Cesar Maia
1. Os partidos políticos no Brasil - todos e mais recentemente o PT
- foram se parlamentarizando. Isso é produto de três movimentos. Um de adesão
ao poder executivo de plantão para se aumentar, em muito, a probabilidade de
reeleição de parlamentares. Outro, que a proximidade e a participação nos
governos foram gerando acumulação de recursos - financeiros e patrimoniais. Um
terceiro que é o imbricamento com o poder econômico.
2. As relações do poder econômico com os governos passaram a ter
várias linhas de acesso, na medida em que precisavam de interveniência dos
parlamentares dentro ou com influência no executivo nas diversas pastas. Isso
passou a ser parte constituinte das próprias políticas econômicas dos governos,
influenciadas pelo interesse privado articulado com os parlamentares no poder.
3. Os governos – todos - formaram amplas maiorias parlamentares e
passaram a governar por "decreto", ou seja, leis com destino certo de
aprovação. As maiorias parlamentares eram garantidas pela proximidade com o
poder e suas benesses. Seja este ou aquele método, todos podem ser enquadrados
no "genérico" "mensalão".
4. Essas políticas econômicas lastreadas nos negócios com os
governos eram insustentáveis. E veio a crise econômica. A profundidade da mesma
foi levando aos beneficiários do poder a relaxar os seus controles, imaginando
que o poder do PT entrava por dentro da polícia federal, do ministério público
e do judiciário. A mobilidade de Lula pelos salões e pelos aviões levou a essa
ilusão.
5. Hoje, vivemos uma crise tripla: econômica, política e moral,
depois de destampadas as relações do poder. Após as eleições de 2014,
atravessou-se a fronteira e o castelo de cartas desmanchou. A presidente Dilma
fragilizou-se e entrou num encilhamento. Lula entrou no jogo com as cartas que
jogou nos seus governos. O caminho é esse que vemos, atrair os parlamentares
para formar maioria - uma velha maioria com os mesmos métodos e os mesmos
personagens.
6. Mas o quadro hoje é estruturalmente diferente. Numa visão
ingênua - ou desesperada desse processo - não conseguem entender o que está na
raiz disso tudo e se confunde a crise política, que é profunda e que passa por
uma crise gigantesca de representatividade mostrada pelas pesquisas, passa por
maiorias políticas inorgânicas, pela ausência de lideranças pessoais ou
partidárias. Uma crise assim não se resolve buscando votos no parlamento, até
porque todos sabem que tomem as medidas que tomarem, a solução econômica só
poderá vir em médio prazo, ou fora do atual governo.
7. O jogo da Dilma e Lula se entende: querem construir uma minoria
suficiente para inviabilizar o impeachment. Nada mais que isso. O que der para
passar, passou. Mas nada disso vai responder à crise econômica e muito menos à
crise política que é muito maior que a crise parlamentar. Forme a maioria
parlamentar que formar e a crise política vai continuar.
8. Uma máxima política nos diz: NA POLITICA NÃO HÁ VÁCUO. E quem
entra nesse vácuo? Populistas de esquerda? Populistas de direita? A
Antipolítica? Ou frações políticas – lúcidas, lastreadas na experiência
internacional e com conhecimento das raízes brasileiras – entendem este
processo, ou... apertem o cinto, pois Andreas Lubitz está no comando.
Título e Texto: Cesar Maia, 18-8-2015
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