domingo, 2 de outubro de 2016

Crivella nunca, Freixo jamais

Mario Vitor Rodrigues

Não que eleitores paulistas, mineiros, baianos ou gaúchos tenham motivos para festejar, longe disso, porém nada se compara ao drama que aflige o carioca em época de eleição. Podem apostar, logo mais, enquanto milhões de brasileiros despertarão acabrunhados, desgostosos por terem de pinçar o candidato menos pior, o cidadão fluminense esbanjará o tédio dos veteranos. 

Freixo e Crivella se encontram em restaurante na Feira de São Critóvão. Foto: Marcello Corrêa
É como se vivêssemos em um pequeno Brasil: somos capazes de enaltecer facínoras, de eleger e reeleger mentecaptos, de endeusar demagogos e de nutrir xodó por hipócritas do mais alto gabarito. Sem falar na auto-estima inexplicavelmente elevada, uma arrogância que se confunde com orgulho pelas belezas naturais e a malemolência digna dos irresponsáveis.

Afora os cabos eleitorais de sempre, na prática espantalhos que há tempos ninguém mais percebe, anotem aí, as primeiras horas deste domingo serão preenchidas pelos ruídos típicos de qualquer manhã carioca: bocejos e o arrastar de chinelos. Votar mal, muito mal, como manda a nossa tradição, antecederá o pão ou o frango de padaria, sem rivalizar com o primeiro chope.

E estaria tudo certo, desgraçadamente dentro do script, considerando nossa vesga maneira de enxergar o que é melhor para a cidade, se desta vez não corrêssemos o sério risco de levar o Rio para um caminho jamais contemplado.

Digo, mesmo para o nosso rasteiro padrão de exigência, responsável por fincar aqui a bandeira do brizolismo e coroar toda a sorte de patifes, capaz de paternalizar o crime e gestar o populismo, nunca estivemos tão próximos de cair em uma armadilha sem chances de retorno como agora.

É exatamente o que acontecerá se Crivella e Freixo passarem para o segundo turno.

O panorama nunca foi tão claro. Não quando contempla um bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, que forjou sua carreira política na fé alheia, de quebra com a inestimável ajuda de seu tio, o bispo Edir Macedo. Menos ainda se este enfrentaria um socialista que reiteradas vezes posicionou-se favorável a vândalos potencial e comprovadamente assassinos; cujo partido tem em sua filosofia justificar todos os meios para atingir os fins desejados.

Permitir que a dupla de Marcelos dispute a prefeitura, diga-se, não apenas sentenciaria o Rio a um retrocesso inimaginável, pela radicalização do populismo que fatalmente promoveria, mas abriria as portas para que a própria esquerda, em âmbito nacional, retomasse uma relevância tão perigosa quanto imerecida.

E, não se iludam, tanto Crivella prefere enfrentar Freixo, pois sabe que venceria com folga graças ao voto anti-esquerda, quanto o candidato psolista prefere enfrentar o bispo. O entrosamento que demonstraram nos debates não é teatro. Já se reuniram algumas vezes e a esquerda sabe que, dentro de certos limites, terá entrada caso Marcelo Crivela seja eleito.

Infelizmente, a opção que restou ao carioca não fugiu à regra histórica. Pedro Paulo não merece, por mérito, voto de confiança algum. O episódio de violência doméstica é grotesco, assim como corja de guardanapos na cabeça que, não é de hoje, infesta essa cidade, provoca engulhos em qualquer um com um pingo de decência.

Mas moralidade, como é de praxe, não consta no cardápio, e em um país onde o voto é obrigatório às vezes é preciso tampar o nariz e fazer o que é certo.
Título e Texto: Mario Vitor Rodrigues, Blog do Noblat, O Globo, 1-10-2016

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