“Adolfito Bigodinho era um
toureiro/ que dizia que vencia o mundo inteiro/ mas um touro que morava em
certa ilha/ quis despertar a sua bandarilha/ paratimbum, paratimbum, bumbum”! No
início dos anos 40, leitor, os brasileiros cantavam essa marchinha, quando o
nazi-fascismo e seu adolfo-bigodinho mordiam o pó da derrota, diante da heróica
resistência inglesa, capitaneada por Churchill, o “touro que morava em certa
ilha”. Após a Batalha da Inglaterra em que a brava RAF detonou o primeiro passo
da pretendida invasão germânica, Churchill falou ao mundo, quando se referiu
àquela vitória como “o fim do começo” da derrocada do até então invencível
inimigo. Eterna ficou então sua frase: “Nunca tantos deveram tanto a tão
poucos”, referindo-se aos heróis da RAF.
A propósito, ainda há pouco, nós, brasileiros, amargávamos os “anos de chumbo” do “regime autoritário”. Reencontramos os caminhos do Estado democrático, mas descaminhos outros nos assolam, ora inspirando saudosismos autoritários, ora desmoralizando o exercício da política e as funções do Estado, ou amedrontando a todos, em sua vida cotidiana. Se dominamos a inflação e mantivemos um crescimento razoável, com uma melhor distribuição de renda, vemos alguns horizontes sombrios e alarmantes. A incapacidade de encarar a educação como prioridade, o avanço das drogas, a violência e a corrupção impunes atordoam todo brasileiro lúcido e decente. Sabe-se ainda que a corrupção impune, pelo exemplo que vem de cima, cria o clima de permissividade e amoralidade indutores a todo tipo de criminalidade.
Mais eis que, do âmago do
pesadelo, da vergonha nacional consagrada como “Mensalão”, a Nação reage,
através do Supremo Tribunal Federal. Nesse espaço supremo da Justiça, está se
dando nomes aos bois e sendo definido, por a+b, o conluio de “maracutaias”,
como diria o Lula, com o qual um Partido político pretendeu expandir seu poder,
enxovalhando por vez a “democracia burguesa” que, por definição ideológica,
sabidamente despreza. Fato é que, neste momento, a fonte dos “recursos não
contabilizados” do tesoureiro Delúbio, seja para pagar dívidas de campanhas,
seja para apoiar associações de filhas-de-maria, já está definida como
criminosa, com seus agentes condenados. Como na estória do preso que explicou
ao delegado estar detido porque puxava o cabo de um bucal, só que neste estava
a cara de um cavalo e, este, numa carroça roubada. Não houve como não chegar
aos cabeças do bando, a cadeia os espera, Amém!
A nação é testemunha de que a
impunidade dos poderosos levou um baque, mas não quebrou-lhes a onipotência, o
sentimento de que a tudo podem, pois, além de alimentarem esse delírio com o
néctar do poder, carregam na alma uma ideologia onipotente, que a tudo os
autoriza. Por isso ainda querem fazer o “julgamento do julgamento”, através do
qual desmoralizariam o STF, que seria apenas um “braço das elites
conservadoras”. É mole?
Título e Texto: Valfrido M. Chaves, Psicanalista,
17-01-2013
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