Caro José Manuel,
Sejam as minhas primeiras
palavras para felicitar-te pelo teu aniversário natalício de 67 anos. Que transcorre
hoje, 05 de agosto.
Dia 26 será a minha
vez. Estarei contando os meus 86 anos, acossado por inúmeras mazelas, como
se já não bastasse o suplicío que nos tem aturdido. Eu e a Varig
nascemos em 1927. Ela desapareceu e, felizmente, ainda estou por aqui.
Noto que 19 anos nos
separam nessa caminhada terrena. Louvo tua garra e determinação em
busca de reparar injustiças que nos estão sendo impingidas pelos agentes da
Justiça. Sinceramente, não consigo aquilatar o porquê que leva o
Excelentíssimo Ministro Joaquim Barbosa a manter-se
nessa posição intransigente. Afinal, se sofreu algo no curso de sua
vida, não somos os culpados. Apenas ajudamos a construir o
Palácio em que Sua Excelência exerce o seu mandato.
Aplaudimos sua invulgar força de superação. Mas, reiteramos: não fomos
nós os causadores de suas eventuais desditas.
Amigo Zé, aqui vai uma
historieta: escrevo-te para lembrar o quanto a vida é ingrata. Volto o
meu pensamento aos meados dos anos 50, para lembrar-me bem
da inexistente Brasília de outrora. Das comentadas orações de Juscelino a
Dom Bosco e de minhas idas do sul ao cerrado, a fim de levar, em pequenos
cargueiros DC-3, os primeiros alimentos para suprir os candangos que
por lá mourejavam. Recordo-me, inclusive, que almoçávamos ao lado do
"Catetinho", situado à beira do lago. Tratava-se de casebre de
madeira, assim apelidado pelos candangos que eregiam as
fundações das primeiras edificações de Brasilía, em alusão ao Palácio do
Catete, no Rio de Janeiro.
Sempre avesso a
cargos públicos, fiz carreira e voei quase 40 anos como tripulante
técnico nas aeronaves da Varig, empresa que ajudamos a construir. Vê a
ironia do destino: àquela época, voávamos em média 200 (duzentas) horas
mensais, tudo pelo "progresso econômico da sociedade". Felizmente, em
movimento associativo, com suor e muita luta, construimos, conquistamos uma
Regulamentação Profissional dos Aeronautas que, no limiar dos anos
60, estabelecia jornada máxima de 80 horas mensais, além de outros
avanços sociais. Por tratar-se de uma Portaria assinada pelo então Ministro
Amaury Silva, os empresários do setor aéreo logo derrubaram-na. Em seguida,
ainda em 1960, o Presidente Jânio Quadros assinou decreto restabelecendo-a e,
desta feita, os donos de empresas declararam-se prontos a cumpri-la,
inteegralmente. Era puro medo do préstigio que Jânio conquistara em seus 9 meses
de governo, que redundou em inexplicável renúncia.
Ainda por incentivo de Jânio Quadros a Varig abocanhou o grande Consorsórcio Real-Aerovias, Com isso, agigantou-se. Ao aproximar-se do Sol, o Ícaro derreteu-se. Para seu lugar adotaram a famosa "estrela azul", para voar de Norte a Sul. Em 1965 foi a vez da famosa Panair do Brasil pagar o pato. Houve dores para muitos e alegria para outros. Não tinham Aerus!...
Mas agora veio o pior, chegou
a nossa vez: Após andanças mundo afora, depois de muito
termos contribuido para o bem comum, a Varig saiu de cena e, como
cruel castigo, do seu espólio adveio a privação dos
nossos direitos, nos termos que ora enfrentamos. Em ação
ganha em 1ª instância, no TRF-1 e no STJ está, agora, à mercê de
um Recurso Extraordinário que foi impetrado perante o STF, quando os autos
ainda estavam no TRF, No STF, a brava Relatora Ministra Cármen
Lúcia proferiu magistral voto, entretanto, não sei lá porque cargas d’água, o
Ministro Joaquim Barbosa, alegando tratar-se de "um processo
complexo", em 09/05/2013 pediu voto-vista para estudá-lo,
com a promessa de que logo o devolveria com o seu voto.
Infelizmente, são passados 90 dias e, mesmo sabendo da premência em
que vivem os dependentes do AERUS, continua "sentado em cima" ,
indiferente aos mais candentes apelos. Quando ao desembargador Moreira
Alves, do TRF-1, pelo tempo decorrido sem dar qualquer solução para o nosso
pleito, pelas mesmas razões esboçadas, dispensamo-nos de qualquer comentário. Será
alguma forma de moderno genocídio que não conseguimos entender? Sinceramente,
eu só queria saber o que têm contra nós, os idosos do Aerus!...
Voltemos ao contexto
brasiliensis. Alguns desavisados poderão indagar, sobre quem nos
massacra: ora essa, "os apaniguados" que se aboletaram nos
palácios então construidos. Sequer nos recebem quando pleiteamos os
nossos justos direitos. Em sua maioria esmagadora,
têm idade de serem meus filhos. Ao que tudo indica, quando jovens
estudaram e treinaram com "baba de quiabo" para "montar
banca", esbanjando mando e veleidades notoriamente fúteis.
Há exatos 25 anos, o Povo
foi às ruas e tonificaram um Estado que logo se tornou mambembe. Os
eleitos, fabricaram milhões de leis, a maioria delas" de
encomenda". Com isso, edificaram essa gigantesca "máquina
de moer gente". Em tal contexto, independente da coloração
partidária dos que têm exercido o poder, é de se indagar: onde estão os
Direitos Universais da Pessoa Humana? O que estão a fazer com a
decantada CONSTITUIÇÃO CIDADÃ? Onde estão as leis infra-constitucionais,
criadas para defender os idosos? Por que administradores, legisladores e
integrantes do Judiciário escamoteiam e não tratam as pessoas
carentes e os idosos com a atenção legal que lhes é devida?
Quando inquiridos, respondem: "eu não pude ver ainda essa
questão"... E dê-lhe embromação! No âmbito administrativo, o que se
vê são honrados "funcionalistas" que, labutando nas
sombras, pisoteiam os sofridos para fazer média e granjear posições.
Verdadeiros carreiristas!
Amigo, completamos 7
(sete) anos na luta para reaver os direitos que nos pertencem. Nesse
triste engodo, não sei o que nos está reservado no amanhã. Hoje, em
demonstração viva de humanismo, vejo que colocas em perigo a própria vida
em favor dos nossos semelhantes. Tens a nossa solidariedade! Baixo a nau
dos insensatos!!! Rogo que recebas os meus aplausos por tua postura. Com
votos de muita Paz, recebe o meu fraternal abraço,
Título e Texto: José Herênio, 05-8-2013
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