Vitor Geraldi Haase
Tudo que esse Governo faz ou
diz encontra uma resistência insensata por parte da imprensa e da esquerda, que
são a mesma coisa. Admito que o Bolsonaro e o Weintraub falam muita besteira e
todos ganharíamos se calassem a boca. Seria o caso de dizer-lhes, como o Rei da
Espanha para o Hugo Chávez: “Por que no te callas?”
Mas eles não falam apenas.
Fazem muito. E algumas coisas que fazem são ótimas, apesar de desagradarem aos
justiceiros sociais, os ungidos pela superioridade moral advinda do
petralhismo.
O que Lula e Dilma faziam? O
que faz o Bolsonaro? Chegava o Carnaval na era petralha e o governo fazia
propaganda do uso de drogas e do sexo casual. A mensagem era:
a) “Transem à vontade,
comportem-se como bichos. Não tem problema. O governo fornece camisinha e pílula
do dia seguinte”;
b) “Usem drogas, o
governo fornece seringas”.
Agora vem o Weintraub e diz:
“Pais e mães, contem histórias para seus filhos, construam uma família. Isso é
importante para que as crianças aprendam a ler”.
Agora vem a Damares e diz assim:
“Gurizada, refreiem o ímpeto. Começar a transar muito cedo não é uma boa”.
E o mundo desaba, como se eles
estivessem falando coisas absurdas. Vamos ver por que não são absurdas. Vamos
pegar o caso do sexo. Minha geração é culpada pela tal revolução sexual.
Lutamos pelo direito ao “sexo antes do casamento”. E fomos bem-sucedidos.
Atualmente, os jovens têm liberdade para transar na adolescência. Nem por isso
são mais felizes. Se fossem, não teriam proliferado os 700 gêneros que existem
atualmente.
Essa proliferação dos gêneros
apenas reflete infelicidade, profunda insatisfação com a própria sexualidade.
Comportam-se como adolescentes auto-referenciados, acreditando que as outras
pessoas estão se preocupando com a sua (deles) sexualidade. Cada uma das pessoas
felizes está tão ocupada com seu sexo que não tem tempo nem motivação para se
ocupar da sexualidade alheia.
Facilita, a vida sexual da
Damares deve ser mais satisfatória do que a de toda essa turma que a critica.
Como evangélica, a Damares entende que qualquer relação sexual envolve (ou
deveria envolver) um componente afetivo, de relacionamento interpessoal. Sexo
envolve (ou deveria envolver) responsabilidade interpessoal. Lord Scruton
tratou desse assunto em um livro brilhante sobre o desejo sexual (Scruton,
2006).
A diferença é gritante. A
política da era petralha era orientada por wishful thinking ideológico.
A política de direitos humanos
da Damares é, sim, orientada por valores morais, mas também por uma reflexão
filosófica sólida (de Carvalho, 2020) e por evidências científicas.
Vamos às evidências
científicas. Reis e cols. (2020) acabaram de publicar um estudo demográfico
muito interessante. O estudo foi conduzido com mais de 4 000 crianças de 11 a
15 anos de diversos estados brasileiros. Os resultados mostraram que a chance
de se envolver com sexo precoce e sexo inseguro dobra para crianças que relatam
uso de drogas e que vêm de famílias com estilo parental negligente.
O que significa estilo
parental negligente? Na década de 1970, Diane Baumrind desenvolveu um tipologia
dos estilos parentais, baseada em duas dimensões, controle e envolvimento:
a) Autoritário
(controle sem envolvimento);
b) Indulgente
(envolvimento sem controle);
c) Negligente (ausência
tanto de controle quanto de envolvimento);
d) Authoritative
(presença tanto de controle quanto de envolvimento).
Os resultados de Reis e cols.
(2020) confirmam para a população brasileira aquilo que tem sido observado de
forma consistente, há décadas. As crianças de famílias authoritative são
mais felizes, se desenvolvem melhor.
As famílias autoritárias só
funcionam para os asiáticos.
Uma família indulgente ou
negligente é um importante fator de risco psicossocial para o desenvolvimento
humano. Como o estudo foi feito no Brasil, não dá para dizer que isso é coisa
de gringo e que não existe (ou não deveria existir) pecado ao Sul do Equador.
O pior para os
"resistentes" do #EleNão
é que essa preocupação dos pais em postergar o início da atividade sexual dos
filhos faz todo sentido evolucionário. Quando as ferramentas estão prontas o
cara quer usá-las. Só que o uso muito precoce das ferramentas desvia recursos
escassos do estudo e qualificação sócio-competitiva (Belsky et al., 1991,
Geary, 2004).
Quanto mais o indivíduo
postergar o início da atividade sexual e quanto mais ele se qualificar sócio-competitivamente,
melhor o seu posicionamento no mercado de casamentos. Maior a chance de
construir um relacionamento sólido, satisfatório e duradouro. Maior a chance do
indivíduo e sua prole se darem bem profissional e socialmente. Não podemos
esquecer que a gravidez na adolescência compromete o desenvolvimento de duas
pessoas. Sendo inclusive fator de risco para problemas do neurodesenvolvimento.
Do ponto de vista moral,
orientar os filhos a postergar o início da vida sexual não é apenas um direito,
mas uma obrigação dos pais.
Essa política da Damares vai
impedir que os adolescentes transem? Claro que não. O objetivo não é coagir
ninguém. O objetivo é sinalizar uma direção moral. As pessoas de bem não têm
direito a votar em governos que implementem políticas consistentes com seus
valores morais?
Precisamos todos nos submeter
aos valores imorais de uma elite de iluminados, oriundos do Leblon ou da Vila
Madalena? Os brasileiros tiveram oportunidade de se pronunciar e disseram #EleSim.
Não seria o caso de perguntar para esses iluminados: “Por que no te callas?
Título e Texto: Vitor Geraldi Haase, Facebook, 30-1-2020
Referências:
Belsky, J., Steinberg, L.,
& Draper, P. (1991). Childhood
experience, interpersonal development, and reproductive strategy: an
evolutionary theory of socialization. Child Development, 62, 647-670.
de Carvalho, G. (2020). A
ideologia dos direitos humanos. Gazeta do Povo, 24 de janeiro
(https://www.gazetadopovo.com.br/…/a-ideologia-dos-direitos-…).
(https://www.gazetadopovo.com.br/…/a-ideologia-dos-direitos-…).
Geary, D. C. (2004). Origin of mind. Evolution
of brain, cognition and general intelligence. Washington, DC: American
Psychological Press.
Reis LF, Surkan PJ, Valente JY, Bertolla MHSM,
Sanchez ZM. Factors associated with early sexual initiation and unsafe sex in
adolescents: Substance use and parenting style. J Adolesc. 2020 Jan 18;79:128-135.
doi: 10.1016/j.adolescence.2019.12.015.
Scruton, R. (2006). Sexual desire: a
philosophical investigation. London: Phoenix.
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