quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Daquela série: Em Caldelas, 1965, "O carrapito da Dona Aurora"

Capítulo anterior:
7º capítulo - descoberta da Ditadura
Em Junho de 1965, vindos de Brazzaville, meus pais chegaram a Luanda. Estiveram lá poucos dias. Embarcamos para Lisboa no Boeing 707 da SABENA alugado pela TAP.
Boeing 707-329 OO-SJM, aeroporto de Heathrow, 1973. Foto: Ray Pettit
Eu estava super contente, ia passar as férias grandes em Portugal!

Foram umas férias inesquecíveis, sim!
Vauxhall Viva
Meu pai alugou um carro, um Vauxhall Viva. 
Mas depois, não sei por quê, trocou por um Ford Taunus. Viajamos por quase todo o norte de Portugal. Adorava ficar em pensões e hotéis. Cidades, vilas, aldeias… para mim era tudo novo e lindão. Só nos “escapou” Viseu, sempre me lembro. Aliás, até hoje não conheço Viseu.
Ford Taunus
Estive com eles em Caldelas, uma estância termal a poucos quilómetros da cidade de Braga. Banhos no rio, passeios com os outros jovens que lá estavam acompanhando os pais, como eu, bailaricos, papos sobre política e uma ou duas bebedeirazinhas…
Um dia, ou melhor, por alguns dias, a Junta de Freguesia/Prefeitura realizou um arraial. O primeiro que vi, e participei. Um barato. As meninas, juntas, claro, vinham. E os rapazes, juntos, claro, iam… Aí, a gente foi para uma tasca e toca-lhe de beber vinho tinto, em tigelas (sim, tigelas!). E lembro-me de as entornar (é, emborcar) enquanto a malta entoava algo como “vira, vira, vira… vira, vira, virou! Ai que ele é da malta!”. Acho que era isso, não lembro bem.
Nesse arraial, duas músicas me ficaram for life, tantas foram as vezes que tocaram. (Acho que só tocavam essas duas). Uma era “O carrapito da Dona Aurora - Conjunto António Mafra”, a outra “Sopas de vinho não embebedam”. (Bem a propósito esta última, well…).
Na nossa “malta” havia um jovem, mais velho do que nós, talvez devesse ter uns 20 anos, que vivia em França. A família dele era de Coimbrões, Vila Nova de Gaia, lembro-me da minha mãe ter informado. Foi esse jovem, de colossal paciência, que me apresentou o mundo mágico do comunismo. Ele ficava “horas” me respondendo, me explicando, contestando minhas afirmações e crenças – de um menino de 14/15 anos. (Eu já gostava de aprender debatendo). Ele me mostrou, na prática e pelo exemplo, a arte do proselitismo. Sempre o lembro como exemplo. Ele era do PCP. Na clandestinidade, claro.

Termas de Caldelas. Foto de José Gonçalves, 24-01-2010
Próximo capítulo:

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