Dr. José Nazar
Dirijo-me a você, jovem
brasileiro, não sem correr o risco de ser chamado de ingênuo, de alguém
ultrapassado, de um desses que não percebe o que está se passando.
Insisto, desejo lhe dizer algo
que julgo de extrema importância: frente a esse momento de turbulência política
e econômica vivida por nosso País peço-lhe, meu caro jovem: Acredite! Acredite
que é possível uma democracia mais saudável, ética, com valores morais e não
moralista, preconceituosa. Ter ideais é próprio do jovem mas, devo lhe
prevenir, todo ideal – seja ele uma ideologia política, religiosa ou outra
qualquer -, é enganador. Apesar disso, é próprio da juventude se sustentar nos
ideais porque eles são a centelha de liberdade da transição da família para o
mundo adulto.
Hoje, como em toda história de
mudança, você é aquele que clama pelo novo, pela verdade, pela queda do
conformismo. Você, meu caro jovem, nos desperta do sono alienado de quem não
acredita mais em mudanças. Portanto, jovem, cabe a você a responsabilidade de
renovar as esperanças adormecidas em nossa comodidade cotidiana, nossa
desesperança por lutar por um Brasil mais justo, que começa com o exemplo de
políticos mais dignos de nos representar.
Mudanças virão pela frente,
passo a passo, mas alguma coisa certamente já se encontra em andamento. Não é
comum alguém se dirigir a um jovem através de uma carta. Sei que você, como
tantos outros, receberá essa mensagem com um certo ar de desconfiança. Afinal,
sempre há aproveitadores de ocasião para fazer valer suas ideias mirabolantes e
perversas, mal-intencionadas, no bojo de um movimento justo e sinceramente
engajado na direção de uma verdadeira mudança para o País. Acredite, você é o
operador das mudanças necessárias para o que está aí! Acredite, mas não se
deixe cooptar pelas forças, oportunistas, que querem se aproveitar da
legitimidade de um movimento para impor velhas decisões cujo único intuito é a
manutenção do poder pelo poder. Reivindiquem um verdadeiro discurso político e
não se deixem conduzir pela politicagem barata que, afinal, custa caro para todos,
ricos e pobres, jovens e velhos: o preço de uma estagnação social, econômica,
política e, porque não, do desejo de cada um.
Se você olhar nos olhos de
seus pais verá que estão sem brilho, tomados de um certo medo do que está por
vir, cansados de promessas jamais realizadas, oprimidos por impostos cuja razão
– serviços – não são justificáveis. A angústia deles é o espelho da situação
incompreensível em que se encontra um País que, sob o olhar estrangeiro, teria
sido “a bola da vez”. No entanto, o País continua com sua velha política
autoritária de infantilizar seu povo, supondo que sabe o que ele precisa, ao
invés de perguntar a todos os segmentos sociais, e não somente a um, suas reais
e legítimas aspirações.
Afinal, não se constrói uma nação apenas distribuindo a renda amealhada com os duros impostos injustificáveis, pagos com o suor do trabalho de muitos. Todos querem um Brasil mais justo porém, este Brasil não pode ser desenhado com as canetadas irresponsáveis daqueles que julgam que o sangue do povo é a boa tinta para seus decretos!
Afinal, não se constrói uma nação apenas distribuindo a renda amealhada com os duros impostos injustificáveis, pagos com o suor do trabalho de muitos. Todos querem um Brasil mais justo porém, este Brasil não pode ser desenhado com as canetadas irresponsáveis daqueles que julgam que o sangue do povo é a boa tinta para seus decretos!
Jovem, queira um País habitado
por seres de desejo e não, infantilizados por bolsas que não resolvem a bagagem
de miséria, desigualdade, etc., de séculos. É sabido que essas abominações só
se resolvem com educação, saúde e serviços de qualidade, mesmo que isso não dê
votos a curto prazo. Um país não se constrói quatro, oito, doze anos de
governo, mas num projeto contínuo de insistência nos valores de base de uma
democracia verdadeiramente voltada para as vozes das ruas onde, afinal, circula
o povo.
As crianças que vivem pelas
ruas sabem muito bem a importância desse espaço de visibilidade. As ruas
margeiam o que está estabelecido e, portanto, são o verdadeiro celeiro de
mudanças na medida em que, em seu território, todos e tudo circula.
Os jovens estão sempre um
passo à frente de seus pais, porque precisam cavar seu lugar nas instituições
vigentes. Por isso, não têm compromisso com os aparelhos que vigoram e, também
por isso, têm mais vigor para brigar pelo justo.
Título e Texto: Dr. José Nazar, Psiquiatra e
psicanalista (Escola Lacaniana de Psicanálise)
Via Rodrigo Constantino, 06-07-2013
Grifos: JP
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