Reinaldo Azevedo
Nesta segunda, Antônio Campos
— irmão de Eduardo Campos, filiado ao PSB e primeiro membro da família do então
presidenciável do partido a declarar apoio a Marina Silva depois da tragédia —
anunciou no Facebook seu apoio à candidatura do tucano Aécio Neves à
Presidência. Deixou claro que era uma posição pessoal — como fez, de resto,
quando ungiu Marina à condição de sucessora do irmão na chapa. Mas parece
evidente que, dada a forma como os Campos têm se comportado depois da morte do
líder político, atrás do apoio de Antônio, virão o de Renata, a viúva do
ex-governador, e o dos filhos, que se transformaram em personagens políticos
importantes em Pernambuco. Se alguém tiver alguma dúvida, basta ver a razia que
o clã promoveu nas ambições petistas no Estado.
Pernambuco se mostrou um
prodígio de alinhamento com a memória de Eduardo Campos. Paulo Câmara, dias
antes do acidente que matou o candidato do PSB à Presidência, amargava 13% nas
intenções de voto para o governo do Estado. Com o apoio do PT, Armando Monteiro
(PTB), indicavam as pesquisas, seria eleito no primeiro turno. O petista João
Paulo mantinha liderança folgada para o Senado. Um pouco mais de um mês e meio
depois, Câmara bateu Monteiro no primeiro turno por impressionantes 68,08% a
31,07%, e João Paulo foi derrotado por Fernando Bezerra na disputa pelo Senado
por 64,34% a 34,8%. Marina, uma estranha no ninho até a morte de Campos, bateu
Dilma no Estado 48,05% a 44,22%.
A adesão da família Campos
certamente facilitará a decisão já tomada de Marina de apoiar Aécio. Ela vai,
sim, apresentar, uma agenda mínima ao tucano, que contempla o fim da reeleição,
um compromisso com a educação integral e a adoção de medidas em favor da
sustentabilidade — nada que seja estranho ao conjunto de valores que ele tem
expressado em sua campanha. De qualquer modo, a decisão da Rede já está
praticamente tomada, e quem a sintetiza, em conversa com a Folha, é João Paulo
Capobianco, um dos coordenadores do futuro partido de Marina e de sua campanha:
“A avaliação é que não dá para ter mais quatro anos desse governo. Isso é ponto
pacífico. O nosso compromisso é com o movimento de mudança”.
Marina preferiria que o
movimento fosse feito em conjunto com o PSB, hoje presidido por Roberto Amaral,
um lulista fanático. O coração de Amaral bate por Dilma Rousseff, mas ele
tentará arrancar do partido uma posição de neutralidade — e olhem que Márcio
França, seu correligionário, é o vice-governador eleito de São Paulo, na chapa
encabeçada por um tucano. Como os petistas são quem são, emissários do partido
têm tentado se aproximar de Marina, mas o esforço, consta, será inútil.
Pessoas que conhecem a líder
da Rede afirmam que ela realmente não esperava que o PT a atacasse com tanta
violência; achava que a campanha seria dura, sim, mas não desleal. Parte de seu
abatimento, que ficou muito evidente nas duas semanas que antecederam a
disputa, se deveu à brutalidade da investida. Ela contava com oposição firme a
algumas de suas propostas, mas não esperava que tentassem desconstruir a sua
imagem e a sua biografia. Talvez ela desconhecesse a alma profunda do partido
no qual ficou tanto tempo.
Marina e os Campos juntos, formam,
sim, um apoio importante à candidatura de Aécio Neves, que terá de enfrentar
uma pauleira. Nesta segunda, o tucano já respondeu à investida da adversária,
Dilma Rousseff, segundo quem o país não pode andar para trás, rumo aos
“fantasmas do passado”. O presidenciável do PSDB devolveu: o problema dos
brasileiros, hoje, são os fantasmas do presente.
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