terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

[Livros & Leituras] No Princípio... Bang!: Cosmologia e Teologia: Uma Introdução ao Argumento Cosmológico Kalām

Monografia em Teologia, escrita em 2012, por Vitor Grando.
Acabei de ler. Embora pense ser uma obra para iniciados em Teologia/Filosofia, achei muito interessante. Sempre é bom aprender, né?

Abaixo, transcrevo trecho em que Vitor alude, na monografia, ao filósofo judeu Saadia ben Joseph. (Encyclopædia Britannica).

“Saadia ben Joseph (882-942) foi o primeiro dos grandes filósofos judeus. Os judeus eram um meio termo entre os pensadores muçulmanos e os teólogos cristãos do ocidente e foi através deles que a filosofia árabe influenciou a Europa medieval.


Dada a influência dos pensadores judeus no escolasticismo cristão, suas formulações do argumento cosmológico merecem nossa atenção.

A filosofia judaica era consideravelmente dependente da filosofia árabe. A principal diferença era que, enquanto esta era mais ampla, aquela era mais preocupada com questões religiosas, ou seja, seria mais apropriado chamá-la de ‘filosofia da religião’. Julius Guttmann nos explica que:

Ainda mais do que a filosofia islâmica, [a filosofia judaica] era definitivamente uma filosofia da religião. Ao passo que os aristotélicos e neoplatonistas islâmicos lidavam com toda a amplitude da filosofia, os pensadores judeus dependiam grandemente das obras dos seus predecessores islâmicos no que tange às questões filosóficas gerais, e se concentravam mais especificamente em problemas filosóficos-religiosos... a grande maioria dos pensadores judeus tinha como principal objetivo a justificação filosófica do judaísmo, lidando com problemas de metafísica em um contexto filosófico-religioso.

A filosofia judaica, dada a influência do pensamento árabe, também trouxe desenvolvimentos ao argumento cosmológico kalām. Saadia, que foi muito influenciado pelos mu’tazilites, foi o principal expoente do referido argumento tendo defendido ao menos quatro argumentos para a criação do universo: o argumento da finitude do mundo, o argumento da composição, o argumento da temporalidade dos acidentes e o argumento da finitude do tempo. Para nossos propósitos, é apenas o quarto argumento que nos interessa. Neste argumento, Saadia tenta reduzir a hipótese da infinitude do tempo ao absurdo:

O quarto argumento é [baseado] no [na concepção do] tempo. Isto é, eu sei que há três períodos [distintos] de tempo: passado, presente e futuro. Embora o presente seja menor que qualquer outro momento de tempo, eu presumo... que esse momento presente é um ponto e digo...: ‘vamos supor que uma pessoa deseje avançar mentalmente no tempo para além deste ponto. Ela não conseguiria fazê-lo pelo fato de o tempo ser infinito e o que é infinito não pode ser mentalmente atravessado de maneira ascendente [retrocedendo ao início].

Agora, essa mesma razão torna impossível a existência ter atravessado o infinito de maneira descendente até chegar a nós. Mas se a existência não tivesse chegado até nós, nós não teríamos vindo a ser... Visto que, entretanto, eu vejo que eu existo, eu sei que a existência atravessou todo o conjunto de tempo até chegar a mim e que, se não fosse pelo fato de o tempo ser finito, a existência não poderia tê-lo atravessado.

O que Saadia defende, portanto, é que é impossível regredir mentalmente através do tempo até alcançar o início do tempo. Assim, Saadia defende que não é possível ascendermos mentalmente através de toda a série de momentos passados de tempo já que o time é ex hypothesi infinito.

Por mais longe que nosso pensamento atravesse no tempo, ainda restará um infinito temporal a ser transcorrido. Por essa mesma razão, seria impossível que a existência progredisse através do tempo até alcançar o presente momento.

Dado que nós hoje existimos, a conclusão, portanto, é óbvia: o tempo é finito. Pois somente assim a existência poderia ter chegado até nós.

Dessarte, Saadia prova que o mundo e o tempo tiveram um início. Ele procede então a dizer que já nada pode ser causa de si mesmo, logo o mundo precisa ter tido um Criador.”

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Um comentário:

  1. Gostaria de expressar meu pensamento sobre ideologia e filosofia.
    A IDEOLOGIA, sobre qual sou contra, é mental e de falsa consciência que separa o conhecimento ideológico do conhecimento científico. Na verdade, A ideologia torna conhecimento humano e atividade pessoal em preferências e valores individuais.
    É fácil alguém dizer que sua ideologia é filosofia, como por exemplo a TEOLOGIA ou o socialismo.
    Não existe uma resposta porquês para que as pessoas aceitem determinada ideologia, suas verdades ou mentiras em de seus enunciados muitas vezes em teses não convincentes, a certeza que trazem são seus portavozes.
    As ideologias inúmeras de pessoas, através de líderes que são aceitos como porta-vozes da verdade.
    líderes de critérios é que esses líderes que pensam ouvir a voz de DEUS ou que transformem a Ciência em DEUS.
    É nesse momento que as ideologias se apresentam científicas, e o inferno de DANTE se inicia.
    A filosofia só admite o saber.
    O saber que nos transforma todos em PENSADORES.
    A FILOSOFIA nos transforma em silogistas.
    Ela não tem líderes, nem socialistas papas, nem ladrões de 9 dedos.
    Ela não crê em TRUMP, nem em Bolsonaro, ela analisa a análise de suas atitudes, nunca as pessoais, mas as sociais.
    Enquanto as religiões e políticas universais não considerarem os processos de controlar a natalidade no mundo como interesse humanitário, destruiremos nosso planeta em 50 anos.
    O niilista aqui que escreve felizmente terá partido para adubar esse planeta lindo que os homens tentam destruir.
    Na subsistência, nosso planeta tem um ciclo preservativo altamente profícuo, infelizmente o HOMEM É O ÚNICO QUE NÃO TEM PREDADOR.
    FUI...

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