Anderson Vieira
O segundo semestre de 2019
reserva aos senadores um dos maiores desafios desta legislatura: a votação da
reforma da Previdência. A Proposta
de Emenda à Constituição 6/2019 passou em primeiro turno pelo Plenário
da Câmara
dos Deputados em 12 de julho e, depois de votada em segundo turno
pelos deputados (o que deve ocorrer a partir de terça-feira, dia 6 de agosto),
começará a tramitar na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), onde
terá como relator o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).
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O presidente do Senado, Davi
Alcolumbre, o senador Tasso Jereissati, que será o relator da proposta na CCJ.
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
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Apesar disso, o vice-líder do
governo no Senado, Izalci Lucas (PSDB-DF), acredita que a tramitação deve ser
menos complicada de agora em diante. Na opinião dele, será mais fácil aprovar o
texto no Senado, uma vez que os senadores já vêm acompanhando as votações dos
deputados e até enviaram sugestões às lideranças.
— Acredito que isso [a
reforma] será aprovado até setembro ou outubro, no máximo. Acho até que em
setembro, se for dada a devida prioridade. E o presidente [do Senado] Davi
Alcolumbre já disse que vai priorizar. Óbvio que vamos acompanhar normalmente,
porque aqui é uma Casa revisora e precisamos aperfeiçoar o projeto — disse em
entrevista à Agência Senado.
Ainda segundo Izalci, pode ser
que a pressão de certas categorias profissionais vá continuar, mas, no geral,
os principais pontos da reforma já foram resolvidos na Câmara dos Deputados.
— Não vejo grandes mudanças no
Senado. Acho difícil mudar muita coisa. A questão do BPC [Benefício de
Prestação Continuada] já foi retirada, assim como as regras de aposentadoria
rural. Acredito que não tem muito que mudar — opinou.
Críticas
Oposicionistas, no entanto,
não têm o mesmo otimismo. O senador Jean Paul Prates (PT-RN) afirmou que, se
depender da oposição, o Senado aprovará a proposta apenas quando o texto
corrigir as injustiças e os problemas nela contidos.
— Por isso, acho incorreto
fixar uma data. Pode ser uma semana ou seis meses. O importante é que a reforma
combata, de fato, os privilégios e não prejudique os mais pobres, como faz
atualmente, mesmo depois dos avanços promovidos — afirmou.
Para o parlamentar, houve
avanços entre o texto apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro e o aprovado
na Câmara, até porque a proposta original do governo “simplesmente destruía a
Previdência pública com a capitalização”. Apesar disso, diz, o texto segue
“sendo injusto, especialmente com os mais pobres”.
— A reforma promove duas
reduções drásticas no valor das aposentadorias. Na regra atual, calcula-se o
salário com base nas 80% maiores contribuições. O novo texto inclui todo o
período que se contribuiu, até um eventual estágio, por exemplo, que tem
contribuições menores. Quando se faz isso, o valor da aposentadoria é reduzido.
A proposta aprovada diz também que, se a pessoa trabalhou 20 anos, vai receber
apenas 60% do salário de contribuição, com aumento de 2% para cada ano. Essa
regra prejudica especialmente as mulheres e os mais pobres, vítimas do
desemprego e da informalidade, que se aposentam apenas com o tempo mínimo de
contribuição — opinou.
Outro tema “gravíssimo”,
segundo ele, é a situação dos professores. Para Jean Paul, é injusto uma
profissional da educação básica se aposentar apenas aos 57 anos, com vencimentos
reduzidos, conforme a situação.
— É triste saber que de R$ 1
trilhão que a reforma “economizará”, cerca de 80% sairá do couro do trabalhador
do INSS. E sabemos que no INSS não há privilegiados. O benefício médio do INSS
é de R$ 1,4 mil, sendo que dois terços dos benefícios do INSS são de um salário
mínimo [R$ 998]. O Brasil precisa ajustar sua Previdência? Precisa, todo
governo deve fazê-lo. A proposta do governo Bolsonaro, porém, corta na carne
dos mais pobres. Como senador de um estado pobre, eu não posso admitir —
avisou.
PEC paralela
Para o senador Tasso
Jereissati, uma possível inclusão dos estados e municípios — ponto que não foi
definido pela Câmara — não deve atrasar a tramitação da reforma como um todo no
Senado, visto que uma alternativa mais provável é a apresentação de uma proposta
de emenda à Constituição para tramitar de forma paralela.
— Pessoalmente sou favorável à
inclusão de estados e municípios. Acho até que é essencial.
Estamos estudando com a nossa
assessoria técnica qual é a saída que temos a aplicar e, a princípio, a ideia é
uma PEC paralela [...] Aqui somos a Casa da Federação e é nossa obrigação
cuidar disso. Uma das funções do Senado é manter o equilíbrio federativo —
afirmou.
Já o líder do PT, senador
Humberto Costa (PE), antecipou que, independentemente da PEC paralela, a
oposição vai tentar rejeitar a reforma no Senado.
— Seria uma outra proposta de
emenda. Isso é possível de fazer, mas acho muito cedo para definir esses
caminhos, porque muita água vai rolar por baixo dessa ponte. Nós vamos ter
muita discussão, a oposição vai continuar trabalhando pela rejeição dessa
proposta de reforma e só mais para a frente vamos sentar para discutir essa
questão — afirmou à Rádio Senado.
Tramitação
Diferentemente da Câmara, no
Senado não haverá comissão especial, e a proposta começará a tramitar pela
Comissão de Constituição e Justiça para depois ir a Plenário, onde serão
necessários 49 votos favoráveis dos 81 senadores (o equivalente a três quintos
do total) em cada um dos dois turnos de votação.
Se os senadores fizerem
mudanças, o texto retornará para os deputados. As regras só começarão a valer
depois de a PEC ser promulgada pelo Congresso Nacional, pois, diferentemente de
um projeto de lei, as propostas de emenda à Constituição não são enviadas para
sanção do presidente da República.
Título, Imagens e Texto:
Anderson Vieira, Agência Senado, 1-8-2019
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