Cesar Maia
1. O referendo proposto pelo primeiro-ministro, Matteo Renzi, foi
amplamente derrotado na Itália no último domingo em 80% do país e por 60% vs
40%. A proposta de reforma constitucional previa a minimização do Senado e dos
governos regionais. Renzi – com ascensão fulminante – saiu de prefeito de
Florença para primeiro-ministro. Jovem, brilhante e inovador, apontado como
futuro líder europeu, foi atropelado pelos dois principais líderes do NÃO, com
suas marcas do populismo.
2. Beppe Grillo, que conduzia um programa humorístico na TV, criou
um partido menos de 10 anos atrás – o MV5-Movimento 5 Estrelas –, contra os
políticos, exaltando a antipolítica. Com 25% dos deputados, é a principal força
parlamentar isoladamente. E Berlusconi – populista de direita liberal – que
fundou seu partido em 1994, Força Itália, repetindo o slogan do Milan, time de
futebol que presidia: Força Milan.
Respondeu a vários processos –
inclusive com suposta ligação com a Máfia. Defendeu-se na opinião pública e com
ajustes na legislação. Finalmente foi condenado a trabalhos comunitários.
Importante ver no NETFLIX o documentário MY WAY – longa entrevista com
Berlusconi realizada em 2015, na forma de biografia.
3. A Operação Mãos Limpas, na Itália, precursora da Lava Jato,
atuou de forma brilhante mas – como era natural – com foco exclusivo no
Ministério Público e no Judiciário. E sob os holofotes multiplicados da
imprensa. As investigações e condenações ocorreram entre 1992 e 1996. A partir
da delação – premiada – de Mario Chiesa – que dirigia uma instituição
filantrópica – em dois anos, 2.993 mandados de prisão foram expedidos, 6.059
pessoas estavam sob investigação, incluindo 872 empresários, 1.978
administradores locais e 438 parlamentares.
4. Com isso, os principais partidos nacionais de pós-guerra – Democracia
Cristã, Socialista, Comunista e Liberal – foram desintegrados. Os partidos e os
políticos se concentraram em suas defesas. E junto com o desparecimento destes
partidos, a política passou a oscilar entre partidos políticos improvisados e,
mais do que isso, partidos eleitorais apenas e várias vezes para duas ou três
eleições, depois das quais implodiam.
5. Dessa forma abriu-se o Ciclo Berlusconi desde 1995, cujos
pilares influenciam a política italiana até hoje. Vide o papel cumprido por
Berlusconi no referendo deste domingo, 4 de dezembro. Abriram-se os espaços
para a antipolítica – Vide Beppe Grillo e seu MV5 – e para um populismo
extremado tão conhecido de nossa América Latina. Só que com meios eletrônicos e
publicitários sofisticados com Berlusconi – que criou a maior rede de TV da
Itália – privada, superando as estatais. E com meios eletrônicos associados às
Redes Sociais com Beppe Grillo.
6. Nos vinte anos pós Operação Mãos Limpas sem nenhuma engenharia
política institucional simultânea, com vistas a uma nova estabilidade política
como no pós-guerra com grandes estadistas – Alcide de Gáspari da DC, ou Palmiro
Togliatti do PC – os espaços abertos pelas corrupções demonstradas foram sendo
ocupados por um quinto escalão da política, exultantes com a demolição dos
partidos do pós-guerra.
7. De 1993 para cá, na Itália, a cada um ano e nove meses – em
média – caía um governo e entrava outro. Foram treze primeiros-ministros – agora,
com a renúncia de Renzi – quatorze. Sendo que três deles não tinham partido – eram
Independentes, produto das crises, e na busca de um quadro técnico extraído
diretamente da sociedade civil. Dois deles no período da Operação Mãos Limpas –
1993 e 1996.
8. Na Operação Lava Jato juízes e promotores têm cumprido sua
função e sua missão. Mas as lideranças das instituições não têm priorizado a
estabilidade política, e não têm negociado suprapartidariamente, para a
superação da instabilidade atual – que atinge todos os poderes com destaque – claro
– para o poder político. E assim a crise se arrasta e se intensifica. Uma crise
múltipla: econômica, política, ética e social.
Título e Texto: Cesar Maia, 8-12-2016
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-