quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

"Na minha terra, o ronco do mar é igual ao da turbina do 737"

Meu amado amigo,
Da fonte de onde peguei essas historinhas, jorra uma cachoeira delas. Eu tenho um caderno da minha infância onde aparecem um monte de historinhas com vocês desenhados no cantinho das páginas. É um barato. Não consigo imaginar a minha vida sem essa aviação dos anos 80 e 90. Acho que não seria um décimo do que sou hoje.

Foto: Carlos Macapuna
Hoje foi o meu primeiro dia na praia aqui. Estava tudo tão lindo: o céu, as plantas (tem um coqueiral lindo aqui, e dunas imensas de areia branca, é como subir naquelas nuvens que a gente contorna com o avião), o mar, a areia - eu me sentia numa catedral... Eu estava muito emocionada quando cheguei aqui, porque com esse papo de calendário Maia eu achei que nunca mais ia ver essa praia de novo, foi terrível. A sensação que tenho agora é a de ver pela primeira vez uma praia que eu já conheço há mais de 30 anos, foi como nascer de novo. 

Teve um momento em que eu caminhei de onde estava até quase ao fim da praia (ela tem pra mais de 5 km de extensão por quase 1 km de largura, entramos com carro e tudo na areia porque é tudo muito longe lá) e ao parar num local muito deserto eu só ouvia o vento e o ruído das ondas no mar, e aquela visão do chão branco de areia e aquele céu imenso azul com vários níveis de nuvem misturados, tendo ao fundo a mistura de ruídos sendo que, ao inclinar a minha cabeça, o vento parava de interferir no ruído das ondas e eu só ouvia aquele ronco do mar. Ao presenciar o ronco puro do mar, o chão branco como uma imensa nuvem o céu rente a eles, formou-se uma paisagem que eu já havia visto em algum lugar.

Era a vista da janela de uma cabine de passageiros de avião, quando estamos na poltrona olhando o avião atravessar as camadas de nuvem. Na minha terra, o ronco do mar é igual ao da turbina do 737 ouvido de dentro da cabine, aquele "vuuuuuuuum..." bem suave, ininterrupto. Caminhar sob o sol de S... é como voar, sem turbulência... Não é à toa que foi nessa praia que me apaixonei pelas coisas da aviação: ela é o espelho do próprio dom de voar! (Isso sem contar a presença marota dos pequenos ultraleves, que de vez em quando colorem o céu do meu paraíso. Eu gosto de acenar, mexer com eles. Tanto fiz, que ao ficar deitada num lago no fim da praia o dito aviãozinho alinhou pra passar em linha reta por cima de mim... E fiquei o dia inteiro fiscalizando o bichinho voando e haja ele dar voltas sobre a praia. Sempre assim, há décadas, diversos pilotos e ultraleves, essa eterna história, com contornos de Richard Bach. 
 
Imagem: João Carlos Rodrigues
Assim são meus dias à beira do mar: catando conchas e pensando em aviões. Vou ver se faço uns desenhos por esses dias, estava a fim de pintar uns aviões da Azul, eles são tão bonitinhos, se destacam facilmente no aeroporto pelo seu colorido, tais quais eram os da minha idolatrada Transbrasil.
Vou nessa, estou criando coragem para tomar um banho, pois estou ainda com a pele salgada do mar... Meu amado mar... Que banha tanto minha praia, quanto o litoral de Portugal. O mar ou Omar, tanto faz. De Richard Bach, Fernão Capelo Gaivota (ou Jonathan Gaivota), mistério do mar e da aviação. Mistério da Transbrasil. O mar de onde vieram portos, navios e marinheiros, que conceberam de si as criaturas da aviação. Como gaivotas e maçariquinhos que alçam vôo da areia na beira d água do mar. Ao som de Vincent Bell ou Rachmaninoff, ou Omar Fontana mesmo, ao gosto do freguês...
Abração e beijão! (salgados!)
Título e Texto: M. F. A.

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