Rafael Salvi
A pandemia do novo coronavírus
colocou a Organização Mundial da Saúde (OMS) no centro dos noticiários.
Políticos do mundo inteiro procuraram esse braço da ONU para obter informações
e aconselhamento político e técnico para a implantação de medidas de combate ao
vírus. Mas quem é o líder dessa organização que está no centro dessa crise
mundial?
Tedros Adhanom Ghebreyesus
venceu a eleição para o cargo de diretor geral da OMS em maio de 2017, quando
conseguiu 133 votos dos 185 Estados-membros habilitados a votar. Ele se tornou
o primeiro africano a liderar a agência da ONU. Embora se apresente como “dr.
Tedros”, o chefe da OMS não é médico, mas tem doutorado em Saúde Pública pela
Universidade de Nottingham, Inglaterra.
![]() |
Filiado a um partido marxista,
o etíope dr. Tedros foi eleito graças ao apoio da China. Sua atuação à frente
da OMS tem sido motivo de críticas. Foto: AFP |
Durante a campanha política,
em seu discurso na Assembleia Mundial da Saúde, o dr. Tedros afirmou que
responderia às emergências futuras “de maneira rápida e eficaz” e estenderia “a
cobertura universal de saúde”.
A OMS recebe dinheiro do mundo
inteiro para ações coordenadas na área de saúde. A organização internacional
teve um orçamento de US$ 4,4 bilhões para o biênio de 2018-2019.
Esse orçamento direciona
recursos para ações de combate a doenças, promoção da saúde e programas
especiais, como a erradicação da pólio. O dinheiro é arrecadado a partir de
contribuições voluntárias ou programadas dos Estados-membros. Apesar do
crescimento da China, os EUA ainda são o maior contribuidor para o fundo.
O orçamento para 2020-2021
ainda não foi fechado.
Cólera
O dr. Tedros é dono de um
passado controverso. Antes de se eleger como diretor da OMS, ele foi acusado de
encobrir três epidemias de cólera em seu país de origem, a Etiópia, quando
ministro da Saúde. O país era então governado por Meles Zenawi, um dos
principais líderes do partido de origem marxista Frente de Libertação do Povo
Tigré (partido que se baseou em experiências da Rússia dos bolcheviques, da
China maoísta e de Ho Chi Minh. Vietnã), ao qual o dr. Tedros é filiado. Zenawi
foi acusado de governar desrespeitando as liberdades civil e impondo uma
cultura de repressão política intolerante às dissidências.
Na ocasião da eleição do dr.
Tedros para o cargo de diretor-geral da OMS, Lawrence O. Gostin, diretor do
Instituo O’Neill de Direito Nacional e Global de Saúde na Universidade
Georgetown e conselheiro do principal adversário do dr. Tedros ao cargo de
diretor da OMS, o britânico dr. David Navarro, chamou a atenção para a longa
história da Etiópia de negar surtos de cólera. Alguns desses surtos ocorreram
sob o olhar do dr. Tedros.
À época, Gostin afirmou que
“ele [dr. Tedros] tinha o dever de dizer a verdade e identificar e relatar
honestamente os surtos de cólera verificados por um período prolongado”. O dr.
Tedros se defendeu dizendo que os surtos, ocorridos em 2006, 2009 e 2011, eram
apenas “diarreia aguda aquosa” em áreas remotas, onde testes laboratoriais “são
difíceis”.
Mas as bactérias de cólera
foram encontradas em amostras de fezes testadas por especialistas externos.
Além disso, os surtos de cólera atingiram também países vizinhos, dando a
entender que a doença se espalhou a partir da Etiópia.
Relação com a China
O dr. Tedros trabalhou
estreitamente com a China durante seu tempo como ministro da Saúde da Etiópia.
O país asiático foi o principal apoiador de sua candidatura para dirigir a OMS
em 2017. Segundo a colunista do Sunday Times Rebecca Myers: “Diplomatas
chineses fizeram uma campanha árdua pelo etíope, usando a influência financeira
de Pequim e o orçamento de ajuda meio obscuro para criar apoio para ele entre
os países em desenvolvimento”. Também Frida Ghitis do Washington Post apontou
para o trabalho incansável nos bastidores de Pequim para ajudar o dr. Tedros a
vencer o candidato do Reino Unido, David Nabarro.
Logo após sua vitória, o dr.
Tedros fez uma visita à China. Durante uma reunião com a ministra da Saúde e
Família, Li Bin, a China assinou uma carta de intenções com a OMS, se dispondo
a contribuir com US$ 20 milhões para a organização.
Alguns meses depois de assumir
a OMS, o dr. Tedros chamou o ex-ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, notório
violador dos direitos humanos, para ser embaixador da Boa Vontade da ONU. Ele
só recuou após um clamor internacional. Isso apontou para uma possível recompensa
política aos 50 estados africanos que ajudaram a garantir sua eleição.
Mas as simpatias do dr. Tedros
pela China vêm de longe. Há pelo menos uma manifestação pública em seu
Facebook, de 5 de dezembro de 2015, quando ainda era ministro das Relações Exteriores
da Etiópia, que comprova isso. “Sob o programa "Go Global" da #China,
esperamos um aumento no fluxo de investimentos chineses para a #Etiópia. Os 8
parques industriais identificados na Etiópia, alguns já em construção,
facilitarão a migração de empresas chinesas para a Etiópia”, escreveu ele. Sem
contar a sua filiação à Frente Democrática Revolucionária do Povo Etíope,
coalizão de partidos inspiração marxista, entre os quais a própria Frente de
Libertação do Povo Tigré já mencionada anteriormente.
Atuação criticada
Hoje, o dr. Tedros enfrenta um
grande desafio em relação à pandemia do novo coronavírus e também está sendo
acusado de ocultar informações e fazer o jogo do Partido Comunista Chinês.
O vice-primeiro-ministro do
Japão, Taro Asos, criticou a OMS por sua “avaliação inadequada para combater o
surto de coronavírus”. De fato, a OMS demorou a alertar o mundo sobre a
periculosidade da doença.
Em 14 de janeiro deste ano,
quando já havia notícias de que o surto do novo coronavírus estava se espalhando
na província Wuhan, na China, a OMS, por meio de seu Twitter oficial,
simplesmente repassou a informação do Partido Comunista Chinês de que “as
investigações preliminares conduzidas pelas autoridade chinesas não encontraram
evidência que novo coronavírus é transmitido entre humanos”.
Em 30 de janeiro, a OMS
informou que “a transmissão do vírus de pessoa para pessoa fora da China era
muito limitada”. O dr. Tedros e sua agência não aconselharam o fechamento de
fronteiras, a limitação de contato social, nada.
Até o dia 11 de fevereiro, a
maior preocupação da instituição era dar um nome para vírus antes que algum
senhor de cabelos laranjas não o ligasse à Wuham ou à China, chamando-o de
chinese virus ou algo do gênero. Assim, a doença recebeu o simpático nome de
Covid-19 - e continuou se alastrando. Só no mês de janeiro, 7 milhões de
pessoas deixaram Wuhan, espalhando o vírus por toda a China e pelo mundo.
Ainda em 3 de fevereiro, o
chefe da OMS clamava aos países para não fecharem as fronteiras para com a
China.
Hoje em dia, a OMS, sob o
comando do dr. Tedros, se limita a divulgar as alegações da China de que o país
reduziu o número de novas infecções a zero. Mas já se sabe que as autoridades
chinesas (que usaram isso como propaganda para exportar o modelo de quarentena
para o mundo) mentiram sobre o tamanho real da epidemia.
As antigas relações entre o
dr. Tedros e a China mostraram-se desastrosas nessa crise do coronavírus. Um estudo
constatou que “se as intervenções na [China] tivessem sido realizadas uma
semana, duas ou três semanas antes, os casos poderiam ser reduzidos em 66%, 86%
e 95%, respectivamente - limitando significativamente a propagação geográfica
da doença”.
A gestão da OMS, por meio de
seu diretor geral, tem se mostrado desacertada até o momento. Já existe na
Internet um abaixo-assinado com 700 mil assinaturas pedindo a renúncia do dr.
Tedros. É bem provável que, após a resolução do surto de Covid-19, a atuação do
dr. Tedros e o papel da OMS como farol da resolução de crises globais de
epidemias sejam revisados.
Título e Texto: Rafael
Salvi, Gazeta do Povo, 3-4-2020 14h31
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-