1. Em conversa de amigos neste
último fim de semana (ninguém da política activa, note-se), interrogamo-nos
sobre o fenómeno da possível coexistência, em Portugal, de duas economias ou
mesmo de dois países distintos...
2. Com efeito, será no mínimo muito estranho, para quem esteja atento às notícias que diariamente enchem as páginas dos jornais ou os ecrãs de TV, dando conta de um País em profunda crise, mergulhado na pobreza e na mais total frustração e mesmo depressão social, com relatos de desgraças a toda a hora, em que os cidadãos, quase sem excepção, perdem poder de compra vertiginosamente...
3. ... será no mínimo muito
estranho, dizia, saber que neste mesmo País as exportações de bens e de
serviços estão aumentando mais de 5% e de 15%, que o consumo privado está em
recuperação, que até o investimento privado embora em queda ainda, mostra
sinais de reanimação - como será isso possível?
4. Caberá perguntar, por
exemplo, quem poderão ser os compradores de veículos automóveis, neste
calamitoso estado económico e social, que fizeram as compras em Outubro aumentar
24% e até Outubro 7,5%? Não sendo possível que tenham sido os habitantes
daquele País triste, cada vez mais pobre e deprimido, quem poderá estar por
detrás dessas compras, serão extra-terrestres?
5. Concluímos que a explicação
para estes fenómenos radicalmente antitéticos, só pode ser uma: existem em
Portugal duas economias ou mesmo dois países distintos: (i) um composto por
cidadãos e empresas que trabalham e que produzem riqueza, que consomem bens com
os rendimentos que arduamente obtêm pelo seu trabalho, que não usam greves ou
manifestações de protesto para resolver os seus problemas, que pagam sempre os
seus impostos e taxas (nomeadamente para o áudio-visual), que ajustaram os seus
orçamentos e a sua estrutura organizativa tantas vezes com enormes sacrifícios
para conseguirem sobreviver a tantas dificuldades, nomeadamente as que resultam
de impostos cada vez mais elevados, directos e indirectos...
6. ...e (ii) o outro composto
por gente sempre muito zangada ou frustrada, barafustando por tudo e por nada,
promovendo greves a torto e a direito, realizando manifestações ruidosas na AR
ou fora dela, em que as mensagens dominantes passaram a incluir os insultos
mais desbragados aos responsáveis políticos (incluindo agora o PR como
alvo-mor), que exigem, com toda a arrogância, que o Estado (os nossos impostos,
evidentemente) lhes mantenham todas as regalias mesmo as mais insustentáveis no
plano financeiro...
7. Concluímos também,
infelizmente, que a comunicação social só conhece o segundo país, só esse tem
eco nas notícias, só esse justifica reportagens em directo (horas a fio “se
necessário”), só esse tem audiência garantida, só esse merece atenção...
8. Concluímos ainda quão
importante seria separar formal e juridicamente estes dois países, de modo a que
cada um se pudesse governar a si próprio: cada um com a sua Constituição, mas
deixando o primeiro de funcionar como fonte alimentadora do segundo...com a
vantagem adicional de o primeiro poder continuar no Euro e o segundo poder
escolher a sua própria moeda...
9. Não seriam ambos muito mais
felizes?
Título e Texto: Tavares Moreira, “4R – Quarta República”, 04-11-2013
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