Aparecido Raimundo de Souza
Assisto aos telejornais e tomo
conhecimento das aberrações contidas na última edição das provas dos candidatos
que pretendem seguir carreira, cada um na sua respectiva área, e, na formação
escolhida, representarem nosso país amanhã. Chamou a minha atenção, em
especial, a prova do estudante paulista Fernando Maioto, que dedicou dois
parágrafos de sua escrita, transcrevendo o hino do Palmeiras, seu time de
coração. Diante disso, me reporto ao
longínquo ano de 1583, quando o físico Galileu, então no albor das suas dezenove
primaveras, observou, pela primeira vez, que as oscilações dos candelabros da
Catedral de Pisa não dependiam do respectivo peso e sim do comprimento da
corrente que os prendia ao teto.
Descoberto isso, passou o
jovem mancebo a utilizar a sua visão clínica para avaliar a febre dos doentes a
seus cuidados, embora não dispusesse em
seu vasto currículo, de profissional formado em medicina. O fato é que, imbuído
pela sede e vontade de novos conhecimentos, Galileu, com uma das mãos, tomava os
pulsos desses pacientes e, com a outra, encurtava ou alongava a dimensão de um
pequeno pêndulo que trazia consigo, de modo a tornar suas oscilações numa mesma
linha meridiana aos batimentos dos pulsos dessas pessoas.
Notem, senhores, que há
quatrocentos e trinta e três anos atrás, o astrônomo não dispunha de nenhum
tipo de equipamento ultramoderno, ou com tecnologia avançada. Não havia, por
exemplo, a televisão, o rádio, a luz elétrica, a Internet, o notebook, o
computador ou o tablet. Sequer uma máquina de calcular ou qualquer outra
invenção que trouxesse a comodidade ou o vantajoso que nos assiste nos dias
atuais.
Apesar da deficiência de todas
essas parafernálias, o sétimo filho do alaudista Vincenzo Galilei, ao transpor
para o papel (que também não existia), se utilizou apenas e tão somente da
espreita miudamente estudada, atrelada às vigias incansáveis que o inspiravam a
seguir adiante. Igualmente, se precaveu da vivência das dezenove primaveras,
lembrando, mais uma vez, num tempo onde não se conhecia o progresso nem a
cultura. Apesar de toda essa retrógrada em sua vidinha de garoto de calças
curtas, Galileu concluiu com singular eloquência, que a queda de um corpo,
assimilado aos movimentos alternados em sentidos opostos da bilha metálica
suspensa, não necessitava estar sistematicamente sobreposta ao longo de um arco
de círculo. Dessa forma, deduziu com brilhantismo ímpar, que o declive do
corpo, como um todo, não dependia exatamente da sua carga real.
Imaginem meus caros, um desses
imberbes, com toda essa tecnologia de ponta posta a seu favor, na pele de
Galileu, redacionando, numa dessas provinhas do ENEM (SIGLA QUE SIGNIFICA
“ENXAME NACIONAL DO ENSINO DE MERDA”), as suas observações em torno de um
desses sólidos indeformáveis, num texto de vinte ou trinta linhas. Como usaria
as palavras certas, as vírgulas nos lugares corretos, os períodos e as orações,
sem cair no ridículo de truncar a verborragia vernacular pátria transcrevendo,
por exemplo, uma cagada estupidamente fedorenta numa privada suja de um
banheiro público de Viena? Como e quais seriam seus erros entrelaçados as
concordâncias verbais e outros recursos da língua? Vejamos:
“... A pozição do pendulo fica
perfeitamente definida pelo valor da elongassão, pois, como se verifica na
fassílima verificação, as tais vassilações não dão volta, são plana. Para
evitar qualquer ambiguidade ambígua, convém conciderar como positivas as
elongassãos que se encontram do outro lado, que é o lado direito e não o do
meio, mas, lógico, o esquerdo. Para não me tornar xato, nesse açunto, contarei
em rápidas palavras como foi uma dor de barriga que me acometeu dias desses,
quando passeava pelas ruas de Piza. Me deu uma vontade de cagar dos diabos e ai
me acomodei e a minha única bunda, que
sempre andam juntas com o olho do cu, aos jardins de Piza e como o pendulo
ossilando junto com a bosta, me fartei de peidos e boa merda, que me desseu
pelas pernas atarantadamente. Nessa confusão toda, descobri que os santos em seus altares, dentro da nave da
capela sistrina, não ossilam com o vento, mas balanssam balanssadamente pelo
fato das roupas pesadas que os padres da cúria vestem neles...”.
Nos idos de 1583, portanto, o
então jovem adolescente Galileu, poderia ser considerado uma aberração, posto
que possuía uma mente mais que brilhante. Nos dias de hoje, certamente um
maluco, um doido, um noia, um sem noção, destituído do óbvio, ou do mínimo,
para a sobrevivência, conseguiu, com um simples olhar, direcionar a intensidade
do peso de um corpo, corroborado, “a depois”, por Newton, que, efetivamente, deixou claro que a gravidade
não é senão um caso particular da atração universal e por sua vez, a mesma causa que faz cair os
corpos na superfície da Terra é idêntica a que retém os planetas girando em
suas respectivas órbitas.
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EM MEU PRÓXIMO LIVRO “LINHAS MALDITAS”, VOLUME 3.
COMO? SE PRETENDO CALAR A BOCA? SIM, MEUS AMADOS, QUANDO MORRER...
Título, Imagens e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, 63 anos, jornalista, 10-12-2016
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Muito bom!
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