Mario Vitor Rodrigues
Não que eleitores paulistas,
mineiros, baianos ou gaúchos tenham motivos para festejar, longe disso, porém
nada se compara ao drama que aflige o carioca em época de eleição. Podem
apostar, logo mais, enquanto milhões de brasileiros despertarão acabrunhados,
desgostosos por terem de pinçar o candidato menos pior, o cidadão fluminense
esbanjará o tédio dos veteranos.
Freixo e Crivella se encontram
em restaurante na Feira de São Critóvão. Foto: Marcello Corrêa
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É como se vivêssemos em um
pequeno Brasil: somos capazes de enaltecer facínoras, de eleger e reeleger
mentecaptos, de endeusar demagogos e de nutrir xodó por hipócritas do mais alto
gabarito. Sem falar na auto-estima inexplicavelmente elevada, uma arrogância
que se confunde com orgulho pelas belezas naturais e a malemolência digna dos
irresponsáveis.
Afora os cabos eleitorais de
sempre, na prática espantalhos que há tempos ninguém mais percebe, anotem aí,
as primeiras horas deste domingo serão preenchidas pelos ruídos típicos de
qualquer manhã carioca: bocejos e o arrastar de chinelos. Votar mal, muito mal,
como manda a nossa tradição, antecederá o pão ou o frango de padaria, sem
rivalizar com o primeiro chope.
E estaria tudo certo,
desgraçadamente dentro do script, considerando nossa vesga maneira de enxergar
o que é melhor para a cidade, se desta vez não corrêssemos o sério risco de
levar o Rio para um caminho jamais contemplado.
Digo, mesmo para o nosso
rasteiro padrão de exigência, responsável por fincar aqui a bandeira do
brizolismo e coroar toda a sorte de patifes, capaz de paternalizar o crime e
gestar o populismo, nunca estivemos tão próximos de cair em uma armadilha sem
chances de retorno como agora.
É exatamente o que acontecerá
se Crivella e Freixo passarem para o segundo turno.
O panorama nunca foi tão
claro. Não quando contempla um bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, que
forjou sua carreira política na fé alheia, de quebra com a inestimável ajuda de
seu tio, o bispo Edir Macedo. Menos ainda se este enfrentaria um socialista que
reiteradas vezes posicionou-se favorável a vândalos potencial e comprovadamente
assassinos; cujo partido tem em sua filosofia justificar todos os meios para
atingir os fins desejados.
Permitir que a dupla de Marcelos
dispute a prefeitura, diga-se, não apenas sentenciaria o Rio a um retrocesso
inimaginável, pela radicalização do populismo que fatalmente promoveria, mas
abriria as portas para que a própria esquerda, em âmbito nacional, retomasse
uma relevância tão perigosa quanto imerecida.
E, não se iludam, tanto
Crivella prefere enfrentar Freixo, pois sabe que venceria com folga graças ao
voto anti-esquerda, quanto o candidato psolista prefere enfrentar o bispo. O
entrosamento que demonstraram nos debates não é teatro. Já se reuniram algumas
vezes e a esquerda sabe que, dentro de certos limites, terá entrada caso
Marcelo Crivela seja eleito.
Infelizmente, a opção que
restou ao carioca não fugiu à regra histórica. Pedro Paulo não merece, por
mérito, voto de confiança algum. O episódio de violência doméstica é grotesco,
assim como corja de guardanapos na cabeça que, não é de hoje, infesta essa
cidade, provoca engulhos em qualquer um com um pingo de decência.
Mas moralidade, como é de
praxe, não consta no cardápio, e em um país onde o voto é obrigatório às vezes
é preciso tampar o nariz e fazer o que é certo.
Título e Texto: Mario Vitor
Rodrigues, Blog do Noblat, O Globo, 1-10-2016
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