixar o FC Porto fora das competições nacionais - o acesso até 44/45 dependia da classificação em provas regionais, razão pela qual em 39/40 e 42/43 o campeonato nacional foi alargado beneficiando o 3º classificado da associação do porto...o FC Porto. Explica em parte o porquê do Benfica ser a 2ª equipa com mais adeptos na zona do Porto, segundo um estudo feito há uns anos a esta parte.
A questão do centralismo versus regionalismo transposto para o campo desportivo é algo que realmente só começa a ser tido em conta e começa a ter peso mediático quando o actual presidente do FC Porto toma posse e começa uma guerrilha verbal contra um inimigo comum - Lisboa - procurando numa táctica à Maquiavel unir diferentes facções. Desunião essa que explica o porquê do Porto ter estado 19 anos sem ganhar um campeonato.
Nada retira o mérito do clube nestes últimos anos - embora a supremacia tenha sido construída em bases bem dúbias e com base numa retórica bem inflamada (razão pela qual o clube não consegue sair do patamar de clube regionalista e afirmar-se como um clube nacional).
Agora, e mesmo descontando a natural simpatia que o autor possa sentir pela cidade ou clube em questão, convém ter noção dos factos históricos e não desvirtuar ou incorrer em revisionismo históricos que nada têm a ver.
Daí estas linhas que escrevo.
Texto (Comentário): il _messaggero, 13-01-2012
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