Liliana Valente
Paulo Portas concorda com presidente do Eurogrupo e diz que “quem é
cumpridor merece ser reconhecido”
Da Europa ainda não chegaram
boas notícias no plano económico e financeiro, mas podem chegar – ou a luz ao
fundo do túnel desejada pelo primeiro-ministro – para o programa de
ajustamento. Depois de o FMI ter admitido que deveria ser considerado um
abrandamento da austeridade, ontem o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude
Juncker, disse mesmo que vai propor aos restantes ministros das Finanças, no
dia 21 de Janeiro, um “reajustamento” das condições do programa português, quer
em termos financeiros quer orçamentais.
Jean-Claude Juncker, foto: Reuters |
O que significa esse
“reajustamento” não disse. No plano financeiro poderá propor melhores condições
em termos de juros e de maturidade da dívida e em termos orçamentais poderão
estar em cima da mesa novos alívios nas metas. “Propus, no caso de Portugal, um
reajustamento no que toca às condições financeiras e orçamentais que acompanham
o ajustamento”, respondeu Jean-Claude Juncker a uma pergunta da eurodeputada
Edite Estrela. O presidente do Eurogrupo deverá ser substituído no cargo ainda
este mês e esta posição até nem tem sido maioritária entre os ministros das
Finanças europeus, mas mostra alguma abertura no cenário europeu. Juncker
afirmou mesmo que tem “muitas interrogações sobre o ritmo de ajustamento que
tem sido aplicado a alguns países da zona euro”.
A abertura manifestada por
Juncker entusiasmou, em uníssono, o governo. Paulo Portas gostou de ouvir o
responsável europeu e defendeu que “quem é cumpridor merece ser reconhecido por
isso”. Mas ser o bom aluno chegará para ter melhores condições? Mesmo que uma
decisão de alívio das condições do programa venha a ser definida, Portugal tem
de continuar a mostrar que cumpre com as exigências da troika. E para isso tem
o importante teste de Fevereiro para passar. Na sétima avaliação, a Comissão
Europeia já quer ter fechadas com o governo as principais medidas para corte na
despesa do Estado de 4 mil milhões de euros. E a pressão europeia não vai
baixar. A prová-lo estão as declarações de ontem do presidente do Banco Central
Europeu, Mario Draghi, que, perante o optimismo em relação à crise de alguns
responsáveis europeus, como o próprio presidente da Comissão Europeia, Durão
Barroso, veio lembrar que é preciso continuar a cumprir com os programas, até porque
“é demasiado cedo para clamar sucesso”.
Certo é que o governo sorriu
ao ouvir Juncker falar em reajustamento. Além de Paulo Portas, o secretário de
Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Marques Guedes, lembrou que as
“declarações do presidente do Eurogrupo são declarações que se encaixam
perfeitamente naquela que tem sido a postura do governo, a atitude do governo”.
E espera que, se Portugal continuar a mostrar que cumpre – logo a passar nas
avaliações da troika ao programa –, “possa ser olhado de outra maneira e
continuar a ser apoiado, como tem vindo a ser apoiado, pelos seus parceiros
europeus e internacionais”.
No rol das boas notícias para
o governo esteve ainda o resultado das yield da dívida soberana a dez anos, que
baixaram para os 6,21%.
RECOMPENSAR
Uma renegociação do Memorando
de entendimento tem dividido CDS e PSD. Os centristas por mais de uma vez já
defenderam alterações ao programa. Em declarações ao i, o eurodeputado Diogo
Feio defendeu uma renegociação das condições que pode não passar por uma
renegociação do Memorando. Para o eurodeputado, se as regras forem gerais
aplicadas ao nível do Fundo Europeu de Estabilização Financeira, Portugal nem
precisaria de uma “renegociação” profunda. Ou seja, o eurodeputado, mais que
alterações orçamentais ao caso português – como uma nova mexida nas metas de
cumprimento –, quer melhores condições financeiras gerais para os países
cumpridores, como “juros regressivos de acordo com o cumprimento”.
Na prática, Diogo Feio está em
linha com Juncker, que vai propor que os países que cumprem sejam
“recompensados” de alguma forma. “Se as orientações europeias forem seguidas,
poder- -se-ão compensar os esforços de todos aqueles que cumprem os programas”,
até porque, disse, “um país que cumpre, actualmente não é recompensado.” Uma
recompensa para Portugal poderia chegar, por exemplo, através de “montantes
suplementares” de fundos de coesão. O próximo quadro financeiro europeu
plurianual 2014-2020 não ficou fechado em Dezembro e ainda não há data para a
apresentação da nova proposta aos 27.
O alívio da austeridade
começou por ser defendido por um dos braços da troika, o FMI. Na reunião anual
do Fundo em Tóquio, o economista-chefe Olivier Blanchard e a directora-geral,
Christine Lagarde, alertaram para os efeitos da austeridade. Na sequência das
palavras dos responsáveis do FMI, o Presidente da República aproveitou para
defender que “nas presentes circunstâncias, não é correcto exigir a um país
sujeito a um processo de ajustamento orçamental que cumpra a todo o custo um
objectivo de défice público fixado em termos nominais”. Portugal tem de atingir
um défice de 4,5% este ano e 2,5% em 2014, depois do acordo com a troika de
mais um ano para o ajustamento, conseguido antes das declarações do FMI, o que
levou o ministro das Finanças a dizer que estas declarações não se
direccionavam a Portugal.
Título e Texto: Liliana Valente, jornal “i”,
11-01-2013
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