Rui Ramos
A classe política portuguesa tornou-se há
muito a guardiã de realidades que vêm de trás, desde o corporativismo
salazarista ao PREC gonçalvista. É essa quase que a sua única razão de ser.
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Taxistas chutam carro durante protesto contra a Uber em Madrid, no ano passado. Foto: Paul White/AP Photo |
Quanto aos taxistas, que
dizer? Talvez que é mais fácil compreendê-los do que simpatizar com eles. Os
táxis beneficiaram, durante anos, de um sistema público de contingentação que
não só fez dos alvarás um bom negócio, mas permitiu aos condutores
cultivar impunemente as mais variadas excentricidades corporativas, seguros de
que aos clientes, sem alternativa, não restava outro remédio senão sofrer
estoicamente a sua má criação, opiniões, e preferências radiofónicas. De
repente, tudo foi posto em causa pelas plataformas electrónicas de transporte,
que permitiram a milhares de particulares prestar o mesmo serviço a preços
frequentemente mais baixos e com muito mais cortesia e transparência.
Até aqui, imagino que já toda
a gente tenha aprendido a lição. Mas há outra história por contar.
É que, em princípio, os
políticos deviam estar com os taxistas. Reparem: esta é uma massa relativamente
importante de empresários e de trabalhadores que beneficiam de um monopólio
público e das respectivas rendas, e que a qualquer governo poderia interessar
ter como clientes satisfeitos. Os taxistas não são funcionários públicos, mas é
como se fossem. Mais: estão concentrados nas cidades, cujo trânsito podem
bloquear ou perturbar. São o tipo de classe profissional capaz de proporcionar
à elite política todas as razões para cedências. Seria fácil, aliás, tratar as
plataformas electrónicas como exemplos de “capitalismo selvagem”. O esquerdismo primário
que hoje em dia passa por ciência nas universidades dispõe, para o efeito, da
necessária doutrina sobre a “uberização da economia”.
Era o que se poderia esperar:
a classe política portuguesa tornou-se há muito a guardiã das “realidades que
vêm de trás”, para usar uma expressão do presidente da república, desde o que
ficou do corporativismo salazarista até ao que sobreviveu do PREC
gonçalvista. É essa quase que a sua única razão de ser: defender, contra todas
as mudanças, velhos estatutos, velhas situações, velhos privilégios, velhas
maneiras de fazer as coisas, e as rendas que lhes estão associadas. Sendo
assim, porque é que os políticos recusam aos taxistas a mão que estenderam a
outras corporações — e, para além de todas as vantagens que a lei já tenta garantir aos táxis, não impõem também a contingentação às plataformas (porque, como é óbvio, a contingentação é o grande problema)?
Há dias, o presidente da república ajudou a desvendar o dilema: “O que
eu espero é que se atinja um equilíbrio justo na concorrência ante uma
realidade que vem de trás e é socialmente muito importante e uma realidade que
arrancou há menos tempo e que está a alargar-se na sociedade portuguesa.” A
segunda parte da frase diz tudo: esta é talvez uma das poucas situações em que
a nova economia criou rapidamente uma massa de interessados que, apesar de
inorgânica, nem por isso deixaria de reagir, mais não sendo com mau humor. A
adesão às plataformas electrônicas foi quase instantânea e maciça. Já é difícil
imaginar a vida urbana sem a facilidade de chamar um carro pelo telemóvel, e
sem surpresas sobre o percurso, o preço e os humores do condutor.
Significativamente, pouca gente pareceu nos últimos dias queixar-se da falta de
táxis.
Imaginem que as plataformas
digitais de transporte ainda não tinham aparecido. Estaria agora alguém a
dizer-nos que, caso fossem autorizadas, só os ricos passariam a poder usar
transporte individual. Tal como, muito provavelmente, se o retalho alimentar
fosse, como outros serviços ainda são, um monopólio estatal, teríamos imensa
gente a explicar-nos que sem supermercados do Estado não haveria comida no
país. O reacionarismo do regime depende de não podermos experimentar outras
coisas. Neste caso, experimentamos. Já é demasiado tarde para voltar atrás.
Título e Texto: Rui Ramos, Observador,
26-9-2018
Quem utiliza Uber pela primeira vez vira cliente.
ResponderExcluirOs taxistas, em vez de evoluirem, querem que as 'plataformas' involuem, sejam como eles!
Foi um grande problema no século XVII quando chegaram os primeiros carros: os carroceiros não paravam de fazer greves.
Em países governados por socialistas ou assemelhados os taxistas ainda levam a melhor, porque os governos esquerdistas jamais pensam no povo, na população. Pensam numa clientela e que se lixe o povo!
No Brasil, em 1972, só havia táxis amarelos, os amarelinhos, sem ar-condicionado, nenhum deles. Havia também os fuscas, sem o banco da frente do passageiro, o motorista fechava a porta puxando um barbante amarrado à porta.
ResponderExcluirDepois, vieram os rádio-táxis, com ar refrigerado e eram chamados via central telefônica... e veio uma porrada de cooperativas de táxis, todos com ar-condicionado.
Os amarelinhos, ou evoluiam ou desapareceriam: atualmente todos têm ar-condicionado e alguns têm a maquininha para passar o cartão (Débito/Crédito)...
Ascensoristas, frentistas, cobradores de ônibus... são profissões em extinção!
O problema dos táxis no Brasil são as prefeituras.
ResponderExcluirElas cobram vistorias, atualizações, uso do GPS, exames anti-drogas.
Mudam cores, e taxímetros fazendo acordos corporativos com muita corrupção.
Taxicistas não pagam IPVA e tem desconto no ICMS e IPI.
Deveriam ser proibidos UBER em carros alugados.
Quando o UBER entro eram carros de luxo, hoje tem UBER no Brasil até em FORD KA
fui...
Não vá ainda! Hehehe...
ExcluirSim, quando a UBER começou disponibilizava apenas carros de luxo. Hoje, acho que são quatro opções...
AQUI, VOU AO GOOGLE PROCURAR A PÁGINA DA UBER, para conferir as opções e eis o que encontro:
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