João Marques de Almeida
Chávez mostrou como manter formalmente a
democracia sem deixar o poder. Basta controlar os recursos econômicos, a
justiça e a comunicação social. Eis a atração da Venezuela para as esquerdas
radicais.
Agora que o fracasso do socialismo Chavista é ainda mais evidente, o Bloco de Esquerda tenta fugir do que sempre defendeu, tratando Maduro como mais um ditador militar. Maduro é muito mais do que um ditador militar: é um ditador socialista. Aliás as experiências socialistas radicais acabam sempre em ditaduras, e muitas vezes militares. Foi assim na Europa de Leste, da União Soviética à Jugoslávia. É assim na Ásia, nos países com regimes Marxistas, como a China e a Coreia do Norte. E acontece o mesmo na América Latina, de Cuba à Venezuela, passando pela Bolívia.
Durante os últimos vinte anos,
nenhum país foi tão fiel ao programa socialista como a Venezuela. O regime
nacionalizou os sectores mais importantes da economia, controlou quase
inteiramente a comunicação social, partidarizou as forças armadas e subordinou
a justiça aos interesses do poder político. Acabou como acabam os regimes
socialistas: empobrecimento geral, a maioria da população a viver na miséria,
limites à liberdade, uso de violência contra as pessoas, presos políticos,
batotas eleitorais e corrupção do regime. O cumprimento das promessas é que
nunca aconteceu: enriquecimento, justiça social, liberdade política. Nada de
positivo resultou da revolução Chavista.
Mas a Venezuela constitui um
caso interessante para as esquerdas radicais na Europa, sobretudo em Espanha e
em Portugal. Formalmente, continua a ser uma democracia, com partidos de
oposição e com um parlamento a funcionar. Na Europa, as esquerdas sabem que
hoje é impossível acabar com a democracia parlamentar. O preço seria a saída da
União Europeia e o fim do acesso aos recursos necessários para distribuir pelas
clientelas. Nos países sem petróleo, o socialismo precisa dos fundos europeus e
do crédito barato do Euro. O regime de Chávez mostrou como é possível manter
formalmente a democracia sem nunca abandonar o poder. Basta controlar os
recursos econômicos, a justiça e a comunicação social. Eis a atração da
Venezuela para as esquerdas radicais na Europa.
Foi esse o sonho de Sócrates
para si, para o seu partido e para Portugal. Não conseguiu porque, apesar de
tudo, Portugal é diferente da Venezuela. Mas tentou e a sua proximidade ao
regime Chavista (e a Chávez pessoalmente) foi muito além do que exige a defesa
dos interesses nacionais. Mais do que uma proximidade ideológica, Sócrates
partilhava com Chávez a visão sobre o exercício do poder, o controlo da
economia e os limites à independência da justiça e da imprensa.
No momento em que a Venezuela
mostra a falência do socialismo Chavista, em Portugal a geringonça exibe as
tentações de natureza Venezuelana. Assistimos quase todos os dias a propostas
de nacionalizações de empresas, ataques à justiça, e críticas à imprensa que
discorda do governo. Com muito cinismo, o Bloco distancia-se agora de Nicolás
Maduro, mas sonha com um regime Chavista em Portugal. Com a geringonça, António
Costa alimentou esses sonhos.
Pior, a aliança com o Bloco reforça as heranças
jacobinas e as tentações Chavistas dos socialistas. Nunca nos podemos esquecer
que um antigo PM socialista tratou Chávez como “um dos seus melhores amigos”.
Sócrates tinha razão. Lembrem-se disso quando assistirem ao que se passa na
Venezuela. O problema não é a Venezuela, é o socialismo.
Título e Texto: João Marques de Almeida, Observador,
3-2-2019
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