Rodrigo Constantino
A polarização exacerbada tem
sido tóxica demais em nosso país, alimentada pelo petismo e a reação
bolsonarista, e turbinada pelas redes sociais que fomentam o tribalismo. Diante
disso, surge a demanda por mais diálogos, por construção de pontes, por
alternativas moderadas. Tudo muito bem.
O grande problema é quando
fingem que essa alternativa "moderada" inclui os radicais de
esquerda. Pensemos num FHC da vida: sempre muito disposto a
"conversar" com petistas, mas rejeita qualquer possibilidade de
aproximação com qualquer defensor de Bolsonaro. Este seria a ameaça à
democracia; o petismo não!
E assim vale para 97% da
mídia, para 99% dos intelectuais e para 100% dos tucanos. Eles estão sempre
muito dispostos a buscar entendimento com petistas, com o PSOL, qualquer um,
menos bolsonaristas: esses representam o que há de pior na política nacional.
Vejam o caso de Luciano Huck:
![]() |
Foto: Sandra Blaser |
Importante gestos que desmobilizem a polarização. Por isso enxergo valor em @MarceloFreixo buscar uma postura de convergência. Fortalece a cidadania. Compartilho deste realismo. Não é hora de ideologias q/desmobilizam. É hora de defesa da democracia e contra o autoritarismo.— Luciano Huck (@LucianoHuck) May 18, 2020
Eis aí a esperança dos
"moderados" e dos "radicais de centro"! É tanta
"sofisticação" que acaba no colo do socialismo! Para quem ainda não
entendeu, explico: nossos "liberais" e "conservadores"
querem "moderação", e por isso estão dispostos a "dialogar"
com todos, desde tucanos como FHC até socialistas como Freixo. Só não pode
participar dessa "conversa" qualquer defensor do governo
"fascista".
É essa postura, típica de
"isentão" que na prática defende a esquerda, que tanto alimenta a
base mais radical bolsonarista. Em parte o bolsonarismo é uma reação a essa
hipocrisia, a esse duplo padrão, a essa postura ridícula de quem enxerga enorme
perigo no atual governo, mas dormia tranquilo enquanto o PT tentava levar o
Brasil rumo ao modelo chavista.
Os "radicais de
centro", no afã de derrubar Bolsonaro, aliaram-se a essa turma, e agora
alguns começam a perceber que talvez tenham ido longe demais. O ódio ao
Bolsonaro é tão grande e patológico que acabaram abraçando a esquerda radical e
nem se deram conta.
O problema com Felipe Neto,
segundo eles, seria o de validar o petismo. "Se a luta para derrotar o
Bolsonaro for a luta para reabilitar o PT, não conte comigo". Mas até o
PCdoB e o PDT estariam, segundo essa turma, alterando a fórmula à esquerda, e
portanto viáveis para uma conversa.
O problema para eles, como
fica claro, não é a esquerda em si, nem mesmo a mais radical como o PDT; é só o
PT! O petismo está eternamente indissociável da corrupção, e parece ser esse o
único problema para nossos "liberais". Mas se for uma esquerda, ainda
que radical, sem o petismo, então tudo bem...
O tal "diálogo",
portanto, inclui até mesmo comunistas! Só não tragam Paulo Guedes, pois isso é
inaceitável para os "liberais". E nessa mesma onda de derrubar o
governo atual, custe o que custar, temos parte da imprensa também, como O
Antagonista, que publica manchetes sensacionalistas em nível ainda pior do que
seus donos quando vendem promessas "únicas" de enriquecer rápido na
vida:
Enquanto o "diálogo"
envolver essa turma radical e oportunista, com o que há de pior da esquerda à
exceção do PT, mas deixando de fora qualquer um que não enxerga no governo a
maior ameaça existente ao Brasil, o bolsonarismo vai não só sobreviver, como se
fortalecer. Afinal, nenhum liberal que se preza aceitará esse joguinho podre
entre socialistas e "moderados" que respeitam socialistas, mas
rejeitam Paulo Guedes!
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, Gazeta do Povo, 19-5-2020, 13h12
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