segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Liberdade de expressão não é um direito absoluto

Dauro Machado

Colunista opina sobre o imbróglio entre a produtora de conteúdo Porta dos Fundos e entidades que representam religiões Cristãs

Segue no judiciário carioca o imbróglio entre a produtora de conteúdo Porta dos Fundos e entidades que representam religiões Cristãs. Esta semana um Desembargador concedeu liminar para que a Produtora retirasse de todos os veículos e mídias seu especial de final de ano onde de forma descarada insinua que Jesus Cristo teria tido uma experiência homossexual. O Desembargador alegou que concedeu a cautelar para “acalmar os ânimos.”

Foto: Divulgação
A fundamentação do Desembargador pode lá não ter sido a melhor, mas a produtora Porta dos Fundos também precisa entender que a liberdade de expressão não é um direito absoluto. O especial de final de ano da Produtora foi de uma infelicidade sem tamanho além de ter claramente ofendido aqueles que tem Jesus Cristo como principal figura de sua fé. No caso do Brasil, a imensa maioria da população é cristã portanto a imensa maioria entendeu que a simples hipótese de que Jesus Cristo teria tido uma experiência gay é no mínimo um escárnio.

Parece que a Produtora Porta dos Fundos e outras produtoras de conteúdo gostam de esticar a corda e polemizar em nome de uma incontrolável liberdade de expressão. Há sim que existir limites e impor limites a quem não os tem não é censura, é a preservação dos direitos daqueles milhões de outros que se sentiram ofendidos com determinado fato.

Não me venham alguns coleguinhas defender a Produtora e alegar que a liberdade de expressão foi conquistada a duras penas pelo povo brasileiro. Claro que mandar retirar um conteúdo do ar é uma medida radical, mas não haveria outra. Aqueles que se sentem ofendidos por determinado conteúdo muitas vezes buscam reparo indenizatório na Justiça, o que seria impossível para Jesus Cristo, que não passou procuração para ser juridicamente representado. Não dá para indenizar a Jesus.

O mais triste de toda essa confusão é a constatação da falta de criatividade daqueles que pretendem fazer o chamado humor inteligente. As produções da Porta dos Fundos são normalmente apelativas, rebuscados e sem a menor graça. Existem no Brasil fatos cotidianos que a Porta dos Fundos poderia explorar para fazer um humor de qualidade melhor e sem achincalhar uma figura sagrada como Jesus Cristo.

Ao esticar a corda e atacar um ícone religioso, a Porta dos Fundos dá motivos a radicais que lançarem coquetéis molotov sem sua sede. Ao ofender figuras religiosas a Porta dos Fundos em nada ajuda a Democracia, pelo contrário. Ofendendo figuras da religião a Porta dos Fundos dá combustível para o radicalismo, o que definitivamente não é positivo para o Brasil, conhecido mundo afora pela tolerância religiosa ao longo de sua história.

Se estivesse em determinados países muçulmanos, onde a simples tentativa de criar uma imagem do Profeta Maomé é considerado grave pecado, a Porta dos Fundos não teria sua sede atacada com coquetéis molotov. Um homem bomba se encarregaria de se explodir, matando produtores, autores, atores e quantos mais estivessem em volta.

Definitivamente, o especial de fim de ano da Porta dos Fundos fez um enorme favor não a liberdade de expressão, mas ao crescimento do radicalismo religioso.
Título e Texto: Dauro Machado, Diário do Rio, 12-1-2020, 15h15

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